Os sonhos sempre foram uma fonte inesgotável de mistério e fascinação. A humanidade, ao longo da história, atribuiu significados místicos e simbólicos aos sonhos, procurando neles respostas para perguntas profundas e desconhecidas.
No entanto, por mais extensos e conscienciosos que tenham sido os estudos dedicados a esse fenômeno, o mundo dos sonhos continua a ser um enigma a desvendar.
A pesquisadora britânica Sue Llewellyn, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, ousa lançar luz sobre esse mistério, propondo uma abordagem que desafia o misticismo associado aos sonhos e adota uma visão mais racional.
Llewellyn acredita que o processamento de informações pelo cérebro durante o sono não apenas é essencial para o nosso bem-estar, mas também pode gerar imagens do futuro.
A ideia de que os sonhos podem prever o futuro pode parecer radical no contexto científico, mas Llewellyn fundamenta sua teoria na observação de como o cérebro processa informações durante o sono.
"Ela argumenta que os sonhos não são meramente uma expressão aleatória da mente, mas sim um reflexo do processamento do cérebro, elaborando associações e padrões com base em experiências passadas.
Llewellyn questiona por que os sonhos frequentemente retratam situações muito específicas, com uma sucessão de eventos e participantes, que muitas vezes parecem absurdos para nós. A chave para essa questão, segundo ela, está na fase do sono rápido (REM), durante a qual os sonhos ocorrem.
É nesse período que o cérebro é capaz de traçar paralelos óbvios entre diferentes eventos da vida, criando associações que podem surpreender o sonhador.
No seu livro intitulado “What Do Dreams Do?”, Sue Llewellyn apresenta uma teoria extraordinariamente inovadora sobre o fenômeno dos sonhos, explorando a maneira como eles podem ter desempenhado um papel crucial ao longo da evolução humana.
A autora investiga profundamente o significado dos sonhos e sua influência na memória, na previsão inconsciente, na criatividade e até mesmo em distúrbios psiquiátricos.
No decorrer da obra, Llewellyn também demonstra como é possível identificar as associações de grande relevância que impulsionam a formação dos sonhos, proporcionando aos leitores as ferramentas necessárias para desvendar as conexões pessoalmente significativas presentes em seus próprios sonhos.
Essa ideia encontra respaldo em pesquisas anteriores, como o estudo realizado por cientistas de Harvard em 1999, que revelou que os participantes que passaram pela fase REM do sono tiveram um desempenho melhor em um teste de percepção de distâncias em comparação com aqueles que não passaram por essa fase.
Isso sugere que a percepção durante a fase REM é qualitativamente diferente da percepção durante a fase não REM, o que pode explicar a natureza altamente associativa e surpreendente dos sonhos.
Segundo Llewellyn, a maioria das experiências que vivenciamos é armazenada em nosso subconsciente, e raramente somos conscientes de 98% das atividades do nosso cérebro. No entanto, durante o sono, o cérebro tem a capacidade de captar e processar essas informações, criando associações e padrões que aparecem nas imagens dos nossos sonhos.
Portanto, nossos sonhos podem nos dar uma ideia de como diferentes eventos no futuro podem evoluir com base na análise de experiências passadas.
A teoria de Llewellyn desafia a visão tradicional dos sonhos como meros devaneios da mente e propõe uma abordagem mais científica e fundamentada. Ela nos lembra que o mistério dos sonhos pode, em última instância, ser desvendado através da compreensão do complexo processo de processamento cerebral que ocorre durante o sono.
Em um mundo onde a ciência continua a desvendar segredos antigos e a lançar luz sobre os mistérios da mente humana, a pesquisa de Sue Llewellyn nos convida a repensar o mundo dos sonhos e a considerar a possibilidade de que, em algum nível, possamos estar vendo o futuro através dos olhos dos nossos sonhos.