Em 2015, o magnata russo-israelense Yuri Milner e a organização filantrópica Breakthrough Initiatives lançaram um ambicioso empreendimento científico denominado Breakthrough Listen, que se destaca como o maior projeto de Busca por Inteligência Extraterrestre (SETI) até o presente momento.
Esse notável esforço SETI se vale dos radiotelescópios mais avançados e sofisticados do mundo, bem como de análises altamente desenvolvidas, com o objetivo primordial de identificar possíveis indícios de atividade tecnológica extraterrestre, conhecidos como “tecnossignaturas”.
Ao longo de uma década, esse projeto empreenderá uma abrangente investigação que contemplará uma seleção de um milhão de estrelas mais próximas do nosso planeta, o núcleo central de nossa galáxia, o amplo plano galáctico e ainda as 100 galáxias mais próximas da Via Láctea.
No ano de 2018, foi estabelecida uma parceria com a Colaboração do Sistema de Telescópios de Raios Gama de Imagem de Radiação Muito Energética (VERITAS), um sistema de telescópios de raios gama localizados no Observatório Fred Lawrence Whipple (FLWO), situado no topo do Monte Hopkins, no sul do Arizona.
Recentemente, em um artigo científico, a Colaboração VERITAS divulgou os resultados do primeiro ano de sua busca por “tecnossignaturas ópticas” no período de 2019 a 2020.
"Esses resultados são uma prova de conceito vital, que demonstra como futuras investigações em busca de civilizações extraterrestres podem incorporar pulsos ópticos em seu catálogo de tecnossignaturas.
A Colaboração VERITAS engloba um empreendimento internacional que reúne pesquisadores do Observatório Fred Lawrence Whipple (FLWO), do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian (CfA), do Instituto de Pesquisa em Física de Astropartículas Arthur B. McDonald, do centro de pesquisa Deutsches Elektronen-Synchrotron (DESY), do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, bem como de diversas universidades e institutos de pesquisa.
O artigo que documenta suas descobertas, intitulado “Uma Investigação das Tecnossignaturas Ópticas pela Colaboração VERITAS/Breakthrough Listen“, recentemente foi aceito para publicação no The Astronomical Journal.
Ao longo dos últimos sessenta anos, desde o Projeto Ozma, a busca por Inteligência Extraterrestre (ETI) tem se restringido quase que exclusivamente à procura de evidências de transmissões de rádio.
Contudo, nos anos recentes, os cientistas têm expandido essa busca, considerando outras potenciais tecnossignaturas.
Essas tecnossignaturas adicionais englobam comunicações por energia direcionada, vazamentos de sinais de rádio e ópticos provenientes de civilizações tecnológicas, emissões infravermelhas provenientes de megaestruturas, evidências espectrais de poluentes industriais nas atmosferas de exoplanetas e, inclusive, a presença de espaçonaves ou detritos em nosso próprio Sistema Solar.
Esses e outros possíveis exemplos de tecnologia extraterrestre foram detalhados no Relatório da Oficina de Tecnossignaturas da NASA, publicado em 2018.
A inclusão do conjunto VERITAS, composto por quatro refletores ópticos Cherenkov de 12 metros (~40 pés) para astronomia de raios gama, permitiu ao projeto Breakthrough Listen ampliar sua busca por tecnossignaturas ópticas – mais especificamente, por pulsos ópticos de nanossegundos que podem ser detectados em distâncias interestelares.
Gregory Foote, candidato a doutorado no Departamento de Física e Astronomia da Universidade de Delaware (UD) e coautor do artigo do VERITAS, explicou ao portal Universe Today:
“Embora as tecnossignaturas de rádio tenham sido tradicionalmente buscadas, não sabemos em qual faixa de ondas o sinal virá nem se será pulsado ou constante, então faz sentido buscar de todas as maneiras possíveis. A tecnossignatura que estamos procurando, um laser pulsado, pode (em princípio) ser facilmente detectado e transmitido a uma distância de 1000 anos-luz usando a tecnologia atual. O próprio VERITAS nos permite procurar por esses lasers pulsados usando alguns dos maiores telescópios do planeta.”
Finalizada em 2007, a matriz VERITAS complementa de forma efetiva o Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi (FRGST) da NASA e a colaboração do Large Area Telescope (LAT), à qual o Fermi está associado, devido à sua maior área de coleta e maior sensibilidade aos raios gama.
De fato, os telescópios de espelho segmentados do VERITAS, semelhantes ao espelho primário do Telescópio Espacial James Webb (JWST), possuem a maior sensibilidade entre todos os telescópios na faixa de energia muito alta (VHE), com uma sensibilidade máxima variando de 100 giga-elétron-volts (GeV) a 10 tera-elétron-volts (TeV).
Essas capacidades foram avaliadas quando a equipe de colaboração conduziu pesquisas no catálogo de alvos do Breakthrough Listen, procurando por indícios de pulsos ópticos de alta energia. Conforme mencionado por Foote:
“Começamos com o catálogo de alvos do Breakthrough Listen lançado em 2017 e, em seguida, removemos aqueles que não eram adequados para as operações do VERITAS. Isso nos deixou com cerca de 506 possíveis alvos, que foram classificados com base em proximidade, brilho e outros critérios relevantes, como a presença de exoplanetas. Essa lista classificada nos forneceu uma ferramenta útil para selecionar quais alvos observar, escolhendo os de classificação mais alta que pudessem ser vistos em um determinado mês. No total, realizamos observações ao longo de 30 horas, com cada observação durando aproximadamente 15 minutos. Acabamos observando 136 alvos, uma vez que algumas observações incluíam múltiplos objetos.”
Além disso, a equipe de colaboração examinou os dados arquivados do VERITAS desde 2012. Em seguida, a equipe calculou quais alvos do catálogo do Breakthrough Listen foram observados pelo VERITAS durante o mesmo período.
Devido à limitação de tempo de processamento, eles decidiram distribuir a análise dos arquivos em diversos alvos diferentes, analisando apenas a primeira hora dos dados de qualidade.
“Isso resultou em 249 observações de 119 campos não sobrepostos, contendo 140 alvos capturados de forma incidental”, afirmou Foote. “Infelizmente, não foram encontradas evidências dessa tecnossignatura em nenhum dos alvos nas observações que foram analisadas.”
Embora a análise não tenha revelado evidências de pulsos ópticos de nanossegundos, o presente estudo forneceu uma valiosa prova de conceito que orientará as futuras buscas por tecnossignaturas.
Além disso, estabeleceu-se limites para o número de estrelas que poderiam abrigar civilizações transmissoras, contribuindo para refinar tais buscas e aumentar a probabilidade de detecções futuras.
Ademais, conforme observado por Foote, este estudo pode ter implicações significativas para os observatórios gama existentes e planejados. Isso inclui o Panoramic All-sky All-time Near InfraRed and Optical Technosignature Finder (PANOSETI), que conduzirá observações coordenadas com o Observatório Veritas:
“Acredito que o maior impacto no campo mais amplo é que essa tecnossignatura pode ser procurada aproveitando observatórios gama existentes, incluindo o VERITAS, e aqueles que ainda estão por ser construídos. Isso também funciona no sentido inverso, uma vez que observatórios construídos especificamente para essa tecnossignatura, como o PANOSETI, podem contribuir para a pesquisa em raios gama. Essa é uma interseção única entre áreas que ainda não foi explorada em grande escala até o momento.”