O fósforo é um elemento crucial para a formação planetária e a biologia, desempenhando um papel vital em processos químicos essenciais à vida. No entanto, a busca por esse elemento na nossa galáxia, a Via Láctea, tem sido desafiadora, uma vez que as detecções anteriores se concentraram na parte interna da galáxia ou nas proximidades do nosso sistema solar.
Recentemente, astrônomos relataram uma descoberta surpreendente: a detecção de moléculas contendo fósforo em uma densa nuvem de gás localizada a quase 74.000 anos-luz do centro da nossa galáxia, revelando um mistério intrigante sobre a origem e distribuição desse elemento.
Essa nuvem de gás, conhecida como WB89-621, encontra-se a uma distância quase três vezes maior do centro da Via Láctea em comparação com a posição da Terra. O que torna essa descoberta ainda mais fascinante é que a abundância de óxido de fósforo e mononitreto de fósforo na nuvem é semelhante à encontrada no Sistema Solar, em seus arredores e no interior da galáxia.
Essa revelação desafia a visão tradicional da origem do fósforo, que sugere que elementos até o ferro são criados em estrelas maciças, que, ao envelhecerem, disseminam esses elementos através da perda de camadas ou em explosões de supernovas.
A formação do fósforo, até agora, era entendida como um processo que ocorria no interior das estrelas, onde os átomos de silício absorvem nêutrons em seus núcleos, transformando o silício em fósforo. Esse fenômeno é apenas um exemplo de nucleossíntese estelar que ocorre no interior dessas gigantes celestes.
"Posteriormente, as estrelas maciças explodem em supernovas, dispersando todos esses elementos no espaço, explicando assim a abundância de fósforo observada na parte interna da Via Láctea, onde as supernovas são comuns. No entanto, a grande questão que surge com essa nova detecção é: como o fósforo chegou a locais mais afastados, como as fronteiras da galáxia?
Para abordar essa questão intrigante, os astrônomos exploraram várias possibilidades. Descartaram a ideia de que o material do interior da galáxia pudesse ser aquecido e empurrado para as bordas pelas supernovas, pois as nuvens resultantes desse gás resfriado não foram observadas nas bordas da galáxia.
Além disso, a hipótese de que a Via Láctea tenha “roubado” fósforo de outras galáxias companheiras, como as Nuvens de Magalhães, foi refutada, pois essas galáxias são mais pobres em elementos mais pesados do que a nossa própria galáxia.
A equipe de astrônomos sugeriu, então, uma possibilidade intrigante: o fósforo pode ser produzido em estrelas menos massivas que liberam elementos ao longo do tempo, mas não por meio de supernovas.
Eles observaram que “a fonte de fósforo na Galáxia Exterior pode ser uma rota alternativa na nucleossíntese estelar. Devido ao fracasso dos modelos de evolução química galáctica, postulou-se que estrelas maciças não explosivas ou estrelas do ramo gigante assimptótico (AGB) com pulsação térmica podem ser possíveis fontes desse elemento.”
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Essa descoberta não apenas intriga os cientistas, mas também levanta questões sobre a origem e distribuição dos elementos químicos na galáxia. A análise da composição química nas bordas da Via Láctea e de outras galáxias pode proporcionar uma compreensão mais profunda de como esses elementos se formam e se espalham pelo universo.
Se os blocos de construção dos planetas e da vida forem encontrados em todo o cosmos, essa descoberta pode indicar a existência de mundos distantes e a possibilidade de vida além do nosso sistema solar.
Em resumo, a detecção de fósforo nas fronteiras da Via Láctea desafia as teorias convencionais sobre sua origem e distribuição, estimulando o interesse da comunidade científica em desvendar os mistérios cósmicos que envolvem a criação e disseminação dos elementos químicos essenciais à vida.
O estudo foi publicado na Nature.