O estudo das origens cósmicas de moléculas complexas encontrou um novo capítulo fascinante, com pesquisadores queimando plantas australianas para desvendar segredos sobre compostos orgânicos que se formaram muito antes do Sol começar a brilhar.
A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional de cientistas, utilizou amostras da sonda espacial Hayabusa-2, que trouxe de volta à Terra vestígios do asteroide Ryugu.
Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs), conhecidos por sua presença em produtos cotidianos, como naftalina, petróleo e carvão, foram identificados nas amostras. O estudo comparou essas moléculas encontradas no Ryugu e no meteorito Murchison, datado de cinco décadas atrás, com compostos criados pela queima de plantas.
“Realizamos experimentos de queima controlada em plantas australianas, que foram comparadas isotopicamente com PAHs de fragmentos do asteroide Ryugu, que foram devolvidos à Terra por uma espaçonave japonesa em 2020, e do meteorito Murchison, que aterrissou na Austrália em 1969. As ligações entre os isótopos leves e pesados de carbono nos PAHs foram analisadas para revelar a temperatura em que foram formados”, disse o coautor, o professor Kliti Grice, da Curtin University, em um comunicado.
Os resultados surpreendentes indicaram que os PAHs mais simples e leves, como o naftaleno, se formaram em ambientes extremamente frios no espaço interestelar, antes mesmo do nascimento do Sol.
"Isso sugere que essas moléculas preexistentes forneceram os blocos de construção fundamentais antes mesmo da formação do nosso sistema solar. No entanto, os PAHs maiores foram formados durante a era do sistema solar, indicando ambientes mais quentes, possivelmente próximos a estrelas ou dentro de corpos celestes.
O professor Grice destacou: “Descobriu-se que os PAHs selecionados de Ryugu e Murchison tinham características diferentes: os menores provavelmente no espaço sideral frio, enquanto os maiores provavelmente se formaram em ambientes mais quentes, como perto de uma estrela ou dentro de um corpo celeste.”
A pesquisa não apenas fornece uma visão única sobre a formação de moléculas orgânicas além da Terra, mas também lança luz sobre os mistérios da formação planetária e, potencialmente, da vida.
O coautor Dr. Alex Holman, também da Curtin University, ressaltou a importância dessas descobertas: “Essa pesquisa nos fornece informações valiosas sobre como os compostos orgânicos se formam além da Terra e de onde eles vêm no espaço.”
“O uso de métodos de alta tecnologia e experimentos criativos demonstrou que PAHs selecionados em asteroides podem ser formados no espaço frio”, concluiu Holman.
A crescente disponibilidade de amostras de asteroides na Terra, graças a missões como a OSIRIS-REx que retornou com material de Bennu, oferece oportunidades emocionantes para análises futuras. A aplicação de métodos de alta tecnologia e experimentos inovadores nesse campo promissor pode fornecer insights ainda mais profundos sobre a evolução cósmica e o surgimento dos blocos de construção essenciais para a vida.
Essa pesquisa exemplifica como a exploração espacial e a investigação interdisciplinar continuam a revelar os segredos do cosmos, expandindo nossa compreensão sobre as origens não apenas da matéria, mas também da vida.
O estudo foi publicado na revista Science.