Um estudo recente, publicado na revista Nature Ecology & Evolution, trouxe uma nova perspectiva sobre a origem da vida na Terra, despertando reflexões intrigantes sobre a existência de vida em outros planetas.
Sob a liderança do Dr. Edmund Moody, os pesquisadores conseguiram reconstruir o genoma do Último Ancestral Comum Universal (LUCA, na sigla em inglês), um organismo que viveu cerca de 4,2 bilhões de anos atrás.
Este período coincide com apenas algumas centenas de milhões de anos após a formação da Terra, indicando que a vida não apenas emergiu de forma rápida, mas também alcançou um nível notável de complexidade em um intervalo de tempo relativamente curto.
Até então, acreditava-se que os primeiros organismos eram extremamente simples. Porém, a nova análise do LUCA revela que ele tinha um genoma surpreendentemente complexo, com cerca de 2.657 proteínas e aproximadamente 2,75 milhões de bases, comparável ao de procariontes modernos. Essa complexidade inclui sistemas metabólicos sofisticados, como a Rota de Wood-Ljungdahl, um processo avançado que permite a obtenção de energia a partir de hidrogênio e dióxido de carbono.
Além disso, o LUCA apresentava uma surpreendente flexibilidade metabólica, sendo capaz de produzir suas próprias moléculas (autotrofia) e também de aproveitar compostos originados por outros organismos (heterotrofia). Há indícios de que ele possuía um sistema imunológico rudimentar semelhante ao CRISPR-Cas, o que aponta para um ecossistema competitivo e dinâmico já nos primórdios da vida na Terra.
"Essa descoberta não apenas redefine a história evolutiva da Terra, mas também desperta uma questão crucial: se a vida aqui atingiu tal nível de complexidade em um período tão curto, seria possível que fenômenos semelhantes ocorram em outros mundos?
A recente detecção de moléculas orgânicas e água em exoplanetas, como K2-18 b e WASP-39 b, pelo telescópio espacial James Webb, fortalece a teoria de que os ingredientes essenciais para a vida são comuns no universo. Com apenas 2,5 bilhões de anos, K2-18 b poderia ser “maduro” o suficiente para sustentar formas de vida complexas.
Modelos baseados nesses achados sugerem que até Marte, formado na mesma época que a Terra, pode ter desenvolvido micro-organismos primitivos durante seu período habitável.
Este trabalho desperta questões fascinantes: Quais fatores externos impulsionaram o rápido desenvolvimento do LUCA? Seria a competição entre organismos? A presença de moléculas específicas no ambiente primordial? Ou, quem sabe, o impacto de cometas carregados de compostos orgânicos?
Com missões em andamento, como as do telescópio Webb, a Europa Clipper, e os futuros esforços para explorar Marte e outros corpos celestes, estamos mais próximos do que nunca de responder a perguntas que, até pouco tempo atrás, pertenciam exclusivamente à ficção científica.