Novo estudo mostra que estrelas pobres em metais aumentam as chances de planetas com vida alienígena.
Embora se possa pensar que as estrelas ricas em metal teriam mais probabilidade de ter planetas com vida, os planetas em torno de estrelas pobres em metal têm melhor proteção contra a radiação ultravioleta.
Uma recente pesquisa publicada na revista científica Nature Communications, submetida à revisão por pares, revelou que estrelas com alta concentração de metais, fundamentais na formação de planetas e no desenvolvimento da vida, podem ser menos propícias para hospedar formas de vida alienígena do que as estrelas com baixa concentração de metais, uma situação que apresenta uma ironia cósmica.
O estudo contraria a premissa comum em astrofísica de que estrelas com baixa concentração de metais emitem uma radiação ultravioleta mais intensa, o que as tornaria menos favoráveis para a existência de vida em seus planetas orbitais. No entanto, os pesquisadores descobriram que as estrelas com baixa concentração de metais oferecem uma proteção natural contra a nociva radiação cósmica.
Essas descobertas podem apontar para uma nova direção na busca por vida extraterrestre, desafiando as teorias prévias e sugerindo novas perspectivas aos cientistas na exploração do universo.
"Cabe ressaltar, em primeiro lugar, que, no âmbito da astrofísica, o termo “metal” não se refere apenas aos elementos classificados como metais na tabela periódica, mas sim é uma designação que pode ser atribuída a qualquer elemento mais pesado que o hidrogênio e o hélio. Não é por acaso que estes dois últimos elementos são os mais leves e, portanto, não se enquadram nessa categoria.
A justificativa para essa classificação é devido à abundância de hidrogênio e hélio em relação a todos os outros elementos. No entanto, também se deve ao fato de que os elementos mais pesados são, geralmente, mais complexos que o hidrogênio e o hélio.
À primeira vista, as estrelas podem parecer apenas grandes bolas de gás e luz em chamas. No entanto, tecnicamente, há muito mais dentro delas do que apenas gás. As estrelas realizam processos para sintetizar materiais e criar novos elementos complexos.
Os planetas se formam a partir de anéis de poeira e minerais que se acumulam para eventualmente criar mundos ao redor das estrelas. Embora se possa pensar que a riqueza em metais seja crucial para o processo de formação planetária, esse não é o problema central abordado neste estudo.
O verdadeiro problema é a radiação ultravioleta (UV), que pode ser extremamente poderosa e prejudicial. De fato, há muito tempo se supõe que a exposição intensa à radiação UV em um planeta jovem pode ser fundamental para o surgimento da vida.
Entretanto, a radiação UV pode ser tão intensa que pode ser letal para qualquer forma de vida no planeta. Tome, por exemplo, o nosso próprio sol. A quantidade de radiação UV emitida por ele é consideravelmente maior do que aquela que os seres vivos deveriam ser capazes de suportar. De acordo com essa lógica, a vida na Terra seria impossível.
A atmosfera é tudo
Aqui entra em cena o papel da atmosfera. A atmosfera terrestre, rica em oxigênio, absorve a maior parte da radiação ultravioleta.
É curioso observar que uma baixa radiação UV proveniente da estrela pode levar a um planeta com níveis reduzidos de ozônio, resultando em menor proteção contra a radiação UV.
Mas, afinal, como os metais estão relacionados a isso?
A metalicidade de uma estrela afeta o nível de radiação UV que ela emite. De maneira geral, quanto mais rica em metais a estrela, menor será a quantidade de radiação UV emitida.
O estudo investigou se o nível de metalicidade afeta não apenas a radiação UV emitida, mas também a proteção UV fornecida. Para responder a essa questão, a equipe liderada por Anna Shapiro realizou simulações com uma série de planetas hipotéticos semelhantes à Terra, cada um localizado dentro da zona habitável de sua própria estrela. Essas estrelas apresentavam variações em termos de metalicidade, algumas sendo ricas em metais e outras pobres em metais.
A questão central do estudo não era qual estrela emitia mais radiação ultravioleta, mas sim qual planeta estava melhor protegido contra a radiação ultravioleta. O resultado surpreendente foi que os planetas em torno de estrelas pobres em metais estavam mais bem protegidos. Isso ocorreu porque, embora as estrelas ricas em metais emitem menos radiação UV, seus planetas têm uma camada de proteção mais fraca.
O que isso significa daqui para frente?
O presente estudo tem como principal resultado a redução da faixa de estrelas a serem pesquisadas para a existência de vida alienígena. Com essas informações, é possível delimitar melhor os parâmetros para as pesquisas futuras, a fim de detectar especificamente planetas que possam hospedar vida em sua superfície. Tal resultado é importante para o próximo telescópio espacial PLAnetary Transits and Oscillations (PLATO), cujo objetivo principal é encontrar planetas semelhantes à Terra.
Contudo, é importante destacar que nem todos os cientistas concordam com a premissa central deste estudo, que afirma que a vida só pode existir nas condições que a humanidade conhece. De acordo com Peter Worden, diretor executivo da Breakthrough Initiatives, não há motivo para supor que a vida não possa existir em ambientes que diferem drasticamente da Terra em torno do Sol.
“Muitos especialistas acreditam que a vida pode e existe sob crostas de gelo em nosso próprio sistema solar externo. Algumas medições sugerem que a vida existe na hostil atmosfera superior de Vênus”, explicou Worden ao The Jerusalem Post em 2022. “A verdade é que não sabemos muito sobre como a vida se forma ou onde ela pode se desenvolver.”