Os buracos negros são notórios por sua magnitude gravitacional, capazes de engolir estrelas, planetas e até mesmo outros buracos negros.
Contudo, surge a indagação se um buraco negro teria a capacidade de consumir o universo em sua totalidade, fragmento por fragmento.
Em síntese, não há embasamento para que um buraco negro pudesse devorar o universo ou mesmo uma galáxia inteira, de acordo com os estudos da NASA. A seguir, apresentaremos as razões que corroboram essa conclusão.
Os buracos negros são objetos astrofísicos resultantes do colapso gravitacional de estrelas massivas, adquirindo uma densidade incompreensivelmente alta, conhecida como singularidade, na qual até mesmo a luz é incapaz de escapar.
A concepção de que um buraco negro possa devorar o universo decorre de um equívoco, considerando-os como aspiradores cósmicos que atraem e absorvem o espaço circundante em direção a si mesmos.
"Entretanto, de acordo com as declarações de Gaurav Khanna, físico especializado em buracos negros da Universidade de Rhode Island, essa suposição não se sustenta.
“Buracos negros só engolem objetos extremamente próximos”, afirmou Khanna. De fato, buracos negros só podem devorar objetos que adentram seu horizonte de eventos – o ponto de não retorno de um buraco negro, além do qual não há escape possível.
Por exemplo, o horizonte de eventos para um buraco negro com massa equivalente à do Sol apresentaria um raio de apenas 2 milhas (3 quilômetros). Já para um buraco negro com massa equivalente à da Terra, o horizonte de eventos seria de apenas alguns centímetros, aproximadamente do tamanho de uma polegada, conforme destacado por Khanna.
Apesar dessas dimensões restritas, a gravidade de um buraco negro ainda exerce influência sobre as estrelas e planetas em sua proximidade, podendo até mesmo induzi-los a entrar em órbita, como é observado no caso do buraco negro situado no centro da Via Láctea.
O professor de astronomia da Universidade de York, Paul Delaney, ofereceu um exemplo elucidativo em um artigo para o site da instituição acadêmica: “Se o nosso próprio Sol se transformasse (milagrosamente) em um buraco negro com a mesma massa, nosso planeta não perceberia nenhuma mudança na força gravitacional atuante sobre ele e continuaria em sua mesma órbita”, afirmou ele.
“Certamente ficaria muito escuro e frio, mas a gravidade do buraco negro a essa distância não seria motivo de preocupação.”
É igualmente relevante notar que os buracos negros são objetos relativamente pequenos, conforme ressaltado por Alexei Filippenko, especialista em buracos negros da Universidade da Califórnia, Berkeley, em suas considerações ao portal Live Science.
A fim de que um buraco negro tenha uma probabilidade razoavelmente elevada de consumir uma estrela, é necessário que a estrela em questão esteja orientada quase que diretamente em direção ao buraco negro.
Ao longo do tempo, esse tipo de “alvo cósmico” pode ocorrer. Contudo, para que o Sol seja absorvido pelo buraco negro localizado no centro da Via Láctea, por exemplo, seria requerido um “verdadeiramente imenso período de tempo” para que a órbita da estrela se alinhasse de maneira precisa com o buraco negro, conforme explicado por ele.
Mesmo o maior buraco negro conhecido no universo, denominado TON 618, uma entidade cósmica de proporções titânicas estimada em cerca de 40 bilhões de massas solares, aparenta estar em estreita proximidade com o limite teórico de sua magnitude.
Esse limite deriva da capacidade dos buracos negros maiores de se alimentarem de matéria, acarretando na emissão de uma grande quantidade de radiação.
Essa radiação aquece e ioniza a matéria circundante, dificultando o resfriamento e o colapso do gás e da poeira no interior do buraco negro, resultando em uma redução na taxa de alimentação.
Esse mecanismo de autorregulação impede que os buracos negros consumam galáxias inteiras, muito menos o universo em sua totalidade.
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Ademais, é necessário considerar a expansão acelerada do universo. À medida que os objetos no espaço se afastam uns dos outros, a probabilidade de colisões e capturas por um buraco negro diminui, conforme ressaltado por Khanna.
Caso um buraco negro pretendesse engolir o universo por completo, isso demandaria uma drástica mudança na direção do movimento cósmico aparente.
Portanto, é possível ficar tranquilos – pelo menos no que concerne aos buracos negros gigantes que poderiam engolir o universo. Como mencionado por Khanna, eles não são “uma preocupação para nós”. A menos, é claro, que o universo já esteja contido dentro de um buraco negro.