Cientistas na China anunciaram o nascimento de uma quimera de macaco, resultado de um experimento sem precedentes que utiliza células-tronco pluripotentes de dois óvulos fertilizados geneticamente distintos da mesma espécie de macaco.
Esse macaco de cauda longa (Macaca fascicularis) apresentava características únicas, como olhos verdes e pontas dos dedos que brilhavam de forma fluorescente. Contudo, as peculiaridades não se limitavam às observações superficiais; sob a pele e nos genes desse primata, revelavam-se aspectos ainda mais notáveis.
O experimento, conduzido por pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências (CAS), resultou no nascimento de um macaco quimérico que, de acordo com especialistas do campo, é o mais misto ou quimérico de todos os macacos já criados artificialmente.
Uma quimera animal, na ciência, é um organismo único composto de células provenientes de mais de dois pais, e nesse caso específico, as células e tecidos eram evidentes em diversas partes do corpo, incluindo cérebro, coração, rins, fígado, trato gastrointestinal, testículos e células que se tornam o esperma.
A pesquisa envolveu a utilização de células-tronco pluripotentes de dois embriões diferentes da mesma espécie de macaco. Os resultados revelaram uma ampla gama de contribuições das células-tronco adicionais, variando de 21% a impressionantes 92% em diferentes tipos de tecido, sendo a última observada nos tecidos cerebrais.
"Esse nível de quimerismo é significativamente superior aos estudos anteriores, que resultaram em macacos quiméricos com contribuições de células doadoras variando de 0,1 a 4,5%.
Entretanto, apesar desse avanço científico, o macaco quimérico mais recente sobreviveu apenas dez dias, levantando questões sobre a saúde contínua desses primatas. Zhen Liu, engenheiro reprodutivo e principal autor do estudo, destaca que a sobrevivência a longo prazo dos macacos quiméricos permanece um desafio a ser superado.

Apesar disso, Liu expressa otimismo ao afirmar que o trabalho poderia ajudar na geração de modelos mais precisos para o estudo de doenças neurológicas e em outros campos biomédicos.
A pesquisa com animais quiméricos não é isenta de preocupações éticas, mas seus proponentes argumentam que os benefícios, como modelos mais precisos para testar doenças e terapias, justificam os esforços.
A capacidade de editar geneticamente as células-tronco do doador oferece perspectivas promissoras para testar resultados de doenças em modelos de macacos, proporcionando um controle mais preciso sobre as contribuições das células-tronco em tecidos específicos.
Apesar da eficiência do processo ainda ser considerada baixa, representando cerca da metade do sucesso da criação de embriões sem quimerismo por meio de fertilização in vitro, os cientistas estão otimistas em relação aos avanços futuros.
A melhoria na taxa de sobrevivência das células-tronco durante o desenvolvimento embrionário é um desafio em andamento que a equipe espera superar, aprimorando assim a eficácia desse procedimento inovador.
Em conclusão, o anúncio do nascimento do macaco quimérico representa um passo significativo no avanço da pesquisa biomédica, abrindo portas para estudos mais aprofundados sobre doenças e terapias, embora desafios éticos e de eficiência ainda necessitem de atenção.
O futuro da manipulação genética em primatas não humanos promete contribuir para avanços notáveis na compreensão e tratamento de condições médicas complexas.
O estudo foi publicado na revista Cell.