A recente descoberta arqueológica de cinco canoas na Itália, notavelmente avançadas para sua época, indica que os povos neolíticos já navegavam pelo Mediterrâneo há mais de sete milênios. Estas embarcações, datadas entre 5700 e 5100 a.C., representam os mais antigos exemplares encontrados na região até o momento.
Publicado na renomada revista científica PLOS ONE, o estudo detalha o achado na aldeia neolítica de La Marmotta, situada a 30 quilômetros ao noroeste de Roma, às margens de um lago. A sofisticação e a engenhosidade dessas canoas são evidências de progressos notáveis na arte da navegação durante o período neolítico, contribuindo significativamente para o florescimento e a expansão das grandes civilizações da antiguidade.
Os pesquisadores apontam que a propagação da cultura neolítica pela Europa ocorreu, em grande parte, através das rotas marítimas do Mediterrâneo, sugerindo um papel crucial da navegação na difusão cultural da época.
“Muitas das civilizações mais importantes da Europa tiveram origem nas margens do Mar Mediterrâneo”, escrevem eles. “Fenícios, gregos, romanos e cartagineses navegaram nesse mar praticamente fechado para se deslocar rapidamente ao longo de suas costas e entre suas ilhas.”
Os pesquisadores destacam que, entre 9.500 e 9.000 anos atrás, as comunidades do período neolítico já haviam estabelecido sua presença em toda a extensão do Mediterrâneo. A expansão dessas comunidades alcançou as praias atlânticas de Portugal aproximadamente em 5400 a.C., evidenciando a vasta área de influência neolítica na Europa antiga.
"“Está claro que o Mar Mediterrâneo deve ter sido usado com frequência para viagens, pois os barcos permitiam movimentos rápidos da população, contatos e troca de mercadorias”, dizem os autores.
Historicamente reconhecido, o Mediterrâneo Neolítico era um núcleo de atividades comerciais marítimas. Contudo, a extensão da perícia náutica desses pioneiros do mar permanecia incerta até recentes descobertas, que lançaram luz sobre suas notáveis habilidades marítimas.
Em meio a dúvidas sobre a capacidade náutica dos antigos marinheiros, um estudo recente examinou cinco canoas antigas, desenterradas de um sítio arqueológico submerso, datado de 7.000 anos atrás, em um lago na Itália. Essa análise fornece novas perspectivas sobre as habilidades marítimas do povo neolítico.
No estudo liderado por Juan F. Gibaja, uma equipe de especialistas traz à tona novos insights sobre o desenvolvimento da tecnologia marítima, através da análise de canoas encontradas em um sítio neolítico às margens do lago La Marmotta, perto de Roma, Itália.
As escavações revelaram cinco canoas monóxilas, datando de 5700 a 5100 a.C., uma descoberta que se destaca pela utilização de quatro tipos distintos de madeira e técnicas construtivas avançadas, como a implementação de reforços transversais.
Um dos achados mais intrigantes é uma canoa associada a três peças de madeira em forma de T, perfuradas de maneira que sugere a fixação de cordas para velas ou outros componentes marítimos.
Esses elementos, aliados a experimentos de reconstrução naval anteriores, sugerem fortemente que essas canoas não eram apenas construídas para flutuar, mas eram efetivamente utilizadas para navegação, hipótese corroborada pelo encontro de ferramentas de pedra no local, que têm ligação com ilhas na proximidade.
“Essas canoas são exemplos excepcionais de barcos pré-históricos cuja construção exigiu uma compreensão detalhada do projeto estrutural e das propriedades da madeira, além de mão de obra especializada bem organizada”, disseram os pesquisadores.
As semelhanças entre as canoas neolíticas e as tecnologias marítimas modernas corroboram a ideia de que o alvorecer do Neolítico foi marcado por progressos notáveis na arte de navegar. Os especialistas envolvidos no estudo propõem que, nas proximidades de La Marmotta, podem existir mais embarcações antigas à espera de descoberta, delineando um horizonte promissor para investigações arqueológicas futuras.
“A datação direta das canoas neolíticas de La Marmotta revela que elas são as mais antigas do Mediterrâneo, oferecendo informações valiosas sobre a navegação neolítica”, acrescentam os autores.
O estudo foi publicado on-line na revista PLoS ONE.
Via: Arkeonews