Uma recente descoberta arqueológica na cidade peruana de Barranca trouxe à luz um conjunto impressionante de 22 múmias, a maioria dos quais pertencia a crianças pequenas e bebês recém-nascidos.
A equipe responsável pela descoberta é composta por cientistas polonês-peruanos, liderada pelo arqueólogo peruano Plinio Guillen Alarcón e pelo bioarqueólogo Łukasz Majchrzak, de Cracóvia.
O sítio arqueológico em questão está localizado nos arredores da cidade de Barranca, na colina Cerro Colorado, no Vale Pativilca. Embora conhecido pelos pesquisadores há várias décadas, a verdadeira origem e funções desse complexo permaneceram desconhecidas até recentemente.
Em 2022, a equipe iniciou um projeto de pesquisa sob o Programa de Investigação ‘Los valles de Barranca’, financiado pela Agência Nacional de Intercâmbio Acadêmico.
Durante as escavações do ano passado, os pesquisadores dataram o complexo até a segunda metade do século XIX. No entanto, foi durante o trabalho deste ano que a equipe fez uma descoberta surpreendente: 22 sepultamentos intactos, contendo não apenas os corpos envoltos em tecidos, mas também cerâmicas, ferramentas e restos de comida.
"Os enterros mumificados consistiam em seis feixes pertencentes a adultos e 16 a crianças, sugerindo uma alta mortalidade infantil na comunidade. O bioarqueólogo Łukasz Majchrzak destaca a posição e o método de enterro das crianças como particularmente intrigantes. As crianças foram enterradas em posição horizontal, na altura das cabeças dos adultos, enquanto estes foram dispostos verticalmente em posição fetal.
“Esses são corpos envoltos em tecidos e material vegetal, que na arqueologia chamamos de feixes de enterro. Ao examinar os restos humanos, entre as camadas desses tecidos, encontramos cerâmicas, ferramentas e objetos de culto”, diz o bioarqueólogo Łukasz Majchrzak.
Majchrzak observa que, historicamente, a alta mortalidade infantil não era incomum, especialmente durante o desmame. No entanto, a maneira única como as crianças foram enterradas levanta questões sobre a prática funerária da comunidade. Ele pondera se todas as crianças foram enterradas nesse local ou se existem outras áreas no cemitério dedicadas a crianças mais velhas.
“Neste momento, é difícil dar uma única interpretação a essa descoberta. É possível que toda a comunidade tenha simplesmente enterrado crianças nesse local. O que ainda é intrigante é o fato de que essas são claramente crianças com não mais de 2 anos de idade (a julgar pelo comprimento dos feixes), algumas delas certamente recém-nascidas ou bebês. É possível que, por algum motivo, crianças mais velhas tenham sido enterradas em outras partes do cemitério”, disse Łukasz Majchrzak.
A análise dos feixes de enterro revelou também que alguns dos corpos eram de recém-nascidos, com poucos dias de vida. Os materiais com os quais foram envolvidos incluem tecidos decorados com padrões geométricos, sugerindo possíveis representações de animais e deuses em outros feixes ainda não analisados.
“Na visão póstuma andina, um homem viaja por um ano até chegar ao seu destino. Portanto, ele precisa de comida. Encontramos até espigas de milho e outros materiais vegetais não identificados em vários dos fardos.”
A Dra. Justyna Marchewka-Długońska, da Universidade Cardeal Stefan Wyszyński, lidera a equipe na próxima fase da pesquisa. Os cientistas planejam utilizar a tomografia computadorizada para examinar os feixes de sepultamentos preservados sem danos visíveis, permitindo uma análise antropológica não invasiva. Além disso, análises químicas e de isótopos, incluindo o isótopo de estrôncio, ajudarão a determinar se a população era local.
As descobertas preliminares datam os enterros de 1000 a 1100 d.C., e os cientistas confirmarão essas datas por meio de datação por radiocarbono.
Essa pesquisa proporciona não apenas uma janela fascinante para a prática funerária antiga, mas também lança luz sobre a vida e a mortalidade em uma comunidade ancestral no Peru. À medida que a equipe explora mais a fundo, novas revelações sobre essa civilização perdida podem emergir, enriquecendo nossa compreensão da história da região.