Os satélites da SpaceX, conhecidos como Starlink, estão liberando radiação na esfera celeste durante sua órbita em torno da Terra, o que pode ocasionar interferência nas tentativas dos astrônomos de captarem sinais de rádio provenientes das regiões mais remotas do cosmos, como revelado por uma nova pesquisa.
Todos os satélites, incluindo aqueles presentes na crescente constelação Starlink da SpaceX, emitem e recebem ondas de rádio como meio de comunicação com seus operadores em solo terrestre.
Há anos, os astrônomos estão cientes desse fato e conseguem mitigar os impactos causados por esses feixes controlados em suas atividades, evitando a presença desses satélites em suas observações ou levando em consideração os sinais ao realizar seus cálculos.
Contudo, no novo estudo, publicado em 3 de julho na revista Astronomy & Astrophysics, os pesquisadores demonstraram que os satélites Starlink também emitem sinais de rádio não intencionais e previamente não identificados, os quais são distintos dos sinais enviados e recebidos em comunicação com nosso planeta.
Alguns desses sinais se sobrepõem aos sinais detectados pelas antenas dos radiotelescópios, o que representa um novo desafio para esse campo científico.
"De acordo com Federico Di Vruno, autor principal do estudo e co-diretor do Centro para a Proteção do Céu Escuro e Tranquilo contra Interferência de Constelações de Satélites da União Astronômica Internacional, foi observado diretamente pela primeira vez a fuga não intencional de radiação que já havia sido teorizada anteriormente. Essa declaração foi feita em um comunicado.
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No estudo em questão, os pesquisadores empregaram o telescópio Low-Frequency Array (LOFAR), uma matriz de antenas de rádio situada principalmente nos Países Baixos, além de outros sete países europeus, a fim de monitorar minuciosamente as emissões provenientes de 68 satélites Starlink.
A equipe constatou que 47 dos satélites estavam emitindo radiação não intencional com uma frequência entre 110 e 188 megahertz.
“Essa faixa de frequência engloba uma banda protegida entre 150,05 e 153 MHz, especificamente alocada para fins de radioastronomia pela União Internacional de Telecomunicações (UIT)”, afirmou Cees Bassa, coautor do estudo e astrônomo do Instituto Holandês de Radioastronomia, em um comunicado.
No entanto, vale ressaltar que a SpaceX não está infringindo nenhuma regulamentação, uma vez que a legislação da UIT impede apenas que fontes de rádio terrestres transmitam nessas frequências próximas aos radiotelescópios.
A SpaceX provavelmente não é a única responsável, os pesquisadores esperam detectar emissões semelhantes provenientes de vários outros satélites em órbita terrestre baixa.
Esse problema também pode se agravar à medida que o número de satélites privados em órbita terrestre baixa continua a aumentar drasticamente. Por exemplo, quando os dados foram coletados, havia apenas 2.000 satélites Starlink em LEO, mas atualmente esse número ultrapassa 4.000.
“Nossas simulações mostram que quanto maior a constelação, mais importante se torna esse efeito à medida que a radiação de todos os satélites se acumula”, afirmou Gyula Józsa, coautor do estudo e astrônomo do Instituto Max Planck de Radioastronomia, na Alemanha, em um comunicado.
“Isso nos preocupa não apenas em relação às constelações existentes, mas ainda mais em relação às planejadas.”
A equipe de pesquisa relatou no comunicado que já iniciou diálogos com a SpaceX a respeito de como a empresa pode contribuir para mitigar o problema no futuro, e até o momento, as negociações têm apresentado resultados positivos.
No entanto, ressalta-se que diversas outras empresas privadas também precisarão considerar essa questão. As equipes estão demandando novas regulamentações que alinhem as emissões de rádio no espaço com aquelas emitidas na Terra.
A emissão de sinais de rádio não constitui a única forma pela qual os satélites podem interferir na astronomia.
As espaçonaves reluzentes também podem refletir luz de volta para a superfície do planeta, ocasionando a formação de faixas brancas em imagens de lapso de tempo.
Em dezembro de 2022, a União Astronômica Internacional alertou que o maior satélite de comunicação do mundo, conhecido como BlueWalker 3, está gerando interferências que poderiam “prejudicar significativamente o avanço de nossa compreensão do cosmos”.