A questão sobre a existência de vida extraterrestre desperta grande interesse tanto entre cientistas quanto no público em geral, levantando a indagação acerca da possibilidade de estarmos sozinhos no universo. No âmbito científico, a atenção é direcionada principalmente para nossa busca por formas de vida em outros locais.

A concepção de sermos alvo de observação por parte de alienígenas é comumente restrita ao âmbito da ficção científica. No entanto, caso existissem outras civilizações tecnologicamente avançadas no universo, é provável que elas apresentassem um nível de desenvolvimento significativamente superior ao nosso.
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De fato, enquanto emergimos recentemente como uma civilização técnica incipiente, no último século e meio aproximadamente, outras civilizações tecnológicas poderiam estar à nossa frente em termos de avanço temporal, variando de 1.000 a 10.000, ou até mesmo 100.000 anos.
Não se pode negar que o ritmo de nosso próprio progresso tecnológico está se acelerando, especialmente em determinadas áreas, em taxas exponenciais. Utilizando uma paráfrase da Terceira Lei formulada pelo autor de ficção científica Arthur C. Clarke, uma civilização avançada nos pareceria capaz de realizar feitos tecnológicos que poderiam ser interpretados como magia.
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Recentemente, pesquisadores tem empreendido reflexões acerca da possibilidade de uma civilização altamente desenvolvida ser capaz de identificar as chamadas “assinaturas tecnológicas” provenientes da Terra, tais como emissões de rádio. Nesse contexto, levantamos questionamentos sobre quais elementos poderiam ser detectados por essa civilização avançada, caso tal detecção fosse factível.
"Um estudo recente fornece uma pista
Esta não constitui a primeira ocasião em que uma investigação desse teor é empreendida. Entretanto, decorreram mais de 50 anos desde que esse assunto foi devidamente abordado.
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Embora tenham ocorrido inúmeras mudanças desde meados da década de 1970, é indubitável que a transformação mais significativa ocorreu nas últimas duas décadas com a emergência dos telefones celulares.
Esses dispositivos, juntamente com as torres de comunicação que os interligam, engendraram uma nova forma de assinatura tecnológica caracterizada pela transmissão de sinais de rádio em larga escala.
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Embora os telefones celulares e as torres de transmissão individualmente possuam uma potência relativamente baixa, situando-se entre 0,1 e 200 watts, é importante ressaltar que sua presença é amplamente disseminada: bilhões de aparelhos celulares e milhões de torres em operação.
Além disso, a emissão cumulativa de sinais de rádio provenientes desses dispositivos alcança um nível de relevância substancial. No entanto, cabe questionar se essa emissão seria perceptível por uma civilização alienígena observando de uma distância considerável. Essa indagação motivou nossa busca por respostas.
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Cumpre ressaltar que a obtenção de um banco de dados público contendo informações acerca da localização e das características de transmissão de todas as torres de celular ao redor do mundo representa um desafio significativo.
No entanto, por meio da utilização do banco de dados OpenCellID, o qual se baseia em dados obtidos por meio de contribuições coletivas, se foi capaz de desenvolver um modelo simplificado capaz de estimar a distribuição global das torres de celular.
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O modelo que desenvolvido é amplamente reconhecido como rudimentar e incompleto, porém representa nossa melhor estimativa das torres de comunicação móvel, que constituem assinaturas tecnológicas vazando para o espaço.
Considerando que a Terra realiza movimentos de rotação em torno de seu eixo, uma civilização avançada localizada em algum ponto de nossa galáxia seria capaz de observar variações na intensidade das emissões de rádio provenientes das torres móveis à medida que diferentes regiões do planeta entram e saem de seu campo de visão.
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É importante destacar que o modelo enfrenta uma complexidade adicional em virtude de a transmissão das torres móveis ser direcionada predominantemente em direção ao horizonte.
Consequentemente, em qualquer instante, as torres que estão se aproximando ou se distanciando do horizonte terrestre terão uma contribuição mais significativa para o sinal de radiofrequência medido pela civilização avançada.
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Implicações extraterrestres
Uma civilização altamente desenvolvida que conduzisse medições detalhadas das emissões de rádio vazadas ao longo do tempo provavelmente seria capaz de inferir que nosso planeta é predominantemente coberto por água e está dividido em várias grandes massas de terra distintas.
As emissões de rádio, em sua maioria, emanam dessas massas de terra, e não das áreas oceânicas.
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Essa civilização também poderia deduzir que, embora a maior parte das emissões de rádio móvel esteja associada às massas de terra, as torres de comunicação (e, por extensão, seus usuários inteligentes) tendem a ser localizadas ao longo das regiões costeiras.
Além disso, eles observariam que as redes de torres de celular são distribuídas de maneira relativamente homogênea em todo o planeta.
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Essa constatação diverge dos vazamentos de rádio tradicionalmente reconhecidos, como os provenientes de grandes empresas de tecnologia, com ênfase em transmissores de televisão e radares.
Com base em simulações, foi verificamdo que regiões em desenvolvimento, como a África e a Ásia, desempenham um papel significativo nas contribuições para o vazamento de radiação proveniente da transmissão móvel terrestre.
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Tal achado não surpreende, considerando a importância dos sistemas de comunicação móvel em todos os aspectos da sociedade nos países em desenvolvimento.
Por meio de cálculos, foi estimado que a energia emitida pela Terra, em seu pico, é de aproximadamente 4 gigawatts (GW) em sua totalidade. Essa quantidade de energia seria suficiente para abastecer cerca de 750.000 residências durante uma hora.
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Foi realizada uma estimativa da transmissão observada por três estrelas distintas em nossa galáxia: HD 95735, Estrela de Barnard e Alpha Centauri A.
Entretanto, foi constatado que uma civilização extraterrestre situada nessas proximidades necessitaria de telescópios significativamente mais avançados em relação aos que possuímos para detectar o vazamento de rádio proveniente da transmissão móvel terrestre.
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Contudo, é plausível supor que tais avanços tecnológicos estejam ao alcance dessas civilizações, considerando que se espera que a maioria das sociedades técnicas sejam substancialmente mais desenvolvidas do que a nossa.
Além do vazamento de rádio móvel, existem outros tipos de emissões que essa civilização poderia detectar, como sistemas de radar militares e transmissões de comunicação no espaço profundo destinadas a espaçonaves distantes, como as sondas espaciais Voyager.
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Apesar de serem ocorrências de natureza relativamente infrequente para um observador extraterrestre, esses sinais possuem a vantagem de serem extraordinariamente poderosos.
Corporações de tecnologia de radio

As assinaturas tecnológicas na forma de emissões de rádio são, sem dúvida, uma característica essencial para identificar a existência de nossa própria civilização, do ponto de vista de uma inteligência extraterrestre.
Contudo, uma espécie alienígena também seria capaz de detectar a radiação de vazamento que abrange todo o espectro eletromagnético, incluindo a faixa da luz visível.
Caso continuemos a aumentar nosso consumo de energia no ritmo atual, o “calor residual” resultante, inevitável pelo uso de energia, também será dissipado para o espaço.
Tal dissipação seria observada como um excesso anômalo em comprimentos de onda infravermelhos, representando um sinal revelador da presença de uma civilização técnica em atividade.
Outras características tecnológicas, como a presença de poluentes industriais na atmosfera terrestre, também seriam detectáveis por alienígenas equipados com telescópios avançados e sistemas de análise espectral capazes de decompor a luz de acordo com seu comprimento de onda.
Uma civilização extraterrestre altamente desenvolvida teria a capacidade de inferir, com certeza, a fase específica de nossa industrialização e consumo de energia.
Escala de Kardashev
Na Terra, utilizamos a Escala de Kardashev como uma ferramenta para estimar o estágio de desenvolvimento de civilizações extraterrestres com base em seu nível de utilização de energia. Nessa escala, nossa própria civilização seria considerada emergente, ainda não alcançando o nível mais baixo.
Embora, atualmente, uma espécie alienígena possa não ser capaz de detectar todas essas características, é plausível que em um futuro próximo possam obter um desempenho superior nesse sentido.
Os planos envolvem a ampliação dessa investigação para incluir empresas tradicionais de radiodifusão e outras fontes emergentes de emissões de rádio, tais como sistemas 5G, redes Wi-Fi, transmissões digitais e comunicações no espaço profundo.
Isso também englobaria o envoltório de transmissão de rádio que em breve cercará a Terra à medida que o crescimento de extensas constelações de satélites, como Starlink e OneWeb, proporciona uma cobertura global de Wi-Fi.
Quem sabe, talvez seja até possível para essas entidades alienígenas decifrarem a complexa modulação dos nossos sistemas de comunicação móvel.
Em última análise, à medida que a Terra se torna artificialmente mais radiante em todas as faixas de comprimento de onda, não se pode descartar a possibilidade de eles nos detectarem antes de sermos capazes de detectá-los.
Por: Michael Garrett, Sir Bernard Lovell Professor de Astrofísica e Diretor do Jodrell Bank Center for Astrophysics na Universidade de Manchester.