Conforme as conclusões de uma recente pesquisa, a descoberta de crânios humanos antigos, lamparinas a óleo e fragmentos de armas em uma caverna adjacente a Jerusalém indica que o local foi utilizado durante o período romano para a prática de tentativas de comunicação com os falecidos, conhecida como necromancia ou “magia da morte”.
Através da análise dos estilos dos artefatos, os estudiosos postulam que os rituais mórbidos eram realizados na caverna de Te’omim, situada aproximadamente a 30 quilômetros a oeste de Jerusalém, entre os séculos II e IV d.C.
De acordo com as observações de Boaz Zissu, renomado arqueólogo da Universidade Bar-Ilan em Israel, a maioria da população judaica que habitava a região foi eliminada ou expulsa pelo domínio do Império Romano após a rebelião judaica conhecida como Revolta de Bar Kokhba, ocorrida entre os anos 132 e 136 d.C.
Posteriormente, os romanos procederam ao repovoamento da região com indivíduos provenientes de outras regiões de seu império, provavelmente oriundos da Síria, Anatólia e Egito, conforme elucidado por Zissu.
“Uma nova população pagã chegou ao que antes era conhecido como Judeia, mas agora era chamado de Síria Palestina”, afirmou Zissu ao portal Live Science. “Eles trouxeram consigo novas ideias, novos costumes e aparentemente a prática da necromancia.”
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Zissu, em colaboração com o arqueólogo Eitan Klein, da Autoridade de Antiguidades de Israel, figura como autor de um novo estudo publicado em 4 de julho no prestigioso periódico Harvard Theological Review.
O referido estudo apresenta uma descrição dos artefatos encontrados na caverna, incluindo mais de 120 lamparinas a óleo, lâminas de machado e lança, bem como três crânios humanos.
Comunicação com os mortos
A extensa caverna de Te’Omim tem sido frequentada por pessoas desde tempos pré-históricos, e durante a Revolta de Bar Kokhba, os rebeldes judeus a utilizaram como um esconderijo contra as forças romanas.
Durante as escavações, os pesquisadores identificaram a presença de três conjuntos de tesouros compostos por moedas de ouro e prata daquela época.
Além disso, foi constatado que uma camada de rara rocha de alabastro de calcita, encontrada em locais profundos da caverna, foi extraída em algum momento, possivelmente para a criação de valiosas obras de arte.
Com base nos estilos das lamparinas a óleo e em algumas moedas ocultas, é possível inferir que a caverna tenha se tornado um local para a prática de necromancia quando os recém-chegados à região trouxeram consigo seus rituais tradicionais, conforme apontado pelos pesquisadores.
A prática da necromancia era amplamente considerada como maligna e frequentemente proibida dentro dos domínios do Império Romano.
No entanto, em muitas cidades antigas, era comum a existência de locais secretos conhecidos como “oráculos”, nos quais as pessoas acreditavam ser possível estabelecer comunicação com os mortos.
A caverna em questão tornou-se um desses lugares, onde tais práticas eram realizadas.
“Lá eles encontraram condições perfeitas”, afirmou Zissu. “É um pouco isolado, mas não muito distante da estrada principal; é profundo, mas não muito profundo, e possui um poço profundo no final que eles consideravam uma conexão com o submundo.”
Rituais antigos
As lamparinas, crânios humanos e fragmentos de armas encontram-se alojados em fendas no interior da vasta caverna, muitas vezes situadas a uma distância considerável que exigiu dos pesquisadores o uso de longas varas com ganchos para recuperá-los.
De acordo com Zissu, é plausível que os antigos depositaram esses artefatos nas fendas com o auxílio de varas.
As fendas são tão profundas que as lamparinas a óleo não teriam emitido uma quantidade significativa de luz, levando os pesquisadores a inicialmente associá-las a artefatos relacionados a rituais de adoração ctônica, ligados aos espíritos do submundo.
No entanto, os crânios, também ocultados nas fendas, sugerem que o propósito real era tentar estabelecer uma comunicação com os mortos, acreditados capazes de prever o futuro, como destacado por Zissu.
Os ossos de indivíduos eram ocasionalmente utilizados na tentativa de contatar a pessoa após a sua morte, sendo que o tremeluzir das chamas poderia ser interpretado como mensagens provenientes do submundo, conforme mencionado pelos autores do estudo.
“Esta caverna fornece evidências importantes que atestam tanto a diversidade de práticas religiosas no período romano quanto o contraste marcante entre o uso religioso de cavernas pelos politeístas do período romano e as primeiras igrejas-cavernas cristãs na Terra Santa”, afirmou o arqueólogo Ken Dark, do King’s College London, que não esteve envolvido no estudo, em entrevista ao portal Live Science.