Jaron Lanier é reconhecido como um dos principais pioneiros da tecnologia de realidade virtual. No entanto, sua fama também se deve ao fato de ser um dos críticos mais incisivos do Vale do Silício, cujas críticas ele descreve como “otimismo sombrio”.
Recentemente, Jaron Lanier tem direcionado sua atenção para a mais nova obsessão da indústria de tecnologia: a inteligência artificial (IA). Em uma entrevista contundente concedida ao The Guardian, Lanier foi enfático ao afirmar que considera as perguntas sobre se a IA dominará o mundo como “ridículas”.
Lanier, renomado pensador e cientista da computação, questiona a própria existência da “inteligência artificial”, argumentando que o termo em si é falacioso, já que a tecnologia atualmente disponível não é verdadeiramente inteligente, e sim programada para desempenhar tarefas específicas.
“Essa ideia de superar a capacidade humana é tola porque é feita de habilidades humanas”, disse Lanier.
“É como dizer que um carro pode ir mais rápido que um corredor humano”, elaborou. “Claro que pode, mas não dizemos que o carro se tornou um corredor melhor.”
"Essa afirmação traz alguma tranquilidade para você, caro leitor? Pois bem, é um alento saber que há uma figura como Jaron Lanier atenta ao desenvolvimento da inteligência artificial (IA). No entanto, ainda há muito a ser feito para garantir que a IA não se torne uma ameaça à humanidade.
Lanier, um dos principais pensadores da tecnologia, alerta para a necessidade de mantermos a vigilância e a cautela em relação à IA.
Ao contrário do que muitos imaginam, o apocalipse da inteligência artificial não virá na forma de um robô vingativo e superinteligente se rebelando contra seus mestres humanos. De acordo com Jaron Lanier, renomado cientista da computação, a ameaça real da IA é muito mais sutil e insidiosa: uma gradual deterioração da comunicação e da coerência.
“Para mim, o perigo é que usaremos nossa tecnologia para nos tornar mutuamente ininteligíveis ou insanos, se preferir, de uma forma que não agimos com compreensão e interesse próprio suficientes para sobreviver, e morremos por insanidade, essencialmente”, disse ele ao jornal, acrescentando que temos uma “responsabilidade com a sanidade”.
Apesar de sua postura cautelosa em relação à IA, Jaron Lanier demonstra um certo otimismo em relação aos chatbots, como o ChatGPT. Segundo ele, antes do surgimento das IAs generativas, a principal função da IA era nos tornar preguiçosos, selecionando todo o nosso conteúdo, como os algoritmos que decidem o que aparece em nossa página inicial do YouTube ou feed do Twitter.
De acordo com Jaron Lanier, um dos problemas da tecnologia atual é a sensação de estarmos limitados a um funil de escolhas controlado por outras pessoas. Em contrapartida, ele defende a importância de termos acesso a uma base de escolhas mais ampla, que nos permita explorar diferentes perspectivas e ideias.
Lanier argumenta que essa falta de diversidade de escolhas tem contribuído para a homogeneização de personalidades, como Elon Musk, Kanye West e Donald Trump, que se tornam cada vez mais semelhantes em sua busca por atenção e validação. Ele os compara a crianças em um pátio de escola, disputando por popularidade e reconhecimento.
Com o surgimento de chatbots baseados em IA, as respostas às perguntas não serão mais padronizadas e previsíveis. Pelo contrário, cada interação produzirá respostas únicas e imprevisíveis, que se assemelham cada vez mais às respostas humanas em sua diversidade e aleatoriedade.
“Isso significa que há um pouco mais de escolha, discernimento e humanidade com a pessoa que está interagindo com a coisa”, disse Lanier ao The Guardian .
Apesar das possibilidades intrigantes dos chatbots de IA, não é hora de se deixar levar pela empolgação. Na opinião de Lanier, essas tecnologias ainda têm o potencial de se tornar um fator de desestabilização e degradação da civilização.
“Você pode usar a IA para tornar as notícias falsas mais rápidas, baratas e em maior escala”, disse ele ao The Guardian . “Essa combinação é onde podemos ver nossa extinção.”