Há 3,57 milhões de anos, as planícies fluviais da Nova Zelândia testemunharam o majestoso deslocamento de um imponente moa, deixando para trás um rastro de pegadas que, agora, proporciona uma fascinante visão da vida avícola ancestral na Ilha do Sul.
Esse achado, detalhado em um artigo publicado no Journal of the Royal Society of New Zealand, não apenas representa as primeiras descobertas desse tipo na Ilha do Sul, mas também se posiciona como o segundo registro fóssil mais antigo de moa no país.
O protagonista dessa descoberta é uma série de sete pegadas, meticulosamente preservadas na argila siltosa, medindo aproximadamente o comprimento de uma régua e afundando 46 mm na superfície. Essas pegadas, pertencentes a uma ave extinta, fornecem pistas essenciais sobre a fauna que habitou a região há milhões de anos.
A localização dessas pegadas, conhecida como Kyeburn River, na região central de Otago, desempenhou um papel crucial na preservação do fóssil. Descobertas em março de 2019 pelo fazendeiro Michael Johnston, as pegadas foram encontradas em um buraco para nadar, a uma profundidade de 1,3 metros.
Esse local, facilmente acessível no primeiro meandro rio acima da ponte principal da rodovia estadual, revelou-se propício para a descoberta surpreendente.
"“O rio é incrivelmente claro, e você podia vê-los do lado da margem do rio, o que era impressionante”, lembra Fleury.
Ele suspeita que os rastros provavelmente foram expostos por uma grande enchente ocorrida alguns meses antes. “O rio normalmente corre bem baixo na maior parte do tempo”, diz ele. “Mas quando chove, a quantidade de água que desce pelo rio é enorme.”
Kane Fleury, curador de história natural e primeiro autor do artigo, liderou o projeto desde a sua descoberta. Descrevendo a complexidade da escavação, Fleury destaca a necessidade de desviar todo o rio para acessar as pegadas.
A técnica de fotogrametria foi empregada para mapear o local antes da escavação, garantindo a máxima precisão durante o processo.
A análise subsequente envolveu métodos avançados, incluindo a datação por nuclídeos cosmogênicos. Essa técnica foi essencial para atribuir uma idade mínima média de aproximadamente 3,57 milhões de anos às pegadas, situando-as no Plioceno tardio.
Fleury destaca que esse período é notavelmente escasso no registro evolutivo da Nova Zelândia, ampliando nossa compreensão da história biológica da região.
O estudo também revela que as pegadas foram deixadas por duas aves distintas. A primeira, pertencente à família Emeidae e provavelmente do gênero Pachyornis, tinha um peso estimado em 84,6 kg, movendo-se a uma velocidade constante de 2,6 km/h.
A segunda, da família Dinornithidae e do gênero Dinornis, era notavelmente maior, com um peso estimado de 158 kg, representando uma evidência significativa do tamanho gigantesco alcançado pela espécie Dinornis naquela época.
A técnica de datação foi de importância extraordinária para Fleury ao atribuir uma idade média mínima de aproximadamente 3,57 milhões de anos, provavelmente do Plioceno tardio. Segundo ele, esse período é como um vácuo no registro evolutivo da Nova Zelândia, com escasso conhecimento disponível.
Ele destaca que esses artefatos são agora considerados alguns dos mais antigos relacionados aos moas. Apenas alguns fragmentos de ossos e um ovo do material de St Bathans superam em antiguidade, datando de cerca de 12 a 15 milhões de anos.
Além da análise das pegadas, a pesquisa comparou as medidas do local do fóssil com esqueletos de pés de moa conhecidos na Ilha do Sul, fornecendo insights adicionais sobre a diversidade das espécies na região.
É fundamental destacar a contribuição dos grupos iwi locais, Kāti Huirapa Rūnaka ki Puketeraki e Rūnaka o Ōtākou, na condução dessa pesquisa. Infelizmente, o artigo também menciona a recente perda do professor emérito Ewan Fordyce, um coautor crucial da pesquisa.
Os fósseis escavados agora repousam no Museu Tūhura Otago, em Dunedin, representando uma peça valiosa do quebra-cabeça evolutivo da Nova Zelândia. Essa descoberta não apenas enriquece nosso conhecimento sobre as antigas aves da região, mas também homenageia a dedicação daqueles que contribuíram para desvendar os mistérios do passado.