O Staphylococcus aureus, conhecido como estafilococo dourado, é uma bactéria amplamente distribuída, encontrada de forma inofensiva na pele ou no interior do nariz de quase um terço da população mundial.
No entanto, essa bactéria apresenta características enganosas. Em determinadas circunstâncias, o estafilococo dourado pode se transformar em um agente patogênico, causando infecções perigosas na pele, no sangue, nos ossos ou em outros locais do organismo.
Algumas cepas dessa bactéria também são consideradas “superbactérias” resistentes a medicamentos, possuindo características que as protegem dos melhores antibióticos disponíveis.
Um novo estudo revelou detalhes valiosos sobre a habilidade dessas bactérias enganosas em se esconderem dentro das células humanas, um mecanismo que lhes permite evadir as defesas do sistema imunológico humano.
Ao desvendar esses segredos, é possível, eventualmente, descobrir maneiras mais eficazes de neutralizar o estafilococo dourado, oferecendo, assim, um impulso necessário na contínua batalha contra as superbactérias.
"O Staphylococcus aureus é classificado como um patobiota, um membro tipicamente benigno do microbioma humano que pode se tornar patogênico sob determinadas circunstâncias.
Isso ocorre quando a bactéria consegue ultrapassar as barreiras da pele do hospedeiro, possivelmente facilitada por lesões ou cirurgias, e obtém acesso aos tecidos moles, ossos ou à corrente sanguínea.
Em certos casos, como em indivíduos com eczema, o estafilococo dourado pode infectar a própria pele, causando diversos efeitos que variam desde furúnculos até celulite.
No âmbito desse novo estudo, os pesquisadores utilizaram uma técnica inovadora desenvolvida por eles chamada InToxSa (Toxicidade Intracelular do S. Aureus, em tradução livre).
Essa abordagem permitiu um estudo mais amplo do comportamento do estafilococo dourado dentro das células humanas, com maior rapidez e eficiência.
Sob a liderança do imunologista Abdou Hachani, da Universidade de Melbourne, o estudo sugere que a chave para impedir que o S. aureus cause mortes está em adquirir maior conhecimento sobre como essas bactérias evitam a eliminação pelos próprios sistemas imunológicos humanos.
“Testamos centenas de cepas de S. aureus retiradas de pacientes com infecções sanguíneas usando a técnica InToxSa e observamos alterações específicas que tornam as bactérias menos prejudiciais e mais capazes de sobreviver em nossos corpos”, afirma Hachani.
“Identificamos os genes que controlam a capacidade da bactéria de estafilococo dourado de persistir dentro das células hospedeiras sem matá-las”, acrescenta ele. “Isso é um avanço importante para entender como o S. aureus pode causar infecções letais.”
O estafilococo dourado é comumente reconhecido como um patógeno extracelular, conforme apontado pelos pesquisadores, representando um microrganismo de vida livre capaz de causar doenças sem invadir as células do hospedeiro.
No entanto, ressalta-se que o estafilococo dourado não é exclusivamente extracelular, pois pode também sobreviver e replicar-se no interior das células do hospedeiro. Essa estratégia pode resultar na morte das células hospedeiras, porém auxilia as bactérias a evitarem a detecção pelo sistema imunológico do hospedeiro.
Através da utilização da técnica InToxSa, Hachani e seus colegas investigaram 387 cepas de estafilococo dourado provenientes de pacientes nos quais a espécie estava presente no sangue.
Nesse estudo, foram identificadas mutações específicas que conferem ao S. aureus uma menor toxicidade em relação às células hospedeiras, favorecendo a sua “persistência intracelular”, conforme destacado pelos pesquisadores.
“InToxSa é uma ferramenta poderosa que combina análise genética, dados microbiológicos e comparações estatísticas”, explica o co-autor Tim Stinear, microbiologista molecular no Doherty Institute da Universidade de Melbourne.
- Veja também: Cientistas Criam Feto Humano Sintético
“Ela é capaz de lidar com um grande volume de dados de forma sistemática e padronizada, o que eventualmente resulta em descobertas científicas mais abrangentes e aceleradas – como a nossa”, afirma.
Esse tipo de detalhe pode contribuir para um melhor entendimento de como o Staphylococcus aureus resistente à meticilina, conhecido como MRSA, é capaz de causar danos significativos no organismo humano, conforme observado pelos pesquisadores. Essa compreensão mais aprofundada pode, por sua vez, inspirar abordagens mais eficazes na prevenção e tratamento das infecções.
Essa questão assume particular importância diante do surgimento de cepas do estafilococo cada vez mais resistentes, como o MRSA, que representa uma grande causa do aumento da incidência de infecções hospitalares e que pode resistir até mesmo aos antibióticos de última linha.
“Utilizando essa plataforma, fomos capazes de identificar mutações nas bactérias que são clinicamente relevantes e promovem sua capacidade de persistir no interior do corpo”, afirma Stinear. “Esses novos conhecimentos guiarão as pesquisas na busca por novas formas de combater essas infecções.”
O estudo foi publicado na revista científica eLife.