Especialistas desvendaram detalhes intrigantes das enigmáticas esculturas de rocha com cerca de 8.000 anos de existência, que foram descobertas na maior cratera de asteroide do mundo.
A estrutura de Vredefort, situada na África do Sul, é reconhecida mundialmente por abrigar a maior cratera de impacto de meteorito já registrada. Porém, o que era considerado apenas um sítio geológico de valor histórico, recentemente surpreendeu a comunidade científica com uma descoberta que pode revolucionar nossa compreensão das civilizações antigas. Arqueólogos desvendaram enigmáticas esculturas rupestres feitas por humanos há cerca de 8.000 anos, encontradas na maior cratera de impacto de asteroides do planeta.
Essas esculturas intricadas são verdadeiras obras de arte que retratam diversas espécies de animais e, segundo acredita-se, possuem um significado espiritual relacionado à produção de chuva. Essa descoberta fascinante nos oferece uma nova visão sobre a cultura e as crenças dos primeiros seres humanos que habitaram a região durante o Holoceno.
Impossível não ficar boquiaberto diante da estrutura colossal de Vredefort, a maior cratera de impacto já documentada em toda a Terra, com impressionantes 190 milhas (300 km) de largura. Formada há mais de 2 bilhões de anos, durante a Era Paleoproterozóica, essa cicatriz gigantesca foi causada pela colisão de um asteroide colossal, com cerca de 10 a 15 quilômetros de largura, que se movia a uma velocidade incrível de 43.500 milhas por hora (70.000 quilômetros por hora).
No século após sua descoberta, muita pesquisa foi feita sobre a estrutura do local do impacto, mas pouco foi feito sobre algumas das características mais peculiares da cratera, como seus “Granophyre Dykes” – estruturas longas e estreitas que podem ter 9,5 quilômetros de comprimento e 16 pés de largura. Eles são construídos de uma rocha marrom-acinzentada que contém pedaços de diferentes rochas.
"Os diques foram produzidos como resultado da colisão, segundo pesquisas anteriores, mas não está claro como o material derretido que deu origem às rochas foi levado à superfície.
Enquanto os pesquisadores exploravam as formações rochosas únicas do local, eles tiveram uma surpresa deslumbrante: uma coleção de esculturas antigas que até então eram desconhecidas dos arqueólogos.
Foi durante uma visita ao local em 2010 que Matthew T. Huber, professor sênior de geologia econômica na renomada Universidade do Estado Livre da África do Sul, descobriu essas maravilhas da arte rupestre. Embora os cientistas planetários e geólogos que trabalhavam no local já tivessem conhecimento dessas representações há anos, foi somente com a descoberta de Huber e sua equipe que a comunidade arqueológica e antropológica se deu conta de sua existência.
Encantados com essa descoberta fascinante, Huber e seus colegas logo iniciaram uma busca incansável por apoio e recursos para estudar a fundo essas características.
Existem várias “gerações” de esculturas no local, abrangendo desde 8.000 anos atrás até 500 anos atrás. “É quase certo que o dique foi usado como local de chuva, e sabemos disso por causa dos petróglifos que existem lá”, disse Huber. “Os estilos de arte mudaram ao longo do tempo, e algumas esculturas foram alteradas (mudando a cabeça de um animal para um animal diferente). No entanto, o que permanece constante no local é a ligação com a produção de chuva.”
Descobertas recentes revelam que as esculturas, que retratam animais como hipopótamos, cavalos e rinocerontes, foram criadas há cerca de 8.000 anos pelos Khoi-San, considerados os “Primeiros Povos” da África do Sul. Conforme Matthew T. Huber, renomado professor de geologia econômica da Universidade do Estado Livre da África do Sul, os Khoi-San reconheceram a natureza singular da cratera de impacto, e a honraram por meio dessas obras de arte.
“A área ao redor desses diques está repleta de artefatos e esculturas do povo Khoi-San. Obviamente, eles também reconheceram a importância do local. O que é surpreendente é que os mesmos diques que reconhecemos ter o maior significado geológico também tiveram o maior significado espiritual para esses primeiros habitantes. Nossos estudos antropológicos estão focados em tentar descobrir exatamente o que foi feito nesses locais e como isso influenciou as pessoas que estavam lá.”
A descoberta de um dique com formato similar à “Cobra da Chuva”, divindade adorada pelos Khoi-San, surpreendeu os pesquisadores que trabalhavam no local. Segundo os arqueólogos Shiona Moodley e Jens Kriek, a mitologia San é estruturada em três níveis: o superior, onde habitam os deuses e espíritos dos mortos; o mundo material, onde vivemos; e o subterrâneo, associado aos mortos e viagens xamânicas. Em cada um desses níveis, as cobras são presença constante e simbolizam a “chuva”.
A figura divina mais importante para os Khoi-San, Kaggen, tinha a habilidade de se metamorfosear em uma cobra e com isso inundar as terras.
Huber acredita que o Khoi-San utilizou o dique em formato de cobra como um “local de chuva”. Para ele, apesar de algumas variações nos estilos das esculturas e artes ao longo do tempo, há uma conexão constante com a importância da chuva para essa cultura. “O dique está posicionado perto do rio Vaal – um corpo de água – e está no topo de uma colina. Como ponto alto, teria atraído relâmpagos. Os animais esculpidos no dique estão todos associados à mitologia do San, que faz chover. Todas essas características indicam que o local está sendo usado para fazer chuva.”
É surpreendente pensar que essas esculturas sobreviveram por tanto tempo, transmitindo informações valiosas sobre o nosso passado e dando um vislumbre das crenças e da cultura das pessoas que as fizeram. Embora não possamos saber ao certo o verdadeiro significado dessas obras de arte, é fascinante pensar que elas podem ter um significado espiritual, retratando animais que foram considerados sagrados pelos antigos habitantes da região.
Essa descoberta é uma prova das infinitas possibilidades da exploração científica e dos mistérios que ainda aguardam para serem desvendados. É animador pensar no que a comunidade científica poderá encontrar no futuro, à medida que continuamos a desvendar os segredos da história e da cultura humana.