De acordo com recente pesquisa, foi constatado que as plantas emitem sons inaudíveis ao ouvido humano, fato este que somente foi possível identificar através de gravações precisas.
É interessante destacar que tais emissões sonoras são amplificadas quando as plantas se encontram em situações de desidratação ou em outros tipos de estresse.
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A pesquisa recentemente divulgada provoca uma reviravolta nas ideias que a maioria dos especialistas em botânica possuía acerca do reino vegetal, que até então era considerado majoritariamente silencioso.
O coautor do estudo, Lilach Hadany, enfatiza que essa descoberta sugere que o mundo ao nosso redor é permeado por uma verdadeira cacofonia de sons vegetais, até então desconhecida.
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Há algum tempo a especialista em questão já tinha suas dúvidas acerca da ideia de que as plantas seriam completamente desprovidas de emissões sonoras.
"O professor Lilach Hadany, que leciona na Escola de Ciências Vegetais e Segurança Alimentar e também é o responsável pelo programa da Faculdade George S. Wise de Ciências da Vida na Universidade de Tel Aviv, comenta que sempre questionou a ideia de que as plantas seriam incapazes de perceber ou emitir sons, uma vez que existem diversos organismos que respondem ao estímulo sonoro.
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Segundo Hadany, não havia uma justificativa plausível para que as plantas fossem consideradas como seres surdos e mudos.
Há cerca de seis anos, a professora Hadany realizou sua primeira experiência ao registrar, por meio de um microfone ultrassônico, o som emitido por um cacto em seu laboratório.
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Contudo, ela não pôde confirmar com certeza se aquele som era de fato proveniente da planta, já que havia outras fontes sonoras no ambiente.
Até então, estudos anteriores indicavam apenas que as plantas eram capazes de gerar vibrações, mas não se sabia ao certo se essas vibrações poderiam se transformar em ondas sonoras transmitidas pelo ar.
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Com o intuito de desvendar a verdadeira capacidade das plantas em produzir emissões sonoras, a equipe liderada pela professora Hadany decidiu investir em caixas acústicas especialmente desenvolvidas para bloquear qualquer tipo de som externo.
Para realizar a pesquisa, os pesquisadores selecionaram plantas de tabaco e tomate, que foram cuidadosamente colocadas dentro das caixas acústicas projetadas especialmente para o experimento.
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Os equipamentos utilizados para a gravação dos sons foram os microfones ultrassônicos, que são capazes de registrar frequências que variam entre 20 e 250 kiloherz, ultrapassando, assim, a capacidade auditiva humana, que se limita a cerca de 16 kilohertz.
Algumas das plantas selecionadas foram submetidas a condições adversas, como corte dos caules ou privação de água por cinco dias, enquanto outras permaneceram intactas, a fim de comparar a resposta sonora das plantas sob diferentes tipos de estresse.
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Os resultados obtidos pela equipe de pesquisa foram surpreendentes: as plantas registraram emissões sonoras em frequências que variavam entre 40 e 80 quilohertz.
Ao serem devidamente condensados e traduzidos para uma frequência que pudesse ser ouvida pelos seres humanos, os ruídos se assemelharam, em certa medida, ao som de pipocas estourando ou do estouro de plástico-bolha.
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Ouça os sons emitidos por um tomateiro
O que se pode ouvir neste áudio é o registro sonoro de um tomateiro ressequido durante um período de uma hora.
A velocidade do som foi acelerada e convertida em uma faixa audível para os seres humanos.
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Fonte: Khait et al.
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Uma planta sob estresse emite, em média, entre 30 e 50 sons de estalo ou clique por hora, em intervalos aparentemente aleatórios. Por outro lado, plantas sem estresse emitem muito menos sons, em torno de um por hora.
Segundo Hadany, “quando os tomates não estão sob estresse, eles permanecem extremamente silenciosos.
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As plantas estão se comunicando?
A origem exata dos sons emitidos pelas plantas ainda é um mistério para os pesquisadores.
No entanto, eles acreditam que esses ruídos se originam da cavitação, um fenômeno no qual uma bolha de ar na coluna de água da planta colapsa sob certa pressão, produzindo um estalo ou um estouro.
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Contudo, não precisa se preocupar, o ramalhete de flores recém-cortadas em seu vaso não está emitindo gritos de dor. Não há provas de que os sons produzidos pelas plantas sejam intencionais ou uma forma de comunicação.
“Este resultado expande nosso conhecimento sobre as respostas das plantas ao estresse, oferecendo uma contribuição valiosa para o campo científico e para nossa compreensão geral de que as plantas são organismos sensíveis capazes de comportamentos sofisticados”, afirmou Richard Karban, renomado professor de entomologia da Universidade da Califórnia, Davis, especializado no estudo das interações entre herbívoros e plantas hospedeiras. Karban não participou diretamente da pesquisa.
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Karban acrescentou que, embora seja um resultado fascinante, é importante não interpretar a descoberta como uma demonstração de que as plantas estão ativamente se comunicando por meio de sons.
Embora os sons produzidos pelas plantas sejam um fenômeno passivo, outros organismos podem se beneficiar dos sinais sonoros emitidos pelas plantas, afirmou o ecologista sensorial Daniel Robert, professor de bionanociência na Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Bristol, no Reino Unido. Ele não participou da pesquisa.
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Segundo ele, os sons podem indicar a uma mariposa fêmea que uma determinada planta de tomate está sob estresse e, portanto, não é adequada para colocar ovos ou se alimentar.
“Embora muitos sons gerados no mundo não sejam ‘intencionais’, eles podem ser ouvidos e usados por outros organismos para benefício próprio. Então, o conceito de comunicação é, de fato, um desafio… ele precisa ser bidirecional para funcionar e ser considerado como tal?”, ele disse em um e-mail.

A equipe procedeu à reiteração do experimento com espécimes de tabaco e tomate em um ambiente de estufa mais turbulento.
Após meticulosa aferição das plantas, os pesquisadores desenvolveram um algoritmo de aprendizado de máquina capaz de discernir entre plantas em diferentes estados, a saber, desprovidas de estresse hídrico, sedentas e, ainda, aquelas que foram submetidas à poda.
“É empolgante descobrir que as emissões acústicas contêm informações valiosas, e mais ainda, que é possível identificar estruturas de dados que escapam à percepção visual e auditiva humana através do uso de técnicas de classificação de rede neural”, afirmou Robert com entusiasmo. Essa constatação, além de significar uma importante evolução, ressalta a rapidez e eficiência desse método.
Os pesquisadores elegeram as plantas de tabaco e tomate como objetos de estudo, uma vez que sua padronização facilita a cultivabilidade.
Contudo, não se limitaram a essas espécies e registraram, também, os sons emitidos por outras plantas, tais como trigo, milho, cactos e videiras.
A constatação de que essas plantas emitem sinais sonoros quando submetidas a situações estressantes é um achado relevante que contribui para a compreensão dos mecanismos biológicos envolvidos nesse processo.
Hadany, líder da equipe de pesquisadores, afirmou que não somente insetos ou mamíferos são capazes de detectar e se beneficiar dos sons produzidos pelas plantas, mas também outras espécies vegetais.
Essa descoberta corrobora estudos anteriores realizados pelo grupo, que demonstraram que as plantas são capazes de modular a concentração de açúcar em seu néctar quando expostas aos sons produzidos pelos polinizadores.
Hadany, ao considerar a descoberta de que as plantas emitem sinais sonoros, passou a enxergá-las com novos olhos. Segundo suas palavras: “As plantas emitem uma infinidade de músicas que estão além de nossa percepção auditiva”.