MANASEE WAGH | Popular Mechanics
Estamos sozinhos no universo?
Provavelmente não, dizem um grupo de cientistas que acreditam que há uma boa chance de existirem alienígenas habitando outros planetas fora do nosso sistema solar. Essa ideia é controversa porque contradiz uma hipótese amplamente aceita de 1983, que afirma que a vida inteligente na Terra é o resultado único de uma série de cenários improváveis que aconteceram de forma perfeitamente sincronizada — essencialmente, uma espécie de sorte cósmica. Em vez disso, os pesquisadores sugerem que os processos evolutivos que levaram à criação de formas de vida inteligente, como os seres humanos, podem ter sido um resultado previsível não apenas para nós em nosso planeta, mas também para formas de vida extraterrestre em outros mundos.
De acordo com o amplamente aceito modelo dos “passos difíceis” da evolução inteligente, que surgiu a partir de teorias da astrofísica, a probabilidade de a vida humana evoluir se baseia em uma série de “passos difíceis”. No cerne dessa hipótese, está a ideia de que, apesar da vida planetária precisar de uma estrela próxima como fonte de energia, o tempo necessário para os humanos evoluírem na Terra, em relação à vida útil total do Sol, indica que nossa origem foi improvável. O modelo dos passos difíceis também prevê a aparente raridade da vida inteligente no universo.
Mas pesquisadores da Universidade Penn State, da Universidade de Munique, na Alemanha, e da Universidade de Rochester, em Nova York, publicaram um estudo que derruba essa ideia. Em vez disso, o modelo interdisciplinar desenvolvido por eles integra conhecimentos de astrofísica, geociências, paleontologia e biologia para criar uma visão mais abrangente e detalhada sobre como a vida surge e evolui em um planeta como a Terra. A equipe publicou seus resultados em 14 de fevereiro, na revista Science Advances.
Em vez de basear o estudo na vida útil do Sol, os pesquisadores afirmam que nossa origem — e a de outras formas de vida inteligente no universo — pode ter sido um resultado natural das mudanças nos fatores ambientais do nosso planeta. Esses fatores incluem elementos essenciais para a vida, como a temperatura da superfície do mar, os níveis de salinidade dos oceanos e a quantidade de oxigênio na atmosfera. Em diferentes momentos da história da Terra, a convergência de vários fatores ambientais abriu “janelas” de oportunidade para que a vida evoluísse e prosperasse, segundo o estudo. Esse modelo alternativo “sugere que a evolução da vida complexa pode estar menos relacionada à sorte e mais à interação entre a vida e seu ambiente, o que abre novas e empolgantes possibilidades de pesquisa em nossa busca para entender nossas origens e nosso lugar no universo”, afirma Jennifer Macalady, Ph.D., geocientista da Penn State e coautora do artigo, em um comunicado à imprensa.
"Em outras palavras, os seres humanos talvez não tenham precisado de “uma série de golpes de sorte” para estarem aqui hoje, diz Dan Mills, Ph.D., pesquisador da Universidade Ludwig Maximilian de Munique e autor principal do artigo. Os humanos surgiram “no momento certo”, com base no desenvolvimento do nosso planeta, explica ele, “e talvez outros planetas consigam atingir essas condições de forma mais rápida do que a Terra conseguiu, enquanto outros podem demorar ainda mais”.
Os pesquisadores planejam testar esse novo modelo de várias maneiras. Por exemplo, investigar as atmosferas de planetas fora do nosso sistema solar pode revelar bioassinaturas, como a presença de oxigênio. Isso poderia indicar a existência de formas de vida que produzem ou consomem oxigênio. No nosso planeta, por exemplo, as grandes quantidades de oxigênio que permitiram o surgimento da vida multicelular só apareceram depois que populações massivas de cianobactérias surgiram, cerca de 2,5 bilhões de anos atrás, e começaram a produzir oxigênio — e um processo semelhante pode estar ocorrendo em outros lugares. Os cientistas também querem testar o próprio modelo dos “passos difíceis”, expondo formas de vida unicelulares e multicelulares a condições ambientais desafiadoras, como níveis mais baixos de oxigênio e temperatura, para ver como elas se adaptam. Talvez a forma como esses organismos respondem revele que, na prática, o modelo dos “passos difíceis” nem seja tão difícil assim.
Se for esse o caso, seria mais um argumento a favor da ideia de que a vida — e talvez até mesmo a vida inteligente, como a nossa — pode ter surgido várias vezes ao longo do universo.