Os padrões familiares da ufologia voltaram – os de farsas e imagens fabricadas. Imagens que afirmam mostrar uma autópsia de extraterrestre no Brasil provocaram um debate renovado sobre desinformação na comunidade OVNI.
Tem circulado nas mídias sociais uma imagem que supostamente mostra uma espaçonave “não humana” e um ser que corresponde à descrição fornecida pelo denunciante de OVNIs David Grusch em seu depoimento perante o Congresso dos Estados Unidos. Entretanto, essa imagem não é autêntica.
Ela faz parte de um trabalho intitulado “Alien Juca”, criado em 2016 pelo artista brasileiro Philipe Kling David para seu blog. Embora o alienígena e a espaçonave na imagem estejam visualmente alinhados com um dos relatos de Grusch, a imagem é uma representação artística e não uma documentação real das afirmações polêmicas feitas por Grusch sobre a suposta tecnologia extraterrestre recuperada pelo governo.
Os pesquisadores devem ser céticos em relação a essas imagens não verificadas compartilhadas on-line, pois geralmente são fraudes ou deturpações que capitalizam o interesse público no fenômeno OVNI.
Em julho de 2022, a autoproclamada “jornalista investigativa” Linda Moulton Howe afirmou em um vídeo no YouTube que uma fonte confidencial da base militar de Wright Patterson havia lhe enviado imagens vazadas de uma autópsia de um “alienígena laranja”.
"No entanto, as imagens que ela apresentou são, na verdade, de uma obra de arte digital conhecida intitulada “Alien Juca”, criada pelo artista brasileiro Philippe Kling David em 2016, que retrata uma criatura extraterrestre laranja.
Apesar de o criador afirmar claramente que as imagens são representações artísticas e não reais, Moulton Howe as apresentou como evidência de uma autópsia alienígena genuína para seus espectadores.
Isso representa um exemplo preocupante de desinformação, em que conteúdo fictício é compartilhado sob o disfarce de material governamental vazado para fazer afirmações sensacionalistas sobre um suposto contato extraterrestre.
Os pesquisadores que analisam supostas evidências de OVNIs e extraterrestres devem ter cuidado com fontes e alegações não verificadas. A disseminação de obras de arte digitais como documentação autêntica ressalta a importância de realizar a devida diligência antes de propagar afirmações extraordinárias.
Em uma tentativa preocupante de validar as imagens duvidosas da autópsia alienígena, Linda Moulton Howe recrutou o autoproclamado médium Buddy D. Bolton para “visualizar remotamente” os bastidores por meio de percepção extrassensorial.
Bolton começou a criar uma elaborada narrativa de ficção científica, alegando que o alienígena laranja era um “soldado” de um OVNI que foi abatido por lasers sobre a floresta amazônica que faz fronteira com o Brasil e o Peru.
De acordo com o relato imaginativo de Bolton, a espaçonave abatida continha extraterrestres humanóides nórdicos e “cinzas” alaranjados. Ele também afirmou que seus poderes psíquicos poderiam confirmar que o alienígena estava localizado em uma base militar subterrânea.
Moulton Howe apresentou essa visão especulativa como prova de corroboração, apesar de sua natureza claramente fantástica.
Esse exercício ressalta a tendência problemática de as afirmações paranormais sobre OVNIs e alienígenas serem legitimadas sem críticas por meio das lentes do “jornalismo investigativo”. Na realidade, as revelações de Bolton sobre visão remota apenas demonstram a capacidade da imaginação e de falsas cognições serem mal interpretadas como fatos empíricos.
Elas não fornecem nenhuma comprovação confiável para a autenticidade das disputadas imagens de autópsia alienígena.
Ironicamente, as técnicas investigativas de Moulton Howe, nesse caso, prejudicam, em vez de defender, os princípios dos padrões probatórios e da integridade jornalística. Esse caso exemplifica a necessidade de ceticismo e verificação rigorosa ao examinar alegações extraordinárias sobre o fenômeno OVNI.
Quando um usuário do Reddit chamado ObjectReport identificou as imagens de autópsia alienígena “vazadas” como uma obra de arte digital existente de Philippe Kling David, Linda Moulton Howe respondeu acusando sem fundamento essa pessoa de trabalhar para a CIA.
Em vez de abordar as evidências claras de que as imagens eram fictícias, Moulton Howe recorreu a alegações de conspiração selvagens e sem fundamento. Acusar outras pessoas de serem agentes do governo ou agentes de desinformação é uma tática comum usada na comunidade OVNI para rejeitar críticas válidas e evitar a responsabilização pela disseminação de desinformação.
Essa reação revela a falta de integridade e objetividade de Moulton Howe como jornalista investigativa que se autoproclama. Em vez de reconhecer de forma transparente sua falha em verificar adequadamente sua fonte e as imagens, ela atacou de forma defensiva e sem provas a pessoa que desmascarou suas afirmações com credibilidade.
Uma pesquisa credível sobre OVNIs exige honestidade, abertura para evidências contrárias e disposição para admitir quando ocorrem erros.
Quando os pesquisadores priorizam o sensacionalismo e a defesa de afirmações desacreditadas a todo custo, isso prejudica a confiança e o progresso no estudo sério desse fenômeno complexo. A objetividade e a responsabilidade devem ser primordiais, e não o conspiracionismo instintivo.
O criador das imagens da “autópsia alienígena”, o artista brasileiro Philippe Kling David, declarou claramente que as fabricou digitalmente usando um software de modelagem 3D e visitou um centro de pesquisa de petróleo e gás para fotografar os fundos.
Em seu blog, ele fornece detalhes de como produziu as imagens falsas por meio de técnicas padrão de efeitos visuais.
No entanto, apesar de o artista documentar exaustivamente seu processo criativo e da falta de qualquer evidência de que as imagens sejam autênticas, Linda Moulton Howe continua afirmando que as obteve de uma fonte militar anônima com direitos sobre o conteúdo.
O YouTuber Steve Cambian também destacou outras imagens duvidosas de OVNIs promovidas por Howe que parecem ser renderizações em 3D sobrepostas a cenários reais, e não evidências fotográficas genuínas. Isso inclui supostas naves “em forma de sino” que correspondem às descrições do denunciante de OVNIs David Grusch.
A persistência de Moulton Howe em apoiar conteúdo comprovadamente falso coloca em dúvida sua credibilidade e seus princípios jornalísticos.
Ela exemplifica uma tendência preocupante de o sensacionalismo e as crenças preexistentes se sobreporem aos fatos e às evidências dentro de elementos da comunidade de pesquisa sobre OVNIs. Alegações não verificadas de fontes anônimas não podem ser levadas ao pé da letra sem uma verificação rigorosa.
A verdadeira investigação exige uma disposição honesta para reconhecer fraudes e erros quando identificados. Como mostra este caso, uma obra de arte digital elaborada pode ser facilmente interpretada como realidade sem a devida diligência.
Os pesquisadores de OVNIs têm a responsabilidade de tomar cuidado para não serem enganados ou propagarem ficções.
Para complementar suas imagens fictícias de autópsias alienígenas, o artista Philippe Kling David também criou uma elaborada história de fundo em seu blog em uma série intitulada “O relato de um MIB“.
Essa narrativa fictícia é escrita como um relato em primeira pessoa de um homem recrutado para trabalhar em um grupo brasileiro secreto que obtém objetos e entidades extraterrestres.
Nesse conto imaginário, o narrador afirma ter passado mais de dez anos em uma unidade militar secreta investigando OVNIs e colaborando com o fenômeno com grupos semelhantes de nações como EUA, Rússia e Israel. De acordo com a história, o Brasil tem tratados secretos com esses grupos estrangeiros.
As entradas do blog descrevem um incidente ocorrido em 15 de março de 2007 perto de Tasso Fragoso, na região do Maranhão, onde o grupo secreto supostamente impediu a decolagem de um pequeno OVNI em forma de sino. Isso se alinha e visa validar imagens duvidosas separadas de supostas naves em forma de sino que Howe promoveu.
Embora inventivo, esse elaborado relato fictício de blog não deve ser interpretado erroneamente como uma exposição genuína de informações privilegiadas ou como uma evidência que apóia a hipótese extraterrestre.
O blogueiro tinha a intenção explícita de criar um cenário imersivo de ficção científica para suas representações artísticas de autópsias alienígenas. Os pesquisadores devem ser cautelosos em relação a alegações que não podem ser verificadas, apesar de seu toque dramático.
A série fictícia de blogs criada em torno das imagens falsas de autópsia alienígena tece uma narrativa elaborada sobre um suposto grupo brasileiro de “Homens de Preto” que secretamente recupera objetos e entidades extraterrestres.
De acordo com a história imaginada, essa unidade secreta recorre a ameaças, subornos e eliminação de pessoas incômodas para manter o sigilo sobre os OVNIs. Entretanto, quando o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso autorizou os Homens de Preto americanos a operar no Brasil, surgiram tensões entre os grupos.
Sentindo-se ameaçados, os Homens de Preto brasileiros supostamente sequestraram uma entidade biológica extraterrestre viva e a esconderam em uma fazenda remota. Eles ameaçaram revelá-la no programa de TV Fantástico se algum agente brasileiro fosse morto, para expor a verdade extraterrestre.
É claro que tudo isso é uma elaborada história de ficção científica fabricada para complementar as imagens fictícias da autópsia alienígena. O blogueiro explica que publicou os trabalhos criativos em seu site para dar um ar de realismo às ameaças do grupo fictício brasileiro MIB de revelar um alienígena.
Embora imaginativas, nenhuma dessas histórias tem qualquer base factual. Elas são reconhecidas por seu criador como uma narrativa inventada, tecida em torno de seus visuais alienígenas fabricados digitalmente.
Dessa forma, as alegações não devem ser interpretadas erroneamente como evidência de visitação extraterrestre ou de um grupo secreto que está recuperando tecnologia alienígena. A ficção criativa não deve ser interpretada erroneamente como revelações factuais.
A história fictícia descreve o extraterrestre supostamente sequestrado, chamado “Juca”, como sendo mantido em uma base subaquática a 7 km de profundidade na costa brasileira, perto da Anomalia do Atlântico Sul. Para tornar isso mais verossímil, foi criado um vídeo encenado em 2014 que se tornou temporariamente viral.
Agora, em 2023, essa farsa admitida ressurgiu e recuperou a atenção de alguns membros da comunidade OVNI que continuam sendo enganados por histórias e evidências fabricadas. Apesar de o criador reconhecer abertamente a campanha de desinformação em torno de seu alienígena fictício “Juca”, muitos ainda caem nessa narrativa imaginativa de ficção científica anos depois.
Essa situação exemplifica um problema persistente em elementos da ufologia e da pesquisa paranormal, em que o conteúdo falsificado, não importa o quanto tenha sido desmascarado, continua a recircular entre aqueles que estão ansiosos demais para que seja real. As fraudes virais podem perder a proeminência, mas reaparecem ciclicamente entre os pesquisadores céticos.
Como mostra esse caso, até mesmo a desinformação reconhecida pode continuar enganando os incautos. Os pesquisadores de OVNIs devem estar atentos às ficções recicladas e aplicar o pensamento crítico em vez de agir com credibilidade em relação a qualquer coisa que pareça superficialmente convincente. A disposição de reconhecer as fraudes é vital para evitar a perpetuação de falsidades.
Embora os hoaxes de OVNIs sejam comuns on-line, é preocupante quando jornalistas estabelecidos, como Linda Moulton Howe, deixam de verificar adequadamente suas fontes e informações.
Nesse caso, uma pesquisa básica de imagem reversa usando o número de cartão de crédito visível “0035-2007-02” vincula imediatamente as fotos de autópsia alienígena “vazadas” ao site do artista digital original.
No entanto, apesar da facilidade de descobrir as origens fabricadas das imagens, Howe as apresentou como genuínas sem a devida diligência esperada de jornalistas profissionais. Essa propagação de informações falsas por um repórter investigativo premiado com o Emmy regional infelizmente mina a confiança do público e espalha desinformação.
Cabe aos jornalistas e pesquisadores o ônus de autenticar meticulosamente qualquer alegação extraordinária ou mídia obtida de fontes anônimas antes da divulgação pública.
Deixar de identificar fraudes conhecidas e falsificações digitais reflete negativamente na credibilidade de uma pessoa. Isso também demonstra a necessidade contínua de pensamento crítico e escrutínio ao examinar supostas evidências de vida extraterrestre.
Os procedimentos padrão de verificação de fatos poderiam ter evitado prontamente o papel de Howe na recirculação dessa farsa desmentida. Sua falta de responsabilidade por esse erro destaca a necessidade premente de rigor e transparência, especialmente por parte de vozes proeminentes que recebem plataformas públicas para moldar as percepções sobre o fenômeno OVNI.