Primeira conferência realizada por cientistas chineses para discutir a construção de uma base lunar tripulada, abordando desafios e planos para futuras missões.
Aproximadamente cem pesquisadores congregaram-se em Wuhan com o objetivo de deliberar sobre projetos que viabilizem a construção de infraestrutura necessária e enfrentar os desafios que se apresentarão ao longo da missão. Conforme declarado por um proeminente cientista participante, esses planos se mostram fundamentais para a busca da humanidade pela exploração espacial e para atender às necessidades estratégicas da China.
No último sábado, cientistas chineses promoveram a primeira conferência dedicada à discussão de planos para construir uma base tripulada na Lua. O evento, denominado Conferência de Construção Extraterrestre, contou com a participação de mais de cem pesquisadores provenientes de universidades nacionais, institutos de pesquisa e empreiteiros espaciais, e foi sediado na Universidade de Ciência e Tecnologia Huazhong, em Wuhan.
Durante a conferência, foram discutidos diversos tópicos relacionados aos planos para construção de infraestrutura básica na lua, bem como a utilização de robôs e a simulação do ambiente lunar na Terra. De acordo com o especialista em construção inteligente e cientista-chefe do Centro Nacional de Inovação Tecnológica para Construção Digital da universidade, Ding Lieyun, “a construção extraterrestre ainda está em um estágio muito inicial.
O objetivo desta conferência é promover o diálogo, reunir ideias e formar um consenso à medida que a comunidade avança”. Além disso, Ding ressaltou que a construção de habitações extraterrestres é essencial para a exploração espacial da humanidade e para atender às necessidades estratégicas da China como potência espacial.
"No evento, Ding apresentou os últimos desenvolvimentos de seu laboratório, que incluem a criação de amostras de solo lunar simulado. Ademais, a equipe de Ding já propôs projetos de bases lunares, tais como o Lunar Pot Vessel em forma de ovo, composto por tijolos produzidos a partir do solo lunar através de impressoras 3D e lasers.
Posteriormente, sua equipe utilizou um robô chamado Chinese Super Mason para unir os tijolos através de técnicas tradicionais de construção chinesas, processo este que foi comparado por Ding à construção com peças de Lego. De acordo com ele, essa abordagem é menos arriscada e mais eficiente do que imprimir toda a estrutura.
Ding mencionou que a construção de uma base lunar envolve vários desafios, tais como a falta de água, a baixa gravidade, os terremotos lunares frequentes e a forte radiação
Durante uma entrevista ao Changjiang Daily, Ding Lieyun afirmou que o primeiro tijolo feito de solo lunar será construído durante a missão Chang’e 8, daqui a cerca de cinco anos. “Usaremos solo lunar real para fazer o primeiro tijolo lá mesmo na lua”, acrescentou o especialista em construção inteligente.
Enquanto isso, o designer-chefe da quarta fase do projeto de exploração lunar da China, Yu Dengyun, alertou que os cientistas podem ter subestimado a diferença de temperatura entre o dia e a noite na lua.
Yu e pesquisadores do Harbin Institute of Technology publicaram projetos detalhados de duas bases lunares, chamadas Clover e Red Star, no Journal of Deep Space Exploration em fevereiro. Ambos os projetos consistem em quatro cabines que podem acomodar três ou quatro astronautas para uma estadia de curto prazo.
Em declaração durante a conferência, Yu afirmou que a consolidação da presença humana na lua pode levar de 20 a 30 anos, ou mais, e que é fundamental começar a trabalhar em conjunto desde já.
Além disso, o designer-chefe da quarta fase do projeto de exploração lunar da China atualizou a linha do tempo para as próximas missões Chang’e, indicando que a Chang’e 6 será lançada em 2025 para coletar amostras do lado oposto da lua, sendo um marco histórico para a humanidade.
Enquanto isso, a missão Chang’e 7 está programada para ser lançada no ano seguinte e deve pousar na Bacia do Polo Sul-Aitken, a fim de realizar pesquisas sobre gelo de água no fundo das crateras.
Por fim, em torno de 2028, a missão Chang’e 8 pousará na superfície lunar, com o objetivo de explorar os recursos locais e testar tecnologias-chave, em conjunto com a missão Chang’e 7, visando abrir caminho para uma futura base de pesquisa lunar.