Três décadas depois de uma tarde que mudou para sempre a história de Varginha, no Sul de Minas Gerais, a cidade se prepara para transformar em ponto turístico o terreno onde, em 1996, três jovens afirmaram ter visto uma criatura “de olhos vermelhos e corpo marrom” encostada em uma parede. A prefeitura finalizou a negociação do local, no bairro Jardim Andere, e trabalha em um projeto que pretende manter o espaço o mais próximo possível de como era no dia do suposto avistamento.
“Já havia algum tempo que a gente estava negociando com o dono do terreno. Inicialmente, ele não quis vender… Mas as pessoas têm uma curiosidade muito grande”, contou Rosana Carvalho, secretária municipal de Turismo. “Até que no ano passado conseguimos negociar com o proprietário uma permuta.”
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A expectativa é que o espaço seja inaugurado em 20 de janeiro de 2026, marco de 30 anos do caso que alçou o município ao mapa mundial da ufologia.
Segundo Rosana, a ideia é remover os muros atuais e instalar uma estrutura que permita ao visitante visualizar o local original sem descaracterizá-lo. Estuda-se a instalação de grades ou mirantes para selfies, mas o acesso ao interior do terreno será restrito.
“A ideia é derrubar o muro, mas preservar o espaço, que é isso que as pessoas querem. Pretendemos fazer uma réplica da situação que elas contaram, colocando todos os detalhes ali. Estamos estudando as opções desse próximo projeto com artistas plásticos.”
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Na época, a repercussão foi imediata. O caso motivou investigações, reportagens e até zombarias nacionais, como no programa Casseta & Planeta. Mas com o tempo, Varginha abraçou o ET como parte de sua identidade. Estátuas do suposto alienígena espalham-se por praças, logradouros e até na icônica caixa d’água em forma de disco voador, que pisca com luzes coloridas à noite.
O Memorial do ET, inaugurado em novembro de 2022, tornou-se uma das atrações mais visitadas da cidade. Em apenas 20 meses, recebeu mais de 60 mil pessoas de todos os estados brasileiros e de 40 países.
“O número de turistas aumenta cada vez mais. Isso mostra que realmente o caso é muito importante. Atrai turistas do mundo inteiro”, explica Renata Silveira Lemos, coordenadora do espaço.
O diretor americano James Fox, conhecido por obras sobre ufologia, esteve em Varginha no início de 2025 para gravar novos depoimentos para uma versão ampliada do documentário Moment of Contact. Segundo ele, novos relatos surgiram, inclusive de profissionais da área médica.
“O que acabamos de ouvir em Varginha não foi anonimamente. Isso simplesmente tomou conta de minha mente. Se for verdade, é a coisa mais incrível que já ouvi”, afirma Fox. “Acabamos de entrevistar quatro pessoas pela primeira vez contando suas versões, revelando suas identidades. São absolutamente confiáveis.”
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Fox acredita que um vídeo com a suposta criatura viva pode emergir em algum momento. “Acho que o vídeo, seja do Exército ou da comunidade médica, vai vazar em algum momento. Estou convencido disso.”
Para o ufólogo Marco Leal, de 39 anos, que colabora com Fox, o número de relatos e documentos fortalece a hipótese de que algo realmente extraordinário aconteceu naquele dia.
“O caso Varginha possui tantos testemunhos que acho que seria impossível tantas pessoas mentirem”, sustenta. “Estivemos de frente com o militar que fez o transporte da criatura do Hospital Humanitas para a ESA e, no dia seguinte, para Campinas.”
Leal destaca ainda a importância do relato das três jovens — Liliane, Valquíria e Kátia — que, segundo ele, nunca mudaram uma vírgula do que disseram em 1996. Kátia, hoje com 50 anos, chegou a aceitar participar da reportagem, mas não retornou os contatos. As irmãs, por sua vez, participam esporadicamente de eventos, mas raramente concedem entrevistas.

Com o fortalecimento do turismo ufológico, a prefeitura criou a Rota do ET, um circuito com totens explicativos em locais associados ao suposto trajeto da criatura: da fazenda onde teria caído a nave até os hospitais por onde teria passado, antes de ser levada por caminhões militares à Escola de Sargentos das Armas, em Três Corações.
“A rota informa que ele esteve no Hospital Regional e depois no Humanitas. Conta sobre todos os lugares por onde supostamente o ET passou”, explica Renata Lemos.
No Memorial, o momento do avistamento é reconstituído com uma escultura em tamanho real e efeitos especiais, como fumaça verde. “A Valquíria, uma das testemunhas, disse que é a escultura mais próxima do que realmente viu”, conta Renata.
Além do apelo ufológico, o caso despertou a criatividade local. O artista plástico Gleiber Piva criou uma versão infantil do ET com três protuberâncias na cabeça que representam grãos de café — principal produto da economia de Varginha.
“A gente trabalha com essa parte do lúdico no turismo para que as crianças possam participar do momento do ET. Os nossos produtos são o café e o ET”, diz o artista.
Na papelaria de Adriana Guimarães, no centro, o ET virou sucesso de vendas. “Temos uma variedade de produtos, como o ET em 3D, feito na pedra, e em formato de garrafinha. O bonequinho com camisa de time é o mais procurado”, comenta. “O que mais me perguntam é: ‘Foi verdade mesmo?’”
Apesar das investigações do Exército e de um inquérito militar terem considerado o caso como infundado, o impacto em Varginha foi real. Congressos, suvenires, arte urbana e o Memorial mantêm vivo o episódio, que é apontado por especialistas como o maior caso ufológico do Brasil — e, para alguns, do mundo.
“Você acaba absorvendo muito isso. Acredito piamente no ET”, afirma Gleiber. “Varginha é conhecida mundialmente como a cidade do ET”, reforça Rosana Carvalho, da secretaria de Turismo.
E mesmo que ninguém espere ver novamente o protagonista da história, ele permanece presente em cada esquina da cidade — nas esculturas, nas histórias e no imaginário coletivo de Varginha.