A Grande Esfinge de Gizé, um dos monumentos mais icônicos do Egito Antigo, há muito tempo despertou a curiosidade e o fascínio dos arqueólogos e estudiosos. Tradicionalmente atribuída à habilidade dos antigos egípcios, uma nova perspectiva sugere que as forças naturais, em particular o vento, desempenharam um papel crucial na formação dessa majestosa estrutura. Este artigo explora as recentes descobertas que lançam luz sobre a possível origem erosiva da Esfinge.
Ventos da História
Pesquisadores, liderados pelo físico experimental e matemático aplicado Leif Ristroph, da Universidade de Nova York, conduziram experimentos de dinâmica de fluidos. Os resultados indicam que a forma distintiva da Esfinge, representando um “leão reclinado”, poderia ter sido esculpida pela ação do vento, e não por mãos humanas. Esta teoria não é nova, remontando à década de 1980 com as sugestões de Farouk El-Baz, ex-geólogo da NASA.
“Os antigos engenheiros podem ter optado por remodelar sua cabeça à imagem de seu rei”, escreveu El-Baz em 2001. “Eles também lhe deram um corpo convincentemente parecido com o de um leão, inspirado em formas que encontraram no deserto. Para isso, tiveram que cavar um fosso ao redor da saliência natural.”
“Nossas descobertas oferecem uma possível ‘história de origem’ de como as formações semelhantes à Esfinge podem surgir da erosão”, diz o físico experimental e matemático aplicado Leif Ristroph, da Universidade de Nova York.
“Nossos experimentos de laboratório mostraram que formas surpreendentemente parecidas com as da Esfinge podem, de fato, vir de materiais sendo erodidos por fluxos rápidos.”
"Experimentos Reveladores
Ristroph e sua equipe conduziram experimentos de laboratório nos quais submeteram pedaços de argila a correntes de água de fluxo rápido, simulando as condições da área há 4.500 anos, a idade estimada da Esfinge. Os resultados surpreendentemente assemelham-se a formações rochosas conhecidas como yardangs, sugerindo que ventos rápidos podem ter desempenhado um papel significativo na escultura da Esfinge.
“De fato, existem hoje yardangs que se parecem com animais sentados ou deitados, o que corrobora nossas conclusões”, diz Ristroph.
Erosão em Ação
As yardangs, pedaços de pedra torcidos frequentemente encontrados em regiões desérticas, são moldados pela erosão causada pelo vento que transporta areia. No caso da Esfinge, as características da rocha, a força, o ângulo e a frequência do vento colaboraram para criar saliências, cantos e texturas irregulares.
A área abaixo da cabeça e o pescoço revelam sinais evidentes de alta tensão de cisalhamento e taxa de erosão, indicando a possível influência erosiva do vento na formação da Esfinge.
“Esses efeitos combinados poderiam explicar a alta tensão de cisalhamento local e a alta taxa de erosão logo abaixo da cabeça e, portanto, por que o entalhe forte escava o pescoço e revela as patas”, explicam os pesquisadores em seu artigo.
Sobrevivência às Intempéries
A ideia de que a Esfinge foi moldada pela natureza ressalta a inteligência dos antigos egípcios ao adaptar suas construções ao ambiente hostil do deserto. A escolha de uma forma que canalizava os ventos e minimizava os efeitos da erosão demonstra uma profunda compreensão da interação entre o homem e a natureza. Sem esse conhecimento, argumenta-se que monumentos egípcios, independentemente de sua grandiosidade, teriam sucumbido à erosão eólica.
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“Se os antigos tivessem construído seus monumentos no formato de um cubo ou um retângulo”, observou El-Baz, “eles teriam sido apagados pela devastação da erosão eólica há muito tempo”.
Conclusão
A Grande Esfinge de Gizé, por muito tempo vista como um testemunho da habilidade humana, revela agora uma possível colaboração entre a destreza dos antigos egípcios e as forças implacáveis da natureza.
As recentes descobertas destacam a importância da dinâmica de fluidos e da erosão eólica na formação de monumentos históricos. A Esfinge, majestosa e enigmática, continua a desafiar as noções convencionais sobre sua origem, acrescentando mais um capítulo intrigante à história do Egito Antigo.
Essa pesquisa foi publicada na Physical Review Fluids.