As múmias têm há tempos despertado o interesse e a curiosidade de indivíduos em escala global. Esses espécimes preservados proporcionam uma perspectiva instigante sobre os modos de vida, sistemas de crenças e tradições arraigadas nas culturas antigas.
Desde as meticulosas práticas de mumificação praticadas pelos antigos egípcios até as ocorrências de múmias naturais constatadas entre os habitantes das Ilhas Aleutas, cada agrupamento cultural concebia uma abordagem singular no que se refere à preservação dos corpos póstumos.
Exemplares notáveis dessa categoria, como as múmias pertencentes ao povo Chinchorro e à comunidade Guanche, figuram dentre as mais antigas a serem documentadas, ao passo que as múmias associadas aos astecas revestiam-se de marcante caráter cerimonial, albergando atributos de ordem espiritual.
Mesmo nas antigas civilizações chinesa e tibetana, identificam-se distintos métodos empregados no processo de mumificação.
A aura de mistério que envolve esses cadáveres conservados perpetua-se como objeto de fascínio contínuo, e, concomitantemente à nossa progressiva desvelação das narrativas a eles subjacentes, depreendemos um entendimento enriquecido acerca das culturas que lhes conferiram origem.
"Cultura Egípcia
Quando se aborda o tema das múmias e dos métodos de mumificação, a primeira evocação que ocorre é, inquestionavelmente, a do antigo Egito.
Nessa civilização, a prática da mumificação emergia como um procedimento de índole complexa, almejando a preservação dos corpos humanos para a sua trajetória após o período terreno.
O ritual em questão assumia um caráter inegavelmente sinistro. O itinerário inaugural envolvia a extripação dos órgãos internos, à exceção do coração, que se erigia como o locus presumido da alma.
Os demais órgãos vitais eram alojados em vasos canópicos, os quais eram inumados juntamente à múmia. Entretanto, não todos os órgãos eram objeto de preservação.
O encéfalo era exortado através das narinas por intermédio de um instrumento gancho, e, após essa operação, era relegado ao descarte sob o crivo de sua suposta irrelevância.
Na etapa subsequente, o corpo era submetido a uma purificação mediante água do rio Nilo, seguida de dessecação através da aplicação de natrão, uma espécie de sal de natureza singela.
O ciclo de dessecação demandava, normalmente, cerca de quarenta dias, durante os quais o corpo era sepultado e impregnado com natrão. Concluída a fase de dessecação, o cadáver era envolto em faixas de linho e engalanado com amuletos e fórmulas mágicas concebidos para resguardar o defunto em sua iminente jornada pós-morte.
A cabeça era, então, ornada com uma máscara ou diadema, frequentemente retratando o falecido sob a imagem de uma divindade.
A múmia, alvo do processo de preparação, era então alojada em um arranjo de caixões que remetem ao formato das matrioskas russas, sendo o caixão mais exterior ricamente adornado com desenhos, encantamentos e inscrições.
Contudo, essa perspectiva se circunscrevia aos que possuíam os recursos necessários. De maneira alguma todos os indivíduos no Egito eram submetidos à mumificação.
Tal prática acarretava um ônus financeiro e temporal significativo, tornando-a acessível somente àqueles que detinham capacidade financeira ou desfrutavam de elevado status social.
Mesmo entre aqueles agraciados com o procedimento de mumificação, os resultados variavam, correlacionando-se com a opulência e o prestígio social do falecido.
Da mesma forma, os luxuosos caixões remetentes às matrioskas russas eram reservados apenas aos segmentos mais ricos e notórios da sociedade egípcia.
Aqueles indivíduos que dispunham dos recursos para submeter-se à mumificação eram submetidos a esse processo conduzido por embalsamadores habilidosos.
A descrição feita pelo historiador grego Diódoro os apresentava como “dignos de toda honra e consideração, associando-se aos sacerdotes e até mesmo frequentando os templos sem obstáculos, devido à sua intocabilidade”.
Evidentemente, a seleção do embalsamador e o método de embalsamamento empregado estavam intrinsecamente atrelados ao status social do indivíduo.
Por sua vez, o processo de mumificação também experimentou transformações ao longo dos séculos. A prática da mumificação era encarada como um dos pilares mais preeminentes da religião egípcia, haja vista seu papel crucial na preservação da alma para a jornada póstuma.
Cultura Inca
O processo de mumificação adotado pelos Incas não se mostrava tão “pragmático” quanto o método empregado pelos egípcios.
A civilização Inca optava por um procedimento de mumificação de caráter mais natural, recorrendo à preservação natural ao invés de métodos artificiais. Apesar das nuances, os desfechos resultantes eram comparáveis.
No contexto da crença Inca, a mumificação desvelava a capacidade de permitir aos falecidos uma transição para a vida após a morte, ao mesmo tempo em que mantinham uma ligação com sua comunidade terrena.
O cadáver era transportado às montanhas e então colocado em uma posição sentada, onde o corpo era exposto ao ar frio e seco das montanhas e, posteriormente, aos raios solares, o que contribuía para sua dessecação.
Após a completa dessecação do corpo, este era cuidadosamente recolhido e envolto em tecidos, enriquecido com adereços pessoais como joias.
Tal processo estava tipicamente reservado aos integrantes da elite Inca, notadamente líderes, sacerdotes ou aqueles que haviam deixado contribuições de relevância à sociedade Inca. As vítimas escassas de sacrifícios Inca frequentemente eram inclusas nessa última categoria.
As múmias, comumente, eram depositadas em túmulos ou compartimentos especialmente designados, onde recebiam o status de objetos de natureza sagrada.
Em certos contextos, as múmias eram removidas de suas sepulturas durante cerimônias de magnitude e desfilavam pelas vias públicas como parte da celebração da vida e realizações do indivíduo.
Adicionalmente, a crença dos Incas também se estendia à convicção de que as múmias detinham o poder de estabelecer comunicação com os vivos, proporcionando orientação e proteção.
Cultura Chinchorro
Embora as múmias egípcias possam ostentar a notoriedade como as mais proeminentes, é imperativo reconhecer que elas não foram pioneiras nesse campo e tampouco as mais impressionantes.
As múmias de Chinchorro configuram um acervo de múmias localizadas no Deserto de Atacama, abrangendo as atuais regiões do Chile e do Peru. Estas constituem algumas das múmias mais antiquíssimas no panorama global, remontando aproximadamente a 7000 a.C.
A singularidade que imprime caráter fascinante às múmias de Chinchorro reside na aparente aplicação, pelo povo Chinchorro, de um leque diversificado de técnicas para a mumificação de seus entes queridos.
Essas abordagens conheceram transformações ao longo do curso temporal, podendo ser agrupadas em, aproximadamente, três categorias distintas.
Constatou-se que em torno de 29% das múmias de Chinchorro identificadas foram submetidas a um processo de mumificação de natureza natural.
As condições climáticas intrinsecamente áridas do Chile, bem como a elevada concentração de sal no solo, induziam a uma desidratação dos corpos sepultados, impedindo seu processo de decomposição.
Subsequentemente, emerge a técnica da múmia negra. Este procedimento demonstra uma complexidade acentuada em relação ao método egípcio, enquanto se reveste de uma natureza ainda mais macabra.
A metodologia implicou na completa desmontagem do corpo, seguida de sua meticulosa reconstituição peça por peça. Os membros superiores, inferiores e a cabeça foram dissociados do tronco e submetidos a tratamentos individuais.
Posteriormente, ocorria a remoção dos órgãos internos, os quais eram substituídos por fibras vegetais e pelos de animais.
O corpo, então, era envolto por uma camada de argila e cinzas, as quais exerciam a função de agentes conservantes. Em algumas situações, a pele era removida e as partes do corpo eram submetidas a tratamentos térmicos.
O corpo era, posteriormente, reagrupado e revestido com uma pasta de cinzas brancas, utilizando-se pelos de animais e fibras vegetais para preencher lacunas eventuais.
A pele era recolocada e a argila era empregada para a reconstrução das características faciais ausentes. O corpo, então, recebia pintura para conferir uma aparência mais natural.
Aproximadamente por volta de 2500 a.C., essa técnica evoluiu para o método da múmia vermelha.
Embora semelhante, essa técnica exibia um refinamento sutil. Incisões de dimensões reduzidas passaram a ser utilizadas para a remoção dos órgãos, e o corpo deixou de ser desmembrado. Paralelamente, observava-se uma ênfase ampliada na preservação da aparência natural do corpo.
Finalmente, o processo experimentou sua última transformação. As múmias mais recentes da cultura Chinchorro renunciaram a muitos dos aspectos mórbidos da mumificação.
O corpo permanecia em sua maior parte intacto, sendo coberto por uma camada espessa de argila que desempenhava a função de uma espécie de cimento. Essa argila, posteriormente, era decorada e posicionada em uma tumba, enquanto o corpo se dessecava internamente, permanecendo completamente oculto.
Cultura Guanche
As múmias Guanche compõem um conjunto de restos mumificados encontrados nas Ilhas Canárias, que foram habitadas pelo povo Guanche antes da chegada dos europeus no século XV.
A prática da mumificação entre os Guanches foi categorizada por especialistas em três métodos distintos: evisceração, preservação e preenchimento. Distintas múmias manifestam variações na aplicação desses três métodos.
Algumas múmias denotavam evidências de terem sido submetidas à técnica de evisceração. Incisões eram efetuadas nos corpos para possibilitar a remoção dos órgãos internos.
Em determinados casos, os corpos passavam por um processo de evisceração, sendo suas cavidades então preenchidas com uma substância de textura semelhante à lama.
Além disso, uma outra substância era empregada como agente de preenchimento sob a pele, porém, os componentes dessa substância permanecem envoltos em mistério.
O corpo externo era comumente preservado por meio de uma combinação de resinas naturais e envolto em peles de animais. As resinas, derivadas de minerais, plantas e gorduras, eram mescladas e posteriormente aplicadas sobre o corpo, que então era submetido a um processo de secagem (seja de maneira natural ou através de fumaça).
A múmia era então envolvida por mais camadas de peles de animais e colocada em repouso. Quanto mais elevado o status do indivíduo, mais peles eram utilizadas para envolvê-lo.
As múmias Guanche destacam-se por sua preservação e detalhamento. Algumas múmias ainda mantêm a integridade da pele e cabelos, enquanto outras exibem tatuagens e padrões intrincados na superfície cutânea.
Lamentavelmente, muito ainda permanece desconhecido sobre os métodos de mumificação empregados pelos Guanches. A grande maioria desses métodos foi perdida devido ao saque e à profanação.
Muitos deles foram desaparecendo devido à disseminação da “mummia”, um tipo de substância farmacêutica feita a partir da trituração de múmias.
Cultura Budista
Encontrados predominantemente no Tibete, bem como em outras regiões do Himalaia, e também no Japão, os Monges Múmias Budistas (também denominados monges auto-mumificados) oferecem uma perspectiva notável de uma das formas mais singulares de mumificação existentes no mundo.
Estes monges acreditavam que a auto-mumificação lhes facultaria alcançar a iluminação e prosseguir na orientação de seus seguidores mesmo após a morte.
Iniciavam o processo aderindo a uma dieta rigorosa e a um regime de meditação, os quais o monge seguiria por diversos anos antes de seu falecimento. A dieta incluía um chá especial elaborado a partir da seiva de uma árvore local, cujas propriedades conservadoras eram marcantes. Além disso, o monge se entregava a períodos prolongados de meditação.
Esses períodos prolongados de meditação e a dieta específica visavam a redução da gordura corporal e o estímulo à desidratação. Este processo, por vezes desagradável, também era considerado um ato de autopenitência com o intuito de auxiliar os monges em sua trajetória em direção à iluminação.
Após a dieta culminar no falecimento do monge, este era disposto em uma câmara ou caverna pequena, onde o sal e os elementos naturais promoveriam sua desidratação de forma natural.
O processo poderia transcorrer ao longo de vários anos, durante os quais o corpo seria regularmente inspecionado e submetido a tratamentos com óleos e ervas especiais a fim de evitar a decomposição.
Uma vez que o corpo estivesse completamente mumificado, este seria colocado em uma posição sentada e ornado com trajes e outros objetos cerimoniais.
As múmias eram frequentemente reverenciadas como objetos sagrados, acreditando-se nelas possuir um imenso poder espiritual. Algumas eram inclusive expostas publicamente em mosteiros ou outros locais de natureza sagrada.
No Japão, monges ascetas trilhavam um caminho similar, porém eram sepultados vivos em uma caixa de pinho repleta de sal. Essa caixa estava conectada a um tubo que lhes fornecia ar.
Periodicamente, o monge fazia soar um sino para indicar que ainda estava vivo. Quando cessavam o toque do sino, o tubo era removido. A dieta prévia à morte dos monges e o sal contido na caixa realizavam o processo de mumificação. Não surpreendentemente, tal prática foi proibida.
Cultura Aleutas
Os povos indígenas das Ilhas Aleutas, localizadas nas proximidades do Alasca, eram conhecidos por adotar uma forma singular de mumificação, caracterizada por sua total naturalidade.
Os habitantes dessas ilhas compartilhavam a crença de que, após o falecimento de alguém, a alma abandonava o corpo, para então retornar posteriormente. Entretanto, esse retorno somente seria possível se o corpo fosse adequadamente preservado.
O processo de mumificação se iniciava ao posicionar o corpo em posição sentada sobre um leito de ramos de abeto. Em sequência, o corpo era envolto por peles de animais, deixando apenas a cabeça descoberta.
Uma vez envolto, o corpo era cuidadosamente colocado em uma depressão rasa no solo, onde era coberto com pedras e terra. O solo exercia a função de conservante, enquanto o clima seco característico da região desidratava o corpo e o mantinha preservado.
Com o transcurso do tempo, o organismo passaria por um processo de desidratação integral, resultando na dessecação e pigmentação castanha da pele e dos cabelos.
As múmias, de maneira frequente, encontravam o seu repouso derradeiro em sepulcros de cunho familiar ou em sítios de inumação coletiva. O que conferia singularidade à tradição dos Aleutas residia na não exclusividade da prática de mumificação para a elite, uma vez que tal processo estava acessível a todos os estratos sociais.
Cultura Asteca
Os Astecas representam uma civilização de origem indígena que floresceu no México central durante o período compreendido entre o século XIV e XVI.
Essa sociedade se distinguiu por suas intrincadas formulações de crenças e práticas rituais, incluindo um método específico de mumificação que se restringia aos estratos mais proeminentes da hierarquia social, notadamente os guerreiros e governantes.
A prática de mumificação asteca se delineava como um procedimento prolongado e intricado, inauguralmente marcado pela remoção dos órgãos corporais. Esses órgãos, subsequentemente, eram acondicionados em recipientes especiais e sepultados em conjunção com o corpo mumificado.
Concomitantemente, procedia-se à higienização do corpo, seguida pela aplicação de uma composição elaborada de resina, cera e outros materiais, cujo desígnio residia na preservação do corpo mumificado.
Após o estabelecimento do revestimento, a figura era envolta em sucessivas camadas de tecido e posicionada em postura sentada. As múmias frequentemente ostentavam ornamentos adornados, como elaborados cocares, peças de joalheria e outros objetos de cunho cerimonial, sendo então depositadas em sepulcros ou locais sagrados.
Os Astecas eram imbuidos da convicção de que suas múmias detinham considerável potência espiritual, sendo capazes de estabelecer um canal de comunicação com as divindades. Por conseguinte, era comum que indivíduos recorressem às múmias a fim de buscar orientação espiritual e auxílio em suas demandas.
Na contemporaneidade, constata-se uma limitada quantidade de múmias astecas exumadas, sendo que a maioria desses espécimes encontra-se acolhida em acervos museológicos e outras instituições de caráter cultural.
Essas múmias facultam uma perspectiva singular e cativante acerca das crenças e práticas de uma civilização ancestral, perpetuando a investigação empreendida por arqueólogos e antropólogos, com o propósito de arrojar luz sobre os costumes e tradições do povo asteca.
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Conclusão
A prática da mumificação encontra registros em múltiplas culturas ao longo da trajetória histórica, cada qual dotada de seus próprios métodos e sistemas de crença distintos.
Embora a utilização generalizada da mumificação tenha experimentado um declínio nas eras modernas, as múmias que foram exumadas persistem em despertar fascínio e curiosidade, conferindo-nos uma perspectiva reveladora acerca das crenças, tradições e práticas das sociedades pretéritas.
Desde as elaboradas múmias dos antigos egípcios até as múmias naturais oriundas dos habitantes das Ilhas Aleutas e do povo Chinchorro, bem como as múmias de caráter cerimonial dos astecas e aquelas ritualisticamente preparadas pelos budistas tibetanos, cada abordagem cultural em relação à mumificação evidencia nuances representativas de suas cosmovisões, convicções religiosas e concepções acerca da morte e do além.
A despeito das discrepâncias que permeiam essas diferentes culturas, algo permanece invariável – o anseio por preservar e venerar os entes falecidos, e por perpetuar viva a lembrança destes para as gerações vindouras.