A Índia está empenhada em se posicionar como o quarto país a realizar uma aterrissagem controlada na superfície lunar, por meio de sua missão Chandrayaan-3, cujo lançamento ocorreu com sucesso na última sexta-feira.
O nome “Chandrayaan” foi selecionado para designar essa importante empreitada, tendo sido derivado do sânscrito e com o significado de “veículo lunar”.
A decolagem da espaçonave aconteceu no Centro Espacial Satish Dhawan, localizado em Sriharikota, no sul do estado de Andhra Pradesh, por volta das 14h30, horário local (5h00, horário de Brasília).
Um grande número de pessoas se reuniu no centro espacial para testemunhar esse lançamento histórico, e mais de 1 milhão de espectadores acompanharam o evento por meio do YouTube.
Após o lançamento, a Organização Indiana de Pesquisa Espacial confirmou, por meio do Twitter, que o Chandrayaan-3 entrou em uma “órbita precisa” e iniciou sua jornada em direção à lua.
"A organização também informou que a espaçonave se encontra em condições “normais”.
Em resposta, o Primeiro-Ministro Indiano, Narendra Modi, expressou seu entusiasmo pelo feito através de um tuíte, no qual afirmou que o Chandrayaan-3 está escrevendo um novo capítulo na odisseia espacial da Índia.
Modi ressaltou que essa conquista monumental eleva os sonhos e ambições de cada indiano, demonstrando o testemunho da dedicação incansável dos cientistas indianos, aos quais ele rendeu homenagem pelo seu espírito e genialidade.
Está previsto que a espaçonave realize o pouso na lua no dia 23 de agosto. Cabe ressaltar que essa é a segunda tentativa da Índia em realizar um pouso suave na lua, após a falha ocorrida em sua tentativa anterior com o Chandrayaan-2 em 2019.
A primeira sonda lunar indiana, denominada Chandrayaan-1, orbitou ao redor da lua e, posteriormente, colidiu de forma deliberada com a superfície lunar em 2008.
Desenvolvida pela renomada Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO), a missão Chandrayaan-3 é composta por um módulo de pouso, um módulo de propulsão e um rover.
Seu principal propósito é realizar um pouso seguro na superfície lunar, coletar dados e conduzir uma série de experimentos científicos visando obter um maior entendimento sobre a composição da lua.
É importante destacar que somente três outras nações – Estados Unidos, Rússia e China – obtiveram êxito ao realizar a intricada proeza de pousar com suavidade uma espaçonave na superfície lunar.
Engenheiros indianos têm se dedicado ao projeto durante anos, visando o lançamento da Chandrayaan-3. O objetivo primordial é realizar um pouso próximo ao desafiador terreno do polo sul lunar, uma região até então não explorada.
A primeira missão lunar da Índia, chamada Chandrayaan-1, obteve a importante descoberta de moléculas de água na superfície da lua.
Onze anos depois, a missão Chandrayaan-2 alcançou com sucesso a órbita lunar, porém seu rover sofreu um pouso brusco na superfície lunar, não conseguindo executar suas funções.
Assim como seu antecessor, essa missão também tinha o objetivo de explorar o polo sul da lua.
Apesar do revés, na ocasião, o Primeiro-Ministro Indiano, Narendra Modi, enalteceu os engenheiros responsáveis pela missão, manifestando seu reconhecimento mesmo diante do fracasso, e reiterou o compromisso de continuar investindo no programa espacial e nas ambições da Índia nessa área.
Logo antes do lançamento de sexta-feira, Modi afirmou que o dia “será sempre marcado em letras douradas no que diz respeito ao setor espacial da Índia”.
“Essa missão notável levará as esperanças e os sonhos de nossa nação”, disse ele em uma publicação no Twitter.
A Índia alocou um montante aproximado de US$ 75 milhões para financiar sua missão Chandrayaan-3.
Modi declarou que o foguete percorrerá uma distância superior a 300.000 quilômetros (186.411 milhas) e alcançará a lua nas “semanas subsequentes”.
Décadas em construção
O programa espacial da Índia remonta a mais de seis décadas, quando o país era uma república recém-independente e enfrentava desafios como a pobreza e as consequências de uma divisão violenta.
Ao lançar seu primeiro foguete ao espaço em 1963, a Índia estava significativamente atrás das ambições dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, que lideravam a corrida espacial na época.
Atualmente, a Índia é a nação mais populosa do mundo e a quinta maior economia global. O país abriga uma população jovem em crescimento e é um centro emergente de inovação e tecnologia.
Sob a liderança de Modi, as ambições espaciais da Índia estão em busca de alcançar as demais nações nessa área.
Para o líder indiano, que assumiu o poder em 2014 com uma plataforma fundamentada no nacionalismo e na busca pela grandeza futura, o programa espacial da Índia representa um símbolo do crescente destaque do país no cenário global.
Em 2014, a Índia obteve a distinção de se tornar a primeira nação asiática a alcançar o Planeta Marte, com o lançamento bem-sucedido da sonda Mangalyaan em órbita marciana.
Essa conquista foi realizada com um investimento de aproximadamente US$ 74 milhões, um valor inferior aos US$ 100 milhões gastos em Hollywood para a produção do filme de suspense espacial “Gravidade”.
Três anos mais tarde, a Índia estabeleceu um novo recorde ao lançar simultaneamente 104 satélites em uma única missão.
Em 2019, o Primeiro-Ministro Modi anunciou em um pronunciamento televisionado raro que a Índia havia realizado um teste bem-sucedido de um sistema anti-satélite, derrubando deliberadamente um de seus próprios satélites.
Com esse feito, a Índia se juntou a um seleto grupo de apenas quatro países capazes de realizar tal proeza tecnológica.
No mesmo ano, o ex-presidente da ISRO, Kailasavadivoo Sivan, divulgou planos para estabelecer uma estação espacial independente até 2030.
Atualmente, as únicas opções disponíveis para missões tripuladas são a Estação Espacial Internacional, um projeto colaborativo entre várias nações, e a Estação Espacial Tiangong, da China.
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O rápido desenvolvimento e a inovação no setor espacial têm tornado a tecnologia espacial um dos setores mais promissores para investidores na Índia. Os líderes mundiais têm demonstrado interesse nessa área em ascensão.
Durante uma visita de Estado no mês passado aos Estados Unidos, o Primeiro-Ministro Modi se encontrou com o presidente Joe Biden em Washington.
Durante esse encontro, a Casa Branca declarou que ambos os líderes expressaram o desejo de promover uma maior colaboração na economia espacial.
Além disso, as ambições espaciais da Índia não se limitam apenas à lua e a Marte. A ISRO também propôs o envio de um orbitador para Vênus, demonstrando o empenho do país em expandir sua exploração e pesquisa científica no sistema solar.