O universo é um lugar vasto e misterioso, repleto de fenômenos celestes que desafiam nossa compreensão. Recentemente, um desses enigmas cósmicos, conhecido como Luminous Fast Blue Optical Transient (LFBOT), capturou a atenção dos astrônomos, e sua natureza desconcertante foi acentuada pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA.
Ashley Chrimes, o principal autora de um artigo que relata essa descoberta fascinante, expressou a surpresa e perplexidade que a comunidade astronômica compartilha diante desses eventos extraordinários.
Os LFBOTs são eventos de luz visível incrivelmente brilhantes que surgem no universo de forma inesperada, assemelhando-se a flashes de câmera. Sua raridade é notável, com apenas um punhado deles detectados desde a primeira observação em 2018, apelidada de “a Vaca”, localizada a cerca de 200 milhões de anos-luz de distância.
A surpreendente descoberta recente, denominada AT2023fhn ou “o Finch”, demonstrou as características típicas de um LFBOT: brilho intenso em luz azul e uma rápida evolução, atingindo seu pico de luminosidade em questão de dias, muito diferente das supernovas, que levam semanas ou meses para se apagarem.
Entretanto, o que torna o Finch verdadeiramente intrigante é sua localização singular entre duas galáxias vizinhas, a aproximadamente 50.000 anos-luz de uma galáxia espiral próxima e 15.000 anos-luz de uma galáxia menor. Isso contrasta com as expectativas astronômicas, já que os LFBOTs anteriores foram encontrados nos braços espirais de galáxias onde ocorre o nascimento de estrelas.
"“As observações do Hubble foram realmente cruciais. Elas nos fizeram perceber que esse caso era incomum em comparação com outros semelhantes, porque sem os dados do Hubble não saberíamos”, disse Ashley Chrimes.
“Quanto mais aprendemos sobre os LFBOTs, mais eles nos surpreendem”, diz Chrimes. “Mostramos agora que os LFBOTs podem ocorrer muito longe do centro da galáxia mais próxima, e a localização do Finch não é a que esperamos para qualquer tipo de supernova.”
A descoberta do Finch foi possível graças à Zwicky Transient Facility, uma câmera terrestre de amplo alcance que rastreia o céu do hemisfério norte a cada dois dias. Uma vez avistado, um programa de observações pré-planejado foi ativado rapidamente para estudá-lo em detalhes.
Medições espectroscópicas do telescópio Gemini South, no Chile, revelaram que o Finch alcançava incríveis 36.000 graus Fahrenheit. Além disso, o telescópio Chandra X-ray Observatory da NASA e os radiotelescópios Very Large Array da National Science Foundation contribuíram para confirmar que a explosão era de fato um LFBOT.
Uma das teorias em consideração é que os LFBOTs podem ser o resultado de estrelas sendo despedaçadas por buracos negros de massa intermediária, que variam entre 100 e 1.000 massas solares.
O Telescópio Espacial James Webb da NASA, com sua alta resolução e sensibilidade infravermelha, pode ser fundamental para determinar se o Finch explodiu dentro de um aglomerado de estrelas globulares no halo externo de uma das galáxias vizinhas, onde tais buracos negros intermediários são mais prováveis de serem encontrados.
Outra teoria especulativa envolve a colisão de duas estrelas de nêutrons, que viajaram para longe de sua galáxia hospedeira por bilhões de anos. Essas colisões podem resultar em uma quilonova, uma explosão 1.000 vezes mais poderosa do que uma nova estelar padrão.
Ainda mais intrigante é a possibilidade de que uma das estrelas de nêutrons envolvidas seja uma magnetar altamente magnetizada, amplificando ainda mais o brilho da explosão.
Ashley Chrimes conclui: “A descoberta apresenta muito mais perguntas do que respostas. É preciso trabalhar mais para descobrir qual das muitas explicações possíveis é a correta.”
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Devido à natureza fugaz desses eventos astronômicos, os pesquisadores dependem de levantamentos amplos do céu para detectá-los e direcionar observatórios, como o Hubble, para observações de acompanhamento.
Com o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de novos telescópios, como o Observatório Vera C. Rubin, com capacidade de monitoramento em larga escala, a esperança é que possamos desvendar mais segredos sobre os enigmáticos LFBOTs e sua origem cósmica. Em um universo tão vasto e misterioso, cada descoberta nos aproxima um pouco mais da compreensão de seus mistérios profundos.