Um novo estudo publicado na Scientific Reports revelou informações preciosas sobre seis caixões de animais selados, pertencentes ao antigo Egito. Utilizando uma técnica não invasiva, os pesquisadores puderam capturar imagens impressionantes do conteúdo desses artefatos milenares.
No antigo Egito, a mumificação de animais era uma prática muito difundida, com evidências de que alguns desses animais mumificados eram considerados encarnações físicas de divindades, enquanto outros eram usados em rituais religiosos ou como oferendas a essas mesmas divindades.
Tomografia de nêutrons fatia por fatia do caixão do animal EA27584, encimado por duas figuras de lagartos (vista lateral), revelando invólucros têxteis e ossos de lagartos. Crédito: O’Flynn et al.
Daniel O’Flynn e seus colegas realizaram uma descoberta incrível ao visualizar o conteúdo de seis caixões de animais selados, utilizando uma técnica avançada de tomografia de nêutrons. Diferentemente de tentativas anteriores com raio-x, essa técnica forneceu imagens detalhadas dos artefatos e seu conteúdo. É notável que todos os seis caixões sejam compostos de materiais de cobre, e mais ainda que estejam selados e intactos.
Três desses caixões, com decorações de lagartos, enguias e laços, foram datados entre 500 e 300 a.C., e foram descobertos na antiga cidade de Naukratis. Já o quarto caixão, adornado com a figura de um lagarto, foi datado entre 664 e 332 a.C. e encontrado na antiga cidade de Tell el-Yehudiyeh.
"Além dos caixões datados de Naukratis e Tell el-Yehudiyeh, os pesquisadores também encontraram outros dois caixões misteriosos. Com decorações de enguias e cobras com cabeças humanas, esses caixões intrigantes datam de aproximadamente 650 a 250 a.C. Embora sua origem seja desconhecida, sua aparência e conteúdo oferecem pistas fascinantes sobre a cultura e crenças do povo antigo.
Durante a pesquisa, os autores identificaram ossos dentro de três dos caixões. Um dos destaques foi um crânio intacto de tamanho semelhante ao de um grupo de lagartos de parede endêmicos do norte da África. Além disso, evidências de ossos quebrados foram encontradas em outros dois caixões.
Tomografia de nêutrons fatia por fatia do caixão do animal EA27584, encimado por duas figuras de lagartos (vista superior), revelando invólucros têxteis e ossos de lagartos. Crédito: O’Flynn et al.
Os pesquisadores também fizeram uma descoberta interessante dentro dos caixões de animais antigos: fragmentos de tecidos que, possivelmente, eram feitos de linho, um material amplamente utilizado na mumificação no Antigo Egito. Os autores sugerem que o linho poderia ter sido enrolado em torno dos animais antes de serem colocados nos caixões, acrescentando ainda mais informações sobre o processo de mumificação.
Além disso, os autores identificaram chumbo dentro de três dos caixões sem laços, sugerindo que pode ter sido usado para ajudar a distribuir o peso em dois deles e para consertar um buraco encontrado em outro. Essa escolha do material pode ter sido devido ao seu status como uma substância mágica na antiga cultura egípcia. Pesquisas anteriores sugeriram que o chumbo era usado em feitiços e maldições de amor, o que acrescenta um elemento místico e intrigante às descobertas desses antigos artefatos.
Tomografia de nêutrons fatia por fatia do caixão do animal EA36167, encimado por uma figura de lagarto (vista superior), revelando invólucros têxteis, chumbo e ossos de lagarto – incluindo um crânio de lagarto. Crédito: O’Flynn et al.
Os autores do estudo não encontraram chumbo adicional dentro dos três caixões adornados com alças. A equipe acredita que os laços podem ter sido usados para suspender esses caixões mais leves em santuários ou paredes de templos, estátuas ou barcos usados em procissões religiosas.
Já os caixões mais pesados, que contêm chumbo sem laços, podem ter sido destinados a fins diferentes. As descobertas são valiosas e contribuem para o entendimento sobre a fabricação e uso de caixões de animais no antigo Egito.