Uma reavaliação dos dados coletados pela sonda Voyager indica a possibilidade da existência de oceanos localizados entre os núcleos e as crostas geladas de quatro das luas de Urano.
Possíveis oceanos subterrâneos foram identificados sob as crostas congeladas de quatro das luas principais de Urano.
Por meio de uma minuciosa reanálise dos dados obtidos pela sonda Voyager durante sua missão em Urano na década de 1980, pesquisadores recentemente constataram que Ariel, Umbriel, Titânia e Oberon, quatro das maiores luas do planeta, apresentam condições térmicas favoráveis à existência de oceanos líquidos. Em particular, em Titânia e Oberon, esses oceanos podem até mesmo ser suficientemente quentes para sustentar a possibilidade de vida, conforme mencionado em um estudo recente publicado no Journal of Geophysical Research.
“Ao lidar com corpos celestes de menor porte, como planetas anões e luas, os cientistas planetários já têm identificado indícios de presença de oceanos em locais considerados improváveis, tais como nos planetas anões Ceres e Plutão, bem como na lua de Saturno, Mimas”, declarou Julie Castillo-Rogez, autora principal do estudo e pesquisadora do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califórnia, em um comunicado. “Portanto, existem mecanismos em jogo que ainda não compreendemos completamente.”
O presente estudo realizou uma integração de dados provenientes da sonda Voyager 2, coletados na década de 1980, juntamente com informações obtidas de missões mais recentes da NASA, como Galileo, Cassini, Dawn e New Horizons, que abordaram outras luas geladas, tais como Caronte de Plutão e Encélado de Saturno.
"Urano, por sua vez, possui um total de 27 luas, no entanto, os pesquisadores concentraram sua análise nas cinco maiores, a saber: Ariel, Umbriel, Titânia, Oberon e Miranda. Dessas, destaca-se Ariel como a menor, com um diâmetro de aproximadamente 720 milhas (1.160 quilômetros), enquanto Titânia se revela a maior dentre elas, apresentando cerca de 980 milhas (1.580 km) de diâmetro.
Anteriormente, os cientistas sustentavam a crença de que apenas Titânia provavelmente manifestaria atividade térmica interna, por meio do processo de decaimento radioativo, no qual átomos instáveis perdem energia por meio de radiação. Acredita-se que as outras luas fossem muito pequenas para gerar calor interno.
No entanto, ao modelar a porosidade dessas outras luas, sugere-se agora que todas, exceto Miranda, sejam suficientemente isoladas para reter o calor gerado pelo decaimento radioativo. Além disso, os pesquisadores descobriram que quaisquer possíveis oceanos localizados sob as crostas geladas dessas luas seriam enriquecidos com cloretos, amônia e sais, substâncias que reduzem o ponto de congelamento da água.
A combinação de um baixo ponto de congelamento e calor interno adequado indica a possibilidade de que Ariel, Umbriel, Titânia e Oberon abriguem oceanos a dezenas de quilômetros de profundidade em seus interiores, conforme relatado pelos pesquisadores.
No ano de 2020, foram identificadas algumas evidências de atividade geológica recente em Ariel, o que sugere a possibilidade de movimentação de um potencial oceano interno.
Quanto a Miranda, também são observadas características de superfície que aparentam ser relativamente recentes, conforme afirmam os pesquisadores, no entanto, as análises realizadas indicam que, caso a lua tenha abrigado um oceano líquido em algum momento, é provável que o mesmo já esteja congelado.
Para comprovar a existência desses oceanos ocultos, os cientistas necessitarão empregar abordagens criativas. A utilização de espectrômetros capazes de detectar os comprimentos de onda da luz refletidos pela presença de amônia e cloretos pode auxiliar na comprovação da existência desses compostos químicos abaixo das crostas.
Ademais, os pesquisadores podem fazer uso de instrumentos capazes de identificar correntes elétricas conduzidas pela água líquida, a fim de investigar as camadas subsuperficiais dessas luas.
Estudos avançados de modelagem, que exploram a formação dessas luas, também podem proporcionar orientações aos pesquisadores quanto às observações necessárias a serem realizadas no futuro, conforme mencionado por Castillo-Rogez.
“Precisamos desenvolver novos modelos para diferentes suposições sobre a origem das luas, a fim de orientar o planejamento de futuras observações”, disse ela.