Em seu novo livro, intitulado “Determinado: a Vida Sem Livre-Arbítrio“, Sapolsky mergulha em uma análise implacável dos argumentos pró-livre-arbítrio e apresenta uma visão controversa, afirmando que praticamente todas as nossas ações são moldadas por uma interconexão complexa de fatores biológicos, educacionais, ambientais e até mesmo surpresas da vida. Somos, segundo ele, meras “máquinas biológicas”.
“O mundo está realmente bagunçado e se tornou muito, muito mais injusto pelo fato de recompensarmos e punirmos as pessoas por coisas sobre as quais elas não têm controle”, disse Sapolsky ao The LA Times. “Não temos livre arbítrio. Parem de atribuir a nós coisas que não existem.”
A posição de Sapolsky pode parecer extrema, mas ele argumenta que mesmo as supostas pequenas decisões são predestinadas. Ele considera a definição de livre-arbítrio como algo inútil, afirmando que, para que ele existisse, teria que operar em um nível biológico totalmente independente da história do organismo.
Em outras palavras, seria necessário que o livre-arbítrio fosse imune à influência de qualquer neurônio no cérebro, do ambiente, dos níveis hormonais, da cultura e do contexto em que a pessoa foi criada.
“Para que esse tipo de livre-arbítrio existisse, ele teria que funcionar em um nível biológico de forma totalmente independente da história do organismo”, disse ele ao jornal. “Seria possível identificar os neurônios que causaram um determinado comportamento, e não importaria o que qualquer outro neurônio do cérebro estivesse fazendo, qual fosse o ambiente, os níveis hormonais da pessoa, a cultura em que ela foi criada.”
"Sapolsky destaca que ao longo da vida somos condicionados a responder a uma infinidade de estímulos, e a maneira como reagimos a eles é uma consequência de nossa genética e do que aprendemos durante a educação.
Em suma, nossas ações e decisões são moldadas por nossos gostos, predileções, valores e caráter, que, por sua vez, têm raízes profundas em nossa biologia e experiências passadas.
A ideia de que o livre-arbítrio significa que estamos no comando de nossas ações é uma “definição completamente inútil”, disse ele ao The New York Times.
A implicação mais profunda de negar o livre-arbítrio, de acordo com Sapolsky, é que a responsabilidade moral perde sua base. Se nossas ações são determinadas por fatores que estão além de nosso controle consciente, a noção de responsabilidade moral se desintegra.
Em vez disso, só podemos assumir “a propriedade” do que fazemos em um sentido puramente mecânico, como uma máquina programada para funcionar de uma determinada maneira.
Naturalmente, essa perspectiva tem gerado reações mistas. O neurocientista Peter U. Tse, do Dartmouth College, chama Sapolsky de “brilhante e totalmente errado”, alegando que aqueles que negam o livre-arbítrio contribuem para o sofrimento psicológico e a desesperança no mundo.
A ideia de que somos meros produtos de determinismo bioquímico pode, segundo Tse, minar a esperança e o sentido da responsabilidade.
Independentemente de concordarmos ou discordarmos, a visão de Sapolsky oferece um desafio intrigante para a compreensão convencional da natureza humana e do livre-arbítrio.
Independentemente da validade desta crítica, Sapolsky sustenta a perspectiva de que sua intenção primordial reside na promoção da felicidade dos seres humanos, em oposição à sua propensão ao sofrimento. O autor, no entanto, reconhece a possibilidade de que tal assertiva possa não se manter consistentemente no âmbito de seu argumento central.
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“É logicamente indefensável, ridículo e sem sentido acreditar que algo ‘bom’ possa acontecer a uma máquina”, escreveu ele, de acordo com o LA Times. “No entanto, tenho certeza de que é bom se as pessoas sentirem menos dor e mais felicidade.”
Sua perspectiva nos convida a examinar mais profundamente o que realmente significa ser responsável por nossas ações e a questionar a influência inegável que a biologia, a educação e as circunstâncias têm sobre nós.
Enquanto o debate sobre o livre-arbítrio e sua relação com a moralidade persiste, a perspectiva de Sapolsky nos força a repensar a complexidade do comportamento humano e a natureza de nossas escolhas.