O asteroide Ryugu, localizado nas proximidades, capturou significativa atenção após a missão japonesa Hayabusa-2 coletar e enviar amostras de volta à Terra. Uma equipe de cientistas conduziu uma análise minuciosa dessas amostras, revelando indícios que apontam para a presença de matéria orgânica cometária, originada no espaço e transportada para as proximidades da Terra.
O professor Megumi Matsumoto, da Universidade de Tohoku, liderou a equipe e é o autor principal do estudo que foi publicado na Science Advances.
O asteroide Ryugu carece de uma atmosfera protetora, deixando sua camada superficial diretamente exposta ao espaço. Consequentemente, partículas interestelares diminutas podem colidir com o asteroide, provocando alterações na composição de sua superfície.
Matsumoto e seus colegas identificaram pequenos “respingos fundidos” nas amostras, variando em tamanho de 5 a 20 micrômetros. Esses respingos derretidos foram gerados durante o bombardeio do Ryugu por micrometeoroides de poeira cometária.
![Asteroide Ryugu fotografado a uma distância de 40 km.](https://mysteryplanet.com.ar/site/wp-content/uploads/2018/06/ryugu1.jpg)
“Nosso escaneamento tridimensional e análise química mostraram que os respingos fundidos consistem principalmente de vidros de silicato com cavidades e pequenas inclusões de sulfetos de ferro esféricos”, disse Matsumoto. “As composições químicas dos respingos fundidos sugerem que os silicatos hidratados de Ryugu foram misturados com poeira cometária”.
"A interação entre os materiais superficiais do Ryugu e a poeira cometária, durante o impacto causado por rápidos ciclos de aquecimento e resfriamento, resultou na formação dos respingos fundidos. As cavidades presentes correspondem à liberação de vapor de água proveniente dos silicatos hidratados do asteroide, que posteriormente foi capturado nos respingos derretidos.
A investigação também evidenciou a presença de inclusões de sulfetos de ferro e pequenas partículas carbonáceas com nanoporos abundantes. Estas últimas apresentam semelhança textural com a matéria orgânica primordial encontrada na poeira cometária, embora careçam de nitrogênio e oxigênio, conferindo-lhes uma distinção química em relação à matéria orgânica.
“Propomos que os materiais carbonosos foram formados a partir de matéria orgânica cometária pela evaporação de voláteis, como nitrogênio e oxigênio, durante o aquecimento induzido pelo impacto. Isso sugere que a matéria cometária foi transportada para a região próxima à Terra a partir do sistema solar externo”, acrescentou Matsumoto. “Essa matéria orgânica poderia ser a semente primordial da vida, trazida do espaço para a Terra.”
A constatação japonesa encontra eco na atual pesquisa da NASA, na qual os cientistas estão minuciosamente examinando amostras do asteroide Bennu, coletadas pela sonda OSIRIS-REx. Em um anúncio feito em outubro, a agência espacial norte-americana divulgou ter identificado os “elementos constitutivos da vida na Terra” nas amostras preliminares recolhidas fora do mecanismo de coleta da espaçonave.
Contudo, os pesquisadores ainda enfrentam um extenso percurso antes de poderem afirmar de maneira conclusiva que a vida na Terra teve origem a partir de matéria orgânica proveniente do espaço. Mesmo assim, diante dos resultados mais recentes, há motivos para otimismo.