Descoberta incrível! Pela primeira vez, ondas sísmicas revelam um núcleo líquido em Marte, contribuindo para o estudo da evolução planetária.
O módulo InSight trouxe uma surpresa reveladora sobre Marte: o núcleo líquido do planeta é menor e mais denso do que se imaginava. Com a captura de ondas sísmicas que percorreram o outro lado do planeta, os cientistas puderam investigar as características desse núcleo pela primeira vez.
Há mais de um século, nosso conhecimento sobre o núcleo da Terra vem sendo aprimorado por meio do estudo dos efeitos de distorção nas ondas de terremotos que ocorrem do outro lado do mundo. Agora, é a vez de outro planeta receber nossa atenção. Com a chegada da missão InSight a Marte, os cientistas planetários estavam ansiosos para descobrir mais sobre a ação sísmica local. A captura de terremotos do outro lado do planeta era um sonho improvável, mas que se tornou realidade graças à perseverança do projeto.
Na Terra, os sismógrafos conseguem medir o tremor provocado por terremotos próximos e, assim, comparar esses resultados com os observados do outro lado do planeta, para estudar as mudanças causadas pela passagem pelo núcleo. Em Marte, havia apenas um único dispositivo de medição sísmica, que precisava fazer tudo sozinho – mas um novo artigo revela que essa foi uma ferramenta suficiente para obter informações valiosas sobre o núcleo marciano, por meio da comparação entre as ondas que seguiram uma rota direta e as que se curvaram pelo manto.
“Nós ouvimos efetivamente a energia que viaja pelo coração de outro planeta”, declarou Jessica Irving, da Universidade de Bristol, em um comunicado emocionante. Graças a dois sinais sísmicos capturados – um de um terremoto muito distante e outro de um impacto de meteorito no outro lado do planeta – pudemos finalmente sondar o núcleo de Marte com ondas sísmicas.
"As ondas capturadas pelos cientistas indicam que o núcleo líquido de Marte tem um raio menor e é mais denso do que as estimativas anteriores baseadas em ondas refletidas. Com base na densidade calculada e na velocidade das ondas sísmicas, os autores da pesquisa buscaram uma combinação de elementos que, nas condições marcianas, correspondessem às medições realizadas.
Como explicou Jessica Irving, da Universidade de Bristol, “os eventos do lado oculto [de Marte] são intrinsecamente mais difíceis de detectar porque uma grande quantidade de energia é perdida ou desviada à medida que as ondas viajam pelo planeta”. Além disso, Marte é muito menos sismicamente ativo do que a Terra, o que torna ainda mais desafiador capturar sinais sísmicos precisos.
No entanto, após um ano de operação do módulo InSight em Marte, um terremoto ocorrido do outro lado do planeta foi finalmente capturado no dia 976 da missão. E, 24 dias depois, um impacto de meteorito cuja localização pôde ser rastreada com precisão foi registrado.
A descoberta de um núcleo planetário contendo uma grande quantidade de elementos leves, como enxofre, hidrogênio, oxigênio e carbono, ao invés de ser apenas uma bola de ferro como se esperava, pode ajudar a explicar o rápido desaparecimento do campo magnético planetário de Marte e suas consequências desastrosas.
Segundo a cientista Jessica Irving, cerca de um quinto da massa do núcleo marciano é composta por esses elementos leves, em contraste com o núcleo predominantemente de ferro-níquel da Terra. Essa descoberta, além de aprimorar os modelos de formação de Marte, pode fornecer informações importantes sobre as condições que permitiram que esses elementos estivessem presentes no núcleo, ajudando a entender a evolução do planeta.
As implicações das descobertas são vastas e emocionantes. Com essas medições precisas da estrutura interna de dois planetas, não apenas um, agora temos mais informações para prever as composições dos planetas rochosos encontrados em outros sistemas estelares.
O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.