Pesquisadores do MIT criaram um peptídeo promissor para tratar o Alzheimer. Saiba mais sobre essa descoberta que pode mudar o rumo da doença.
Os desafios e dificuldades enfrentados por quem sofre com a doença de Alzheimer são inúmeros, mas a pesquisa científica continua avançando em busca de soluções. E agora, uma equipe de neurocientistas do renomado MIT traz uma novidade revolucionária: um tratamento que pode ter “efeitos dramáticos” na luta contra a doença.
Essa técnica inovadora utiliza uma cadeia peptídica que atua bloqueando a atividade de uma proteína hiperativa que desempenha um papel crucial no desenvolvimento do Alzheimer. Mas as boas notícias não param por aí: essa mesma técnica também pode funcionar para tratar outras doenças neurodegenerativas, como Parkinson e demência frontotemporal.
As pesquisas sobre a doença de Alzheimer são complexas e envolvem a investigação de várias proteínas-chave que atuam no tecido cerebral dos pacientes afetados. Entre elas, destacam-se a CDK5 e a P25, cujo papel é crucial nesse processo.
"Foi Li-Huei Tsai, diretora do renomado Picower Institute for Learning and Memory do MIT, quem liderou essa pesquisa revolucionária e identificou o gene CDK5 enquanto fazia suas investigações de pós-doutorado. Esse gene pertence a um grupo de enzimas conhecidas como quinases dependentes de ciclina, que geralmente estão ligadas à divisão celular. Mas a CDK5 tem um papel singular no desenvolvimento do sistema nervoso central.
O CDK5 é uma proteína presente no cérebro humano que normalmente se liga a outra proteína menor, a P35, em um cérebro saudável. No entanto, na doença de Alzheimer, ocorre uma clivagem do P35 em uma proteína menor chamada P25, que também pode se unir ao CDK5. Essa combinação prejudicial é capaz de desencadear uma série de eventos negativos no cérebro, fazendo com que o CDK5 adicione grupos de fosfato a moléculas com as quais normalmente não interagiria, incluindo a proteína Tau.
Essa hiperfosforilação da proteína Tau é o que leva à formação dos emaranhados neurofibrilares que são uma característica marcante da doença de Alzheimer. É importante destacar que há ainda muita incerteza em torno dos mecanismos exatos envolvidos nesse processo, mas a pesquisa científica segue avançando em busca de respostas.
A equipe de neurocientistas do MIT desenvolveu um peptídeo capaz de atingir a proteína P25, que desempenha um papel crucial na doença de Alzheimer. Ao contrário de esforços anteriores que dependiam de pequenas moléculas, essa nova abordagem se baseia em uma cadeia de aminoácidos, os blocos de construção das proteínas, conhecida como peptídeo.
Essa escolha inovadora permitiu que a equipe replicasse o loop T, uma estrutura no CDK5 que se liga ao P25. Essa sequência de 12 aminoácidos apresenta uma alta afinidade de ligação para P25, e toda proteína P25 que se liga ao peptídeo sintético não se liga mais ao CDK5.
Neste estudo, camundongos transgênicos modificados para expressar P25 foram utilizados para simular a neurodegeneração observada em pacientes com Alzheimer. Entretanto, os camundongos que receberam o tratamento com o peptídeo desenvolvido pela equipe do MIT apresentaram menor atividade de CDK5, além de redução na inflamação, danos ao DNA e perda de neurônios. Diferentemente de outras abordagens com moléculas direcionadas ao P25, o peptídeo não apresentou efeitos adversos no CDK5-P35 ou em outras quinases.
Ainda mais surpreendente, o peptídeo criado pelos pesquisadores do MIT também apresentou resultados promissores em outro modelo de camundongo geneticamente modificado para expressar proteínas Tau mutantes.
Ao tratar esses animais com o peptídeo, a equipe observou uma redução significativa nos emaranhados neurofibrilares e na perda de neurônios. Além disso, a equipe detectou uma regulação positiva da família de reguladores de genes chamada MEF2, sugerindo que essas proteínas podem desempenhar um papel importante na proteção contra o comprometimento cognitivo.
Embora os camundongos sejam utilizados frequentemente como modelo para estudos de Alzheimer, é importante lembrar que eles são apenas animais. Portanto, ainda há uma longa jornada pela frente antes que este tratamento possa ser aplicado em seres humanos.
A equipe de pesquisadores está atualmente explorando a eficácia do peptídeo em outras doenças neurodegenerativas, como demência frontotemporal, demência induzida pelo HIV e comprometimento cognitivo associado ao diabetes. Esses esforços são cruciais para avaliar o potencial do peptídeo como uma terapia segura e eficaz para uma ampla gama de doenças neurológicas.