O rover Zhurong foi operado na superfície de Marte por um período superior a um ano, desde sua implantação em 22 de maio de 2021.
Antes de suspender suas operações em 20 de maio de 2022, em virtude do início do inverno marciano e da aproximação de tempestades de areia sazonais, o rover Zhurong logrou percorrer uma distância total de 1.921 km.
Durante o primeiro quilômetro dessa jornada, o rover adquiriu dados cruciais acerca dos campos magnéticos extremamente tênues que permeiam Marte.
Conforme revelado por um novo estudo conduzido por pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências (CAS), tais medições indicam a existência de um campo magnético excepcionalmente frágil sob o local de pouso do rover.
A pesquisa foi conduzida sob a liderança dos professores Aimin Du, Yasong Ge e Huapei Wang, que são membros do Laboratório de Engenharia para Equipamentos e Tecnologia de Recursos Profundos da CAS, bem como do prestigioso Instituto de Geologia e Geofísica (IGGCAS).
"O estudo contou com a participação de uma equipe multidisciplinar composta por pesquisadores dos Observatórios Astronômicos Nacionais, da Escola de Geofísica e Geomática, da Faculdade de Ciências da Terra e Planetárias, do Centro Nacional de Ciências Espaciais, do Instituto de Engenharia de Sistemas de Espaçonaves (ISSE), além de várias universidades e institutos de pesquisa.
O trabalho científico que descreve as descobertas do estudo foi recentemente publicado na renomada revista Nature Astronomy.
Embora Marte não possua uma magnetosfera intrínseca, existem evidências que sugerem sua existência há aproximadamente quatro bilhões de anos.
Essas evidências estão preservadas na crosta do planeta, que apresenta fracos campos magnéticos distribuídos pela superfície.
Medições orbitais desses campos foram realizadas pelas sondas Mars Global Surveyor (MGS) e Mars Atmosphere and Volatile EvolutioN (MAVEN), revelando campos crustais terrestres com intensidades de até 1.500 nanoteslas (nT), e uma média global de cerca de 200 nT.
Ao estudar a crosta na região de Elysium Planitia, o magnetômetro de fluxgate InSight (IFG), a bordo da missão InSight da NASA, obteve leituras significativamente mais intensas, atingindo aproximadamente 2.000 nT.
Por sua vez, o rover Zhurong, equipado com magnetômetros de fluxgate, coletou dados magnéticos em 16 locais ao longo de uma trilha de 1.089 metros na região de Utopia Planitia, situada a cerca de 2.000 km a noroeste do local de pouso da missão InSight.
Surpreendentemente, as leituras obtidas pelos magnetômetros de Zhurong indicaram uma polaridade oposta às medidas realizadas pela sonda InSight.
Os resultados revelaram uma intensidade de campo de aproximadamente 20 nT, uma ordem de magnitude inferior às estimativas baseadas em observações orbitais.
Essas leituras extremamente fracas sugerem que a crosta sob a região de Utopia Planitia pode ter permanecido desmagnetizada desde sua formação durante o período Hespério inicial, há aproximadamente quatro bilhões de anos, ou ter sofrido desmagnetização em decorrência de um impacto significativo posterior.
Essas descobertas fornecem uma nova restrição para a cronologia da magnetosfera de Marte e seu desaparecimento, além de lançar luz sobre a história magnética, climática e interna do planeta vermelho, bem como suas interconexões.
Compreender como e quando o campo magnético de Marte desapareceu é de extrema importância para os estudos astrobiológicos em curso no planeta.
Ao investigar a transição de Marte de um ambiente mais quente, com presença de água em sua superfície, para o ambiente extremamente frio e árido que caracteriza o planeta nos dias atuais, os cientistas almejam determinar se houve tempo suficiente para o surgimento da vida em Marte.
Essa compreensão também pode fornecer insights sobre possíveis locais onde a vida poderia ainda existir atualmente.