Um raio globular, também conhecido como relâmpago globular ou raio bola, é um fenômeno atmosférico elétrico de natureza ainda inexplicada.
Essa designação transporta-nos para um mundo misterioso, onde relatos fascinantes de avistamentos de objetos esféricos e luminosos despertam nossa imaginação. Esses enigmáticos fenômenos podem apresentar tamanhos tão pequenos quanto o de uma modesta ervilha ou grandiosos, espalhando-se por vários metros de extensão. Embora frequentemente associados a tempestades elétricas, sua presença é notavelmente duradoura, contrastando com o efêmero piscar de um relâmpago comum.
Os primeiros relatos dessas aparições frequentemente mencionam explosões subsequentes, que por vezes culminam em consequências fatais. Além disso, deixam para trás um rastro de odor inconfundível, remetendo-nos ao característico cheiro de enxofre.
Curiosamente, até a década de 1960, a maioria dos cientistas rejeitava a ideia de que os raios globulares fossem um fenômeno real. Isso apesar dos inúmeros relatos documentados de avistamentos ocorridos em diferentes períodos históricos e regiões do mundo. Ainda que experimentos em laboratório tenham sido capazes de reproduzir efeitos visuais semelhantes aos desses raios misteriosos, ainda não há consenso sobre a conexão entre esses fenômenos e os casos observados na natureza.
A escassez de dados científicos sobre os raios globulares naturais é atribuída à sua raridade e imprevisibilidade. Sua existência é presumida com base em relatos públicos de avistamentos, mas isso resultou em uma série de resultados um tanto contraditórios. Diante dessas inconsistências e da falta de dados confiáveis, a verdadeira essência desses relâmpagos enigmáticos continua a nos escapar, permanecendo oculta em meio aos segredos que a natureza ainda guarda.
"Possíveis explicações
Ao longo dos séculos, os raios globulares têm fascinado cientistas e curiosos com sua natureza misteriosa. Afinal, o que seriam esses enigmáticos fenômenos que se apresentam como esferas luminosas, flutuando no ar por períodos mais duradouros do que os relâmpagos convencionais?
Em 2007, o pesquisador Gerson Paiva conduziu uma pesquisa experimental na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), localizada em Recife, Brasil, a fim de investigar essa questão. A pesquisa, baseada em dados espectrográficos acidentalmente registrados, trouxe à tona a hipótese do silício vaporizado.
Segundo essa teoria, os raios globulares seriam compostos por silício vaporizado, que queima por meio do processo de oxidação. Quando um raio atinge o solo da Terra, pode vaporizar a sílica presente, separando o oxigênio do dióxido de silício e transformando-o em vapor de silício puro.
À medida que o vapor de silício esfria, ele pode condensar-se em um tipo de aerossol flutuante, que emite um brilho intenso graças ao calor gerado pela recombinação do silício com o oxigênio.
De acordo com registros experimentais, bolas luminosas com duração de vários segundos foram produzidas pela evaporação de silício puro utilizando um arco elétrico. Vídeos e espectrografias dessa experiência foram disponibilizados para análise.
Essa hipótese recebeu um significativo apoio em 2014, quando o primeiro registro de espectros de relâmpagos globulares naturais foi publicado. Os depósitos teóricos de silício no solo incluem nanopartículas de Si, SiO e SiC.
Tem sido proposto que o fenômeno do raio globular é fundamentado em oscilações esfericamente simétricas não lineares de partículas carregadas presentes no plasma, que podem ser entendidas como um análogo aos solitões de Langmuir espaciais. Essas oscilações têm sido descritas tanto por teorias clássicas quanto por teorias quânticas.
Foi constatado que as oscilações de plasma mais intensas se manifestam nas regiões centrais de um raio globular. Além disso, foi sugerido que dentro de um raio globular podem surgir estados ligados de partículas carregadas em oscilação, com spins orientados em direções opostas, semelhantes aos pares de Cooper observados em outros contextos físicos.
Esse fenômeno, por sua vez, suscita a possibilidade de um estado supercondutor da matéria dentro de um raio globular. A ideia de supercondutividade nesse contexto já havia sido considerada anteriormente. Além disso, discutiu-se a possibilidade de existência de um raio globular com um núcleo composto dentro desse modelo teórico.
Imaginário popular
Adentrar ao fascinante universo dos relâmpagos globulares é impossível sem explorar as alusões e as implicações sociais que emergem do imaginário popular em torno desse fenômeno intrigante.
Nessa jornada, o conceito de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) eleva o relâmpago globular a um candidato perfeito, já que sua natureza singular, raramente documentada, desperta um misto de admiração e perplexidade.
Essa raridade, combinada com crenças muitas vezes envoltas em um véu pseudocientífico, estimula o pensamento especulativo das mentes comuns, levando-as a questionar se o relâmpago globular é um elo com uma realidade fantástica até então desconhecida.