Uma nova era geológica na Lua está sendo proposta por um grupo de cientistas, que denominou essa época de “Antropoceno Lunar”. Este termo reflete a crescente influência dos seres humanos na superfície lunar, destacando a mudança de paradigma onde os processos culturais começam a superar os processos geológicos naturais.
O principal objetivo dos pesquisadores é incitar discussões sobre o impacto humano na Lua e, simultaneamente, preservar artefatos culturais cruciais, como pegadas históricas e rastros de rovers.
O estudo, liderado por Justin Holcomb, pesquisador de pós-doutorado em arqueologia da Universidade do Kansas, foi publicado recentemente na revista Nature Geoscience, evidenciando a crescente importância do Antropoceno, um conceito já consolidado na Terra, na exploração lunar.
“Os processos culturais estão começando a superar o histórico natural dos processos geológicos na Lua”, disse Justin Holcomb, pesquisador de pós-doutorado em arqueologia da Universidade do Kansas e principal autor de um novo artigo, em um comunicado.
“Nosso objetivo é iniciar discussões sobre nosso impacto na superfície lunar antes que seja tarde demais”, acrescentou. O novo estudo foi publicado em 8 de dezembro na revista Nature Geoscience.
"A proposta de uma nova era geológica lunar é especialmente relevante considerando o aumento significativo de atividades planejadas para a Lua.
A concepção do Antropoceno, uma era geológica caracterizada por transformações provocadas pela atividade humana na Terra, tem ganhado crescente reconhecimento nas últimas cinco décadas.
Apesar de os cientistas geralmente aceitarem o conceito atualmente, ainda persistem debates sobre o ponto de partida e a definição exata, havendo diversas propostas, como o início da Revolução Industrial e a detonação da primeira bomba atômica.
Entretanto, quando o assunto é a Lua, a situação é mais clara. Em 1959, a sonda espacial soviética Luna 2 tornou-se o primeiro artefato humano a impactar a superfície lunar, originando a primeira cratera feita pelo homem e assinalando o início de uma nova era de transformações.
Nos anos subsequentes, os seres humanos deixaram diversos vestígios na superfície lunar, que incluem pegadas, trilhas de rovers, bolas de golfe, bandeiras e até mesmo sacos de excrementos humanos.
O que os autores chamam de “nova corrida espacial” envolve missões privadas, como o turismo espacial e a mineração lunar, além de iniciativas nacionais, como as missões Artemis da NASA, que visam o retorno humano à Lua até 2025.
Jan-Peter Muller, professor do departamento de física espacial e climática da University College London, destaca que a Lua está prestes a se tornar o “Velho Oeste” espacial, onde recursos naturais inexplorados são vistos como uma nova fronteira para a obtenção de riqueza.
Essa perspectiva levanta preocupações sobre a necessidade de conscientização e reflexão sobre o impacto iminente da humanidade na Lua.
O Antropoceno Lunar proposto pelos cientistas não se limita apenas a uma nomenclatura; envolve a necessidade de proteger nosso “patrimônio espacial”. Pegadas, rovers, bandeiras e outros vestígios da presença humana na Lua são considerados valiosos, semelhantes a registros arqueológicos que merecem preservação.
A ausência de erosão na Lua, devido à falta de atmosfera, torna qualquer alteração causada pelos humanos praticamente permanente.
Justin Holcomb enfatiza a importância do material lunar e das pegadas como recursos valiosos, equiparando-os a um registro arqueológico que a humanidade tem o dever de preservar. Ele destaca que o Antropoceno Lunar visa aumentar a conscientização sobre o impacto na superfície lunar e a influência na preservação de artefatos históricos.
“Acho que essa é uma proposta interessante e oportuna que fará com que as pessoas comecem a pensar sobre os efeitos das atividades humanas na Lua”, disse Ian Crawford, professor de ciência planetária e astrobiologia da Universidade Birkbeck de Londres, que não participou do estudo.
Ele também concordou que a preservação de nossos artefatos culturais no espaço é um empreendimento importante. “Alguns, pelo menos, provavelmente merecem o status de Patrimônio Mundial da UNESCO (mesmo que estejam em outro mundo!)”
Em um cenário de crescente exploração lunar, a proposta do Antropoceno Lunar destaca a importância de abordar não apenas os avanços científicos e tecnológicos, mas também a responsabilidade ética de preservar e respeitar o patrimônio espacial humano.
O debate sobre a influência humana na Lua está apenas começando, mas a proposta de uma nova era geológica serve como um lembrete oportuno da necessidade de agir antes que seja tarde demais.