Durante duas décadas, a ideia de que nossa existência é fruto de uma simulação tem sido alvo de debates sérios entre os cientistas. Entretanto, agora um renomado cientista da computação da Universidade de Louisville está explorando possíveis maneiras para que a humanidade possa escapar dessa realidade simulada e alcançar a verdadeira essência da existência.
Até o momento, as técnicas empregadas, que vão desde práticas religiosas até a utilização do poderoso e complexo Grande Colisor de Hádrons, parecem ter sido incapazes de romper as barreiras impostas pela suposta simulação que envolve nossa realidade.
A escolha entre a pílula vermelha e a pílula azul tornou-se um marco no clássico filme “Matrix”. Em 1999, o protagonista Neo, surpreendentemente determinado, opta pela pílula vermelha e decide “até onde vai a toca do coelho”. Essa cena icônica não apenas marcou a história da ficção científica, mas também trouxe à tona uma questão filosófica relevante: se a realidade que conhecemos é uma simulação, os seres humanos têm a capacidade de abandoná-la?
O cientista da computação da Universidade de Louisville, Roman Yampolskiy, investiga uma das questões mais intrigantes e controversas da atualidade: a possibilidade de escaparmos de uma realidade simulada. Em um post detalhado, ele explora como seria possível “hackear” nossa saída dessa existência aparentemente virtual.
A noção de que a vida humana pode ser uma mera simulação é, surpreendentemente, uma ideia antiga. O filósofo francês René Descartes já propunha essa possibilidade no século XVII. No entanto, foi somente em 2003 que a ideia ganhou maior notoriedade na comunidade científica, graças ao influente artigo escrito pelo filósofo da Universidade de Oxford, Nick Bostrom.
"Em seu estudo, Bostrom apresentou uma perspectiva perturbadora: a de que nossa realidade pode ser apenas uma simulação criada por computadores alienígenas superavançados. De acordo com o filósofo, as chances de estarmos vivendo em uma simulação são alarmantes, chegando a 20%.
Roman Yampolskiy segue a tradição de explorar as fronteiras da possibilidade de uma realidade simulada e, em particular, investiga maneiras de se libertar dela. Yampolskiy recorre a exemplos reais de hackers e exploits encontrados em videogames, além de considerações filosóficas mais profundas sobre a tentativa de comunicação com os controladores da simulação através de um avatar.
Yampolskiy ainda apresenta um compêndio dos diversos tipos de estratégias de fuga teorizados por outros pensadores, tais como a criação de um paradoxo insondável ou o enfatizar da capacidade computacional da simulação, como, por exemplo, exigir que milhões de pessoas meditem simultaneamente e, subitamente, tornem-se extremamente ativas.
O texto reconhece que há evidências contundentes que podem ser potencialmente prejudiciais à possibilidade de escapar da simulação, ou mesmo à ideia de que estamos em uma simulação. Por exemplo, o conhecimento de uma possível simulação não parece afetar a sua existência, e as religiões, que recorrem a um simulador externo, não apresentam nenhum efeito ou intervenção mensurável (essa mesma ideia foi proposta por pesquisadores anteriores). Além disso, a execução de máquinas extremamente complexas que produzem resultados surpreendentes, como o Grande Colisor de Hádrons, parece não ter efeito em qualquer tipo de simulação.
Sem dúvida, surge a questão de por que os humanos desejariam escapar da simulação – afinal, a experiência de Neo deixando a Matrix não foi exatamente agradável. No entanto, Yampolskiy apresenta o argumento de que o acesso à realidade fundamental poderia ampliar significativamente nossa capacidade computacional e nos permitir adquirir conhecimento “real”, em vez da física simulada de nosso universo conhecido. As implicações de um plano de fuga dessa natureza são ainda desconhecidas e abrem um vasto campo de possibilidades e especulações.
Yampolskiy reconhece que tais indagações são acompanhadas de riscos existenciais, e ele até postula a possibilidade de que os simuladores tenham reiniciado a simulação com recursos de segurança aprimorados, apagando assim nossa memória coletiva. Ainda assim, é provavelmente impossível determinar com absoluta certeza se vivemos ou não em uma simulação. Por enquanto, devemos optar pela pílula azul e permanecer em nossa realidade aparente.