É amplamente difundida a crença de que o cérebro humano utiliza apenas 10% de sua massa cinzenta para controlar as atividades diárias, e que o restante permanece inativo, aguardando ser explorado. Entretanto, esta concepção é destituída de fundamentos científicos e tem sido alvo de críticas de muitos pesquisadores ao longo dos anos.
- Publicidade -
Apesar disso, persiste na cultura popular e pode ser considerada uma noção não apenas equivocada, mas também potencialmente perigosa. Esta afirmação não é meramente uma ideia inofensiva que provoca desdém e é utilizada em enredos de filmes de baixa qualidade, mas sim algo que pode ser considerado perigoso e nocivo à sociedade.
Inicialmente, é importante ressaltar que as origens da crença de que “utilizamos apenas 10% do nosso cérebro” são obscuras. Alguns argumentam que esta ideia decorre do fato de que os métodos iniciais de coloração utilizados para analisar o tecido neural, que se mostravam essenciais na época, manchavam apenas uma pequena porcentagem dos neurônios.
- Publicidade -
Este fato permitiu que os neurônios fossem visualizados através do microscópio pela primeira vez, visto que o tecido neural apresenta uma densa compactação. Contudo, é possível compreender como interpretações equivocadas podem emergir a partir dessas informações.
"Outra possível origem para essa concepção é a crença generalizada de que os neurônios representam apenas 10% das células cerebrais, sendo o restante composto por células gliais, as quais são responsáveis por fornecer suporte e manutenção ao tecido cerebral. No entanto, estudos mais recentes demonstram que essa é uma simplificação excessiva, ou até mesmo incorreta, já que as células gliais são altamente funcionais.
- Publicidade -
Deve-se destacar que as verdadeiras origens deste mito permanecem incertas, mas é certo que remontam a mais de um século, talvez até mesmo no século XIX. São mais de cem anos de informações imprecisas sobre a neurologia que influenciaram a cultura moderna.
Essa perspectiva também destaca os perigos de se tirar conclusões gerais e firmes a partir de pesquisas antigas. Mesmo que os cientistas do século XIX fossem habilidosos, competentes e profissionais, eles não tinham acesso às ferramentas tecnológicas que temos hoje.
- Publicidade -
Portanto, tirar conclusões concretas com base em seus estudos é semelhante a uma criança que consegue levantar apenas 10% do peso da sua cesta de compras semanal, e alguém concluir que 90% dos produtos do mercado são inexplicavelmente inutilizados.
É importante salientar que o mito dos 10% do cérebro está equivocado em duas instâncias distintas. Em primeiro lugar, é incorreto afirmar que apenas 10% do cérebro é utilizado para alguma finalidade, uma vez que todo o órgão é responsável por funções cognitivas e comportamentais essenciais.
- Publicidade -
Entretanto, a utilização do termo “usado” implica que apenas uma pequena porcentagem da massa encefálica é ativada durante a realização de tarefas, o que representa uma significativa superestimação.
É crucial ter em mente que o cérebro é um órgão altamente metabolicamente ativo e densamente compactado, o que limita o espaço para acomodar vasos sanguíneos vitais. Algumas pesquisas indicam que essa restrição pode impedir a realocação de recursos críticos de uma região cerebral para outra, de modo que apenas cerca de 3% do cérebro pode ser ativado, ou ‘usado’, de uma só vez.
- Publicidade -
É análogo a um restaurante lotado com 100 mesas, mas apenas três garçons disponíveis. O restaurante como um todo é utilizável, mas apenas um pequeno subconjunto das mesas pode ser atendido simultaneamente.
O mito dos 10% do cérebro é equivocado de duas maneiras opostas, conforme discutido anteriormente. Além disso, é importante notar que o cérebro é um órgão altamente exigente, responsável por consumir cerca de 20% da energia do corpo humano, apesar de representar apenas 2% do peso corporal.
- Publicidade -
Se a afirmação fosse verdadeira, de que usamos apenas 10% do nosso cérebro, isso seria um desperdício biológico significativo, pois a evolução favorece a conservação de recursos. Um cérebro tão demandante, mas usado apenas em 10%, seria equivalente a ter um supercomputador de uma tonelada em um carro esportivo, que é usado apenas para atualizar o relógio e tocar músicas em MP3.
Por diversas razões, o mito persiste apesar de estar equivocado. E essa persistência é preocupante, porque ele fornece uma oportunidade fácil para charlatães ou golpistas que fazem alegações baseadas em ignorância ou deturpação do funcionamento do cérebro.
- Publicidade -
Afirmações de videntes, médiuns, praticantes de percepção extra-sensorial, curandeiros e outros similares são incompatíveis com o que sabemos sobre ciência e a função cerebral. Apesar disso, é possível apresentar diversas evidências conclusivas que as refutam.
No entanto, se essas pessoas conseguirem dizer “Ah, mas usamos apenas 10% do cérebro…”, isso pode confundir a compreensão das pessoas e fazer com que elas acreditem nessas alegações falsas.
- Publicidade -
O mito de que utilizamos apenas 10% do nosso cérebro é uma crença falsa que oferece um vasto espaço desconhecido para alegações pseudocientíficas baseadas no cérebro se proliferarem. A neurociência estabelecida está incluída nos 10%, e qualquer informação que contradiga isso pode ser facilmente rotulada como pertencente aos 90% restantes.
O perigo reside no fato de que quanto mais essa crença é aceita como verdade, maior é o terreno fértil para indivíduos que se aproveitam da ignorância em relação ao funcionamento cerebral.