As condições propícias para a existência de vida em todo o universo sugerem fortemente a possível presença de civilizações extraterrestres na galáxia. No entanto, mesmo diante dessa abundância de cenários favoráveis, a questão persiste: onde estão essas civilizações? Iniciativas como o Programa de Busca por Inteligência Extraterrestre (SETI) têm se dedicado há anos à detecção de sinais que possam indicar sua existência, porém, até o momento, nenhum resultado conclusivo foi alcançado.
Uma parte significativa do desafio reside na incerteza em relação à natureza de um possível sinal alienígena. É comparável a procurar uma agulha em um palheiro sem saber como é a agulha. No entanto, é reconfortante lembrar que qualquer civilização extraterrestre estaria sujeita às mesmas leis físicas que nós, e podemos usar esse conhecimento para delinear possíveis cenários.
Uma estratégia para aumentar nossas chances de detecção seria focalizar não apenas em sinais diretos de um único ponto, mas sim em padrões mais abrangentes que possam indicar uma rede interconectada de comunicações interestelares.
Conforme discutido em um artigo de 2022 publicado no repositório de pré-publicações arXiv, uma limitação física significativa é a presença abundante de poeira e gás interestelar na Via Láctea. Dado que a luz de rádio possui melhor capacidade de penetração através desses meios do que a luz visível, é plausível que os sinais interplanetários sejam predominantemente em forma de micro-ondas.
Além disso, ao viajar entre estrelas, é crucial ter meios precisos de localização e orientação. Uma estratégia viável é utilizar os pulsares como referências de navegação. O autor do artigo sugere que esses pulsares poderiam ser combinados em um sinal de rádio de banda larga emitido pelo centro de uma civilização alienígena, contendo metadados de navegação pulsar de raios X (XNAV).
"Um dos principais obstáculos na detecção de potenciais sinais extraterrestres é a sua possível semelhança com o ruído aleatório, tornando-os difíceis de distinguir. Mesmo sinais simples, como transmissões de televisão, seguem um protocolo reconhecível. Sem esse protocolo, decifrar a mensagem se torna inviável.
Esse desafio lembra a complexidade enfrentada na quebra do código Enigma durante a Segunda Guerra Mundial. Uma das descobertas cruciais ocorreu ao perceber que muitas mensagens continham referências a boletins meteorológicos, indicando a presença provável da palavra alemã para clima.
Da mesma forma, os metadados em um sinal alienígena poderiam desempenhar um papel semelhante. Ao reconhecer que os sinais de rádio devem conter metadados XNAV, podemos usar essa informação como ponto de partida. Na teoria dos jogos, esse conceito é conhecido como um “Ponto de Schelling”.
O autor detalha nove etapas sobre como uma civilização interestelar poderia desenvolver um sistema de navegação pulsar e estabelece o padrão dessa rede. Ao explorar diferentes cenários, é possível identificar certos padrões que poderiam servir como assinaturas tecnológicas distintivas.
- Veja também: Método elipsoide do SETI na busca por alienígenas
No entanto, conforme apontado pelo autor, essa abordagem enfrenta uma limitação significativa: qualquer concepção de metadados que imaginemos ainda está enraizada na perspectiva humana, o que pode não refletir necessariamente a forma de pensar de uma inteligência alienígena.
Embora tudo isso permaneça no âmbito especulativo, é uma consideração válida. A detecção de um sinal extraterrestre só será possível se tivermos uma compreensão mais aprofundada das formas que ele pode assumir, e talvez ideias aparentemente extravagantes como essa sejam exatamente o impulso necessário para avançarmos nesse sentido.
Via: Phys