Agora conhecidos como UAPs, os OVNIs são comumente ligados a teorias conspiratórias. Entusiastas da ufologia têm identificado representações de OVNIs em diversas obras de arte. No entanto, os estudiosos da arte frequentemente apresentam interpretações alternativas para essas imagens.
No decorrer deste artigo, faremos uma análise de várias peças artísticas e discutiremos as visões contrastantes de ufólogos e historiadores da arte. Prossiga com a leitura para aprofundar-se nos relatos de OVNIs na trajetória da arte.
Um OVNI dourado?

Na ilustração “Fortuna” de Jacque Legrand, é possível observar uma esfera dourada resplandecente no céu. Um conjunto de homens no canto superior direito parece estar em estado de admiração diante dessa forma esférica dourada. Mais abaixo, em primeiro plano, encontram-se cinco homens. Dois deles caminham em direção à margem direita da página, enquanto os outros três parecem se aproximar de uma mulher. Esta mulher está posicionada diretamente abaixo da esfera dourada no céu, com uma roda ao seu redor. Esta esfera dourada é um elemento de disputa na iconografia entre ufólogos e historiadores da arte.
Para os ufólogos, esta esfera dourada representa uma imagem de OVNI. Eles defendem que os raios em torno da esfera são pequenos OVNIs ou raios emanados pela própria esfera. Alguns interpretam esses raios como drones provenientes do OVNI maior (a principal esfera dourada). Os ufólogos também sustentam que os homens no canto superior direito estão maravilhados com esses objetos. Eles parecem surpresos, como se estivessem presenciando algo pela primeira vez. No entanto, os historiadores da arte acreditam que o globo dourado não é uma representação de um OVNI.

Os estudiosos da arte notam a inscrição presente abaixo da figura feminina na ilustração. A palavra “Fortune” está gravada abaixo dela, identificando a mulher como Lady Fortune, a encarnação da sorte. A roda atrás dela é o símbolo mais frequentemente associado a Lady Fortune, enquanto a esfera dourada acima dela no céu é um elemento reconhecido por muitas civilizações antigas.
"Os antigos gregos, que a denominavam Tyche, atribuíam a ela este globo dourado como um emblema do mundo. Para eles, a fortuna tinha o poder de alterar a sorte e os destinos, implicando em uma potencial transformação do mundo. A expressão de espanto nos rostos dos homens no canto superior direito da ilustração não é facilmente explicada pelos historiadores da arte, ao contrário dos ufólogos. Este choque pode ser interpretado como uma reação à influência surpreendente da fortuna no mundo.

O globo apresenta uma divisão em segmentos, lembrando o “mappe orbis terrae” – um mapa medieval que retratava o mundo circundado por um anel de água, com o Mar Mediterrâneo seccionando a terra em três partes. Esta concepção do aspecto do mundo era bastante difundida. Foi incorporada em diversos brasões e ainda é empregada pela nobreza nos dias atuais. Um exemplo disso é a sua utilização na cerimônia de coroação da monarquia britânica.
Quem é aquele no céu?

A têmpera renascentista italiana “Madona Adorando o Menino Jesus” apresentada no painel revela uma iconografia fascinante. O que à primeira vista parece ser uma pintura religiosa convencional, adquire um caráter surreal devido à peculiar abertura circular no céu. Três figuras são retratadas olhando para fora dessa abertura – uma delas estende a mão em direção à paisagem abaixo, enquanto as outras duas observam. O homem que estende a mão libera raios dourados que alcançam o solo. Um dos observadores mantém as mãos em posição de oração. A abertura circular é interpretada pelos ufólogos como um OVNI, uma visão contestada pelos historiadores da arte.
Os ufólogos argumentam que os raios ao redor do círculo são semelhantes a objetos iluminados. Eles sustentam que a maioria dos avistamentos de OVNIs apresenta luzes semelhantes às observadas em aeronaves. Alguns ufólogos postulam que Cristo está sendo transportado para baixo, em frente à Madonna, pois ele também apresenta raios que indicam luz ao redor de sua figura. Os ufólogos também destacam o monge ajoelhado à direita. Ele olha para o objeto no céu, confirmando sua existência enquanto reza. Se esse objeto não é um objeto e não existe ou é apenas um sol, então por que alguém estaria orando e olhando para ele? Essa é a questão levantada pelos ufólogos.

Especialistas em história da arte sugerem que a figura de um homem em oração, olhando para o céu, não é meramente um monge, mas uma representação de João Batista, identificável pela cruz que carrega. Ele está em comunhão com o Senhor, a quem percebe se aproximando. Embora a chuva de luz sobre o menino Jesus não seja explicitamente explicada pelos historiadores da arte, eles observam que o círculo aberto no céu não é um objeto voador não identificado, mas sim uma representação do sol.
Esta obra é uma das primeiras do Renascimento a deslocar a Madona e o Menino do tradicional fundo dourado e plano, característico dos períodos gótico e bizantino. As linhas que circundam o círculo variam em tamanho, indo de pequenas a grandes e retornando a pequenas, criando um efeito ondulado. Este efeito, que lembra a textura de um cabelo, tem sido observado em representações do sol desde a era medieval. Os historiadores da arte também apontam que a representação de Deus como o sol não era algo raro.
No período do Renascimento, os artistas buscavam inspiração nas civilizações e divindades antigas. O Sol, ou Hélios, era o deus conhecido por portar uma coroa radiante. A imagem do sol com um rosto é a personificação dessa divindade. Portanto, não era incomum inserir a imagem de um deus em um local onde o sol poderia estar presente.
Isso é um disco voador?

Antes de ser atribuída a Ghirlandaio, a obra circular “A Madona com São Giovannino” foi associada a dois outros artistas. A pintura apresenta uma série de imagens intrigantes. No primeiro plano, a Madonna é vista em oração sobre o Menino Jesus, acolhendo o espectador na cena. Ao lado do jovem Cristo, encontra-se São Giovannino, que se destaca por sua auréola mais evidente e pela cruz que carrega consigo. Completando a composição, dois touros estão posicionados atrás da Madonna, observando a cena.
No plano de fundo, a pintura revela uma encantadora paisagem rural italiana, com um rio sinuoso, um castelo e até mesmo a figura de um homem sobre uma colina. Este homem é retratado olhando para o céu, protegendo os olhos com a mão para melhor observar. Acima dele, flutua uma forma acinzentada, circundada por um halo dourado. À esquerda desta forma no céu, encontra-se o sol, acompanhado por três manchas menores logo abaixo.
Ufólogos interpretam esses objetos como possíveis OVNIs. Eles se focam na expressão de surpresa do homem que observa o objeto e do cão retratado ao seu lado. Os ufólogos também destacam a forma circular do objeto cinza, que se assemelha ao que muitos atualmente reconheceriam como um OVNI. O objeto apresenta um sombreamento na parte inferior, enquanto a parte superior possui um tom de cinza mais claro, sugerindo uma forma superior arredondada com uma base mais escura. Os ufólogos ainda consideram que a postura de Madonna, pairando sobre o bebê, parece protetora. No entanto, historiadores da arte propõem outras interpretações para o objeto cinza em questão.

É comum encontrar eventos celestiais em muitas pinturas que retratam o nascimento de Jesus ou anunciações. Alguns estudiosos da arte interpretam o objeto cinza como um erro do artista, um anjo mal delineado que deveria ter sido removido, mas acabou se tornando uma mancha cinza. Este ainda retém o dourado e o resquício da nuvem que deveria envolver o anjo. Para corroborar essa afirmação, os historiadores da arte citam diversas outras pinturas onde anjos são representados com uma auréola dourada ou amarela ao redor de sua forma. Um exemplo notável de um anjo emergindo das nuvens é a obra “Adoração da Criança com São Bento e Anjos”, de Vincenzo Foppa.
No plano de fundo dessa obra, o espectador pode observar um pastor olhando para um anjo que emerge das nuvens. Assim como antes, este pastor protege seus olhos da luz para ter uma visão mais clara. O anjo está parcialmente fora das nuvens, com a parte inferior de seu corpo, dos joelhos para baixo, ainda imersa nas nuvens. Há uma luz radiante ao redor de seus joelhos, evidenciada pelo dourado.
Alguns estudiosos da arte conjecturam que essa mancha acinzentada poderia ser a interpretação de Ghirlandaio de uma estrela cintilante. Os historiadores da arte que defendem essa ideia apontam para o lado esquerdo das pinturas, que apresenta outro evento celestial – a estrela da Natividade. Há também aqueles que acreditam que essa mancha cinza pode ser um símbolo cristão esquecido.
OVNI ou um raio de Deus?

“A Anunciação com Santo Emídio”, uma obra renascentista italiana criada por Carlo Crivelli em 1486, é uma pintura feita com ovo e óleo sobre tela que tem sido objeto de debate entre ufólogos e historiadores da arte. A obra apresenta uma série de imagens intrigantes. Nela, Crivelli retrata Maria dentro de uma casa típica do Renascimento italiano. Maria é vista ajoelhada em oração enquanto um pássaro luminoso desce de um feixe de luz. Fora da casa, dois homens são representados: um segurando uma miniatura de uma cidade e o outro adornado com asas. A cena é rica em detalhes. Acima dos dois homens, em primeiro plano, há uma nuvem ondulada que parece ser a origem do raio de luz dourada que se dirige a Maria.
Ufólogos interpretam essa nuvem ondulada com um raio como um OVNI disfarçado. Eles argumentam que seu formato de disco é muito atípico para uma nuvem comum. Apesar do objeto ter a textura de uma nuvem, os ufólogos sugerem que isso pode ser resultado de um equívoco. Eles propõem que Crivelli pode ter se confundido com o que viu e, em vez de pintar um disco voador metálico, retratou uma nuvem com anjos.
Os ufólogos também destacam o feixe que desce da nuvem e atravessa a parede até alcançar a cabeça de Maria. Alguns chegam a sugerir que isso poderia ser semelhante a uma abdução alienígena.

Os ufólogos até explicam sua interpretação da anunciação como evidência de que esse raio faz parte da abdução. Em uma explicação muito rápida de sua versão da Bíblia, Andrew Arnett explica: A crença deles é que Jesus não era divino no sentido religioso, mas que Jesus era de fato o resultado da engenharia genética. Isso nos dá uma compreensão totalmente diferente da concepção imaculada. De acordo com os entusiastas dos alienígenas, Maria foi abduzida por alienígenas e foi inseminada artificialmente com esse DNA alienígena em seu útero.
Os entusiastas de fenômenos extraterrestres sustentam a teoria de que o pequeno ponto branco observado acima da cabeça de Maria é, na verdade, um objeto voador não identificado. No entanto, a maioria dos historiadores de arte discorda dessa interpretação.
A representação de uma nuvem em forma de vórtice no céu, com um raio emergindo dela, era uma simbologia bastante utilizada naquela época. Era uma forma simplificada de ilustrar a divindade e o conceito celestial. Uma análise mais detalhada da pintura revela a presença de pequenas figuras angelicais. Esses anjos parecem girar, formando o vórtice na nuvem.

Especialistas em história da arte também discutiram sobre o raio que atinge Maria, um elemento comum em muitas outras obras. Eles esclarecem que a mancha branca acima da cabeça de Maria representa o Espírito Santo. Nesta obra, Crivelli apresenta o Espírito Santo na forma de uma pomba branca, adornada com uma pequena auréola.
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Os historiadores da arte ressaltam que os ufólogos tendem a interpretar essas obras de maneira equivocada, esquecendo-se de que os artistas estavam representando eventos teológicos descritos em textos. Esses artistas não foram testemunhas oculares da Anunciação ou de eventos celestiais. Portanto, permanece a dúvida se algum objeto voador não identificado estava presente durante tais eventos.