No cenário arqueológico que envolve as pirâmides de Gizé, um enigma que persiste em nossas mentes pode finalmente estar próximo de uma solução.
A descoberta de um antigo braço do Nilo, agora seco, revelou-se crucial para a compreensão de como os egípcios antigos transportavam os enormes blocos de pedra e coordenavam o trabalho necessário na construção desses icônicos monumentos.
O estudo, conduzido pela Dra. Eman Ghoneim, oferece uma perspectiva inovadora sobre a logística por trás da construção das pirâmides, sugerindo que um curso d’água extinto, denominado Ramo Ahramat, desempenhou um papel vital nesse processo.
Em uma entrevista ao portal IFLScience, a Dra. Ghoneim enfatizou a importância desse achado, afirmando que “se há pirâmides em toda parte nessa área específica, deve ter havido no passado corpos d’água que transportaram ou facilitaram o transporte de pedras e de um grande número de trabalhadores para esses locais”.
O desafio de identificar a localização exata desse braço do Nilo foi superado por meio de uma abordagem inovadora. Utilizando dados de satélite de radar, Ghoneim mapeou o Vale do Nilo do espaço, revelando um leito de rio seco que percorre o deserto e terras agrícolas por cerca de 100 quilômetros.
"A Dra. Ghoneim esclarece que “o comprimento provavelmente era muito, muito longo, mas também a largura desse braço em algumas áreas era enorme, estamos falando de meio quilômetro ou mais em termos de largura, o que equivale à largura atual do curso do Nilo.”
“Então não era um ramo pequeno. Era um ramo importante.”
![ilustração que revela como as calçadas e os portos das pirâmides se alinham perfeitamente com o antigo braço do Nilo](https://assets.iflscience.com/assets/articleNo/71776/iImg/72383/pyramids-ancient-nile-branch-l.webp)
Denominado Ramo Ahramat, esse curso d’água passa por 38 locais diferentes de pirâmides, indicando uma possível rota de transporte para os materiais de construção e trabalhadores.
A pesquisa avança com planos para analisar núcleos de solo do leito do rio antigo, a fim de determinar se estava ativo durante os Reinos Antigo e Médio, períodos-chave há 3.700 a 4.700 anos, quando as pirâmides foram erguidas.
Apesar de não haver confirmação definitiva até o momento, indícios sugerem que o Ramo Ahramat desempenhou um papel crucial na construção das pirâmides.
A Dra. Ghoneim destaca que “a maioria dessas pirâmides costumava ter uma calçada que terminava normalmente com o que chamamos de templo do vale, que é como um porto antigo”, e muitos desses templos estão “localizados exatamente na margem do ramo que encontramos”.
Além de fornecer novos insights sobre a construção das pirâmides, a pesquisa sobre os antigos braços do Nilo pode abrir novos caminhos para a arqueologia no Egito Antigo.
“Com o tempo, o curso principal do Nilo migrou – em algumas áreas para o leste, em outras para o oeste – porque os rios sempre fazem isso”, explicou Ghoneim.
“À medida que as ramificações desapareciam, as cidades e vilas do Egito Antigo também se assoreavam e desapareciam, e não temos a menor ideia de onde encontrá-las.” Segundo ela, ao seguir o curso dos antigos cursos d’água, os pesquisadores têm mais chances de descobrir esses antigos assentamentos, o que ajudará a “entender nossa história, a herança egípcia”.
A pesquisa foi apresentada no 13º Congresso Internacional de Egiptólogos.