Dados obtidos por meio de satélites revelam que o aumento no tamanho do buraco na camada de ozônio, no decorrer do presente ano, corresponde a aproximadamente o dobro da extensão do território antártico.
Especialistas afirmam que a erupção do vulcão submarino localizado nas proximidades de Tonga, ocorrida no início do ano passado, pode estar relacionada, em parte, à ampliação significativa desta cavidade atmosférica.
O presente ano testemunhou a formação de um dos maiores buracos na camada de ozônio sobre a região antártica, conforme indicado por dados de satélite. Especialistas aventam a possibilidade de que a significativa abertura na camada protetora da Terra possa estar relacionada com a erupção do vulcão submarino próximo a Tonga, ocorrida nos primeiros meses de 2022.
A camada de ozônio representa uma porção da atmosfera terrestre situada entre 9 e 18 milhas (15 e 30 quilômetros) acima da superfície, caracterizada por uma elevada concentração de ozônio, uma molécula de oxigênio composta por três átomos em vez dos habituais dois.
Esta camada desempenha um papel crucial ao bloquear os níveis prejudiciais de raios ultravioleta (UV) emitidos pelo sol, um fenômeno essencial para a preservação de diversas formas de vida, incluindo a humana.
"Em 1985, observou-se o surgimento de notáveis rupturas na camada de ozônio sobre as áreas polares da Terra, sendo que os clorofluorcarbonetos (CFCs), produtos químicos comumente utilizados em aerossóis, embalagens e refrigeradores na época, foram identificados como reagindo com o ozônio na atmosfera terrestre, com consequente redução dos níveis de ozônio.
Esse achado conduziu a comunidade internacional a proibir o uso de CFCs a partir de 1989, o que permitiu, ao longo do tempo, a recuperação dos níveis de ozônio.
Contudo, é importante ressaltar que mesmo atualmente, lacunas na camada de ozônio continuam a se formar acima das regiões polares durante os meses de inverno de cada hemisfério. Esse fenômeno se manifesta devido à formação de nuvens estratosféricas polares (PSCs), que são estruturas extremamente elevadas compostas por diminutos cristais de gelo, que por vezes apresentam uma coloração semelhante ao arco-íris.
As PSCs contribuem para o empobrecimento adicional da já limitada concentração de ozônio sobre as regiões polares.
No que se refere ao buraco de ozônio deste ano sobre a Antártica, destaca-se que atingiu seu tamanho máximo em 16 de setembro, quando alcançou uma área impressionante de 10 milhões de milhas quadradas (26 milhões de quilômetros quadrados), conforme relato da Agência Espacial Europeia (ESA), responsável pela monitorização do buraco por meio do satélite Copernicus Sentinel-5P.
É relevante notar que esta área é aproximadamente equivalente à extensão territorial da América do Norte, três vezes maior do que o território brasileiro, equivalente à soma dos territórios da Rússia e China, ou cerca de duas vezes a superfície da própria Antártica.
“O buraco de ozônio de 2023 teve um início precoce e cresceu rapidamente desde meados de agosto”, disse Antje Inness, pesquisadora do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo, no comunicado. Esse é “um dos maiores buracos de ozônio já registrados”, acrescentou.
A extensa abertura na camada de ozônio pode ser correlacionada com a erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, cuja explosão, ocorrida em janeiro de 2022, foi comparável, em termos de energia liberada, a mais de 100 explosões nucleares do tipo ocorridas em Hiroshima.
Adicionalmente, a mencionada erupção vulcânica produziu a pluma de erupção mais elevada já registrada, conforme observações dos pesquisadores.
Em agosto de 2022, um grupo de cientistas distinto emitiu um alerta acerca da potencial desestabilização da camada de ozônio em virtude da erupção vulcânica, após a injeção na atmosfera superior de mais de 50 milhões de toneladas de água, o que representou um incremento de 10% na quantidade total de água presente na atmosfera.
Estes cientistas propuseram que o vapor de água, ao se decompor em íons ou moléculas carregadas, poderia suscitar perturbações na camada de ozônio de maneira análoga à observada com os clorofluorcarbonetos (CFCs), desencadeando reações prejudiciais ao ozônio.
Adicionalmente, salientaram que o aumento da presença de vapor de água na atmosfera também potencializa a formação de nuvens estratosféricas polares (PSCs) nas regiões polares, conforme relatado pela Agência Espacial Europeia (ESA).
Neste momento, verifica-se que as previsões realizadas por tais cientistas se mostram corroboradas, conforme declarado por Inness. Entretanto, é imperativo ressaltar que uma maior investigação se faz necessária para estabelecer de maneira conclusiva a relação entre a ampliação do buraco na camada de ozônio neste ano e a erupção vulcânica. Acrescentou-se, ainda, que a pesquisa adicional é crucial para esclarecer tal conexão.
Os fenômenos de depleção da camada de ozônio ocorrentes nas regiões polares, abrangendo ambos os polos, são suscetíveis a variações naturais que também podem influenciar a dimensão da cavidade significativamente ampliada no presente ano.
Em 2019, notou-se uma redução notável no tamanho do buraco de ozônio sobre a Antártica, atingindo suas proporções mínimas já documentadas, devido a condições de temperatura excepcionalmente elevadas que inibiram a formação de nuvens estratosféricas polares (PSCs).
Por outro lado, entre os anos de 2020 e 2022, verificou-se um aumento progressivo no tamanho do buraco na camada de ozônio, à medida que as temperaturas mais frias retornaram à região polar.
O fenômeno El Niño que ocorreu no presente ano também pode ter exercido uma influência de pequena magnitude nas modificações das temperaturas nas proximidades das regiões polares; contudo, a relação exata entre ambos ainda carece de clareza no momento atual.
É relevante destacar que, apesar do atual buraco na camada de ozônio figurar como um dos mais extensos já documentados, os pesquisadores vinculados à Agência Espacial Europeia (ESA) tranquilizam quanto à ausência de motivo para alarme.
A região situada sob o referido buraco de ozônio é majoritariamente desabitada e se prevê que se restabeleça integralmente em um período de alguns meses. Além disso, acrescentam que, se os níveis de clorofluorcarbonetos (CFCs) permanecerem em níveis reduzidos, a expectativa é que a camada de ozônio se regenere completamente até o ano de 2050.