Arqueólogos amadores na Inglaterra fizeram uma descoberta notável: um dodecaedro romano, uma classe de objetos misteriosos que intrigou especialistas ao longo dos séculos.
Este dodecaedro, uma estrutura metálica de 12 lados aproximadamente do tamanho de uma toranja, foi encontrado durante uma escavação no campo de um agricultor próximo à aldeia de Norton Disney, em Lincolnshire, situada cerca de 56 quilômetros a sudeste de Sheffield.
Uma pesquisa geofísica anterior revelou áreas subterrâneas onde o campo magnético da Terra estava perturbado, indicando a presença de um possível poço enterrado no local.
Além disso, detectores de metais já haviam identificado moedas e broches romanos no mesmo campo, conforme relatou Richard Parker, secretário do Grupo de História e Arqueologia de Norton Disney, uma organização composta por voluntários locais.
Parker preparava uma xícara de chá nas imediações quando foi alertado pelos gritos de alguns voluntários. Eles acabavam de descobrir o dodecaedro em uma das trincheiras escavadas pelo grupo durante as duas semanas de trabalho no local.
"“Era o penúltimo dia de escavação e aparece este dodecaedro na trincheira quatro”, disse Parker ao portal Live Science. “Ficámos completamente surpreendidos com ele. Não estávamos a receber muitos [sinais] de metal naquela altura, mas de repente lá estava ele.”
O artefato encontra-se intacto, uma condição rara, ao contrário de muitos outros descobertos que estão consideravelmente danificados ou fragmentados. Além disso, destaca-se por seu tamanho, sendo notavelmente maior do que a média de um dodecaedro romano, que pode ser do tamanho de uma bola de golfe.
Atualmente, essa notável peça metálica encontra-se em exibição em um museu local e foi recentemente apresentada no programa “Digging for Britain”, da BBC, dedicado à arqueologia.
Nos últimos 200 anos, foram descobertos mais de 100 dodecaedros em toda a região noroeste da Europa. Esses objetos, datados entre os séculos I e III d.C., foram localizados exclusivamente em antigas áreas do norte do Império Romano, sendo ocasionalmente referidos como dodecaedros “galo-romanos”, em homenagem aos gauleses (ou celtas) que habitavam essas regiões.
Cada dodecaedro é uma estrutura oca de metal, geralmente em bronze, com 12 faces, apresentando orifícios de tamanhos variados em cada face. Esses orifícios frequentemente são circundados por anéis concêntricos gravados no metal, e há um pino em cada ponto onde as 12 faces se encontram.
Surpreendentemente, não exibem inscrições e não há referências a eles nos registros romanos. Como resultado, os arqueólogos contemporâneos ainda não conseguiram elucidar sua finalidade. Algumas teorias sugerem que os dodecaedros eram utilizados como brinquedos, dados, cabeças de maças, projéteis para fundas ou até mesmo dispositivos de orientação para a artilharia romana.
Há também especulações online que variam desde a possibilidade de serem instrumentos para calcular datas a partir das estrelas até servirem como padrões para tricô de luvas romanas.
Entretanto, dada a complexidade dos objetos, é improvável que tenham sido armas, e nenhuma das teorias apresentadas até agora foi considerada totalmente satisfatória.
Muitos arqueólogos contemporâneos inclinam-se a acreditar que os dodecaedros tinham uma função religiosa ou cultual nas regiões galo-romanas em que foram encontrados, podendo ter sido utilizados em práticas como adivinhação ou feitiçaria.
A descoberta de alguns desses objetos em sepulturas reforça a hipótese de que eram considerados como talismãs mágicos, e a proibição pela lei romana da maior parte das práticas mágicas pode explicar a ausência de referências escritas sobre eles.
A descoberta recente em Norton Disney é uma das raras ocasiões em que um dodecaedro romano foi identificado em seu contexto arqueológico, afirmou Parker. Em grande parte, outros exemplares foram detectados por meio de detectores de metais e, posteriormente, entregues a locais distantes do ponto original de descoberta.
Apesar de terem encerrado as escavações no dia seguinte à descoberta do dodecaedro, o grupo expressa a esperança de garantir mais financiamento para retornar ao local no próximo verão, conforme mencionou.
Até o momento, os arqueólogos identificaram artefatos da Idade do Ferro nas proximidades da aldeia, que remontam a um período anterior ao domínio romano. Além disso, foram recuperadas centenas de peças de cerâmica romana dos séculos II e III d.C., e nas imediações da aldeia, foram encontrados os vestígios de uma villa romana.
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A partir de 43 d.C., a totalidade da Inglaterra e do País de Gales tornou-se parte das províncias romanas, quando as legiões do imperador Cláudio conquistaram a região. Vale destacar que uma tentativa de invasão já havia ocorrido em 54 a.C., liderada por seu tio-avô Júlio César, contudo, não foi bem-sucedida.
O domínio romano perdurou até aproximadamente 410 d.C., momento em que a maioria das legiões partiu para defender a Europa continental contra invasões bárbaras, deixando os britânicos entregues a suas próprias responsabilidades.