Estudo revela que humanos dominaram o fogo na Europa 50.000 anos antes do estimado, reescrevendo nossa compreensão da evolução humana.
A utilização do fogo pelos seres humanos na Europa é geralmente datada de aproximadamente 200.000 anos atrás, de acordo com as estimativas existentes. No entanto, um recente estudo baseado na análise geoquímica pode redefinir nossos conhecimentos prévios sobre o assunto.
De acordo com uma pesquisa recente, publicada na revista científica Science Reports e submetida a revisão por pares, os primeiros humanos na Europa já faziam uso do fogo há pelo menos 250.000 anos, um período 50.000 anos anterior ao que se acreditava anteriormente.
Essas descobertas têm o potencial de reconfigurar a nossa compreensão da história da evolução humana, como a conhecemos atualmente.
A importância do fogo na história da humanidade
A utilização do fogo representa uma das inovações mais significativas ao longo da história da humanidade, sendo considerada um marco crucial que possibilitou a ascensão global da espécie humana.
"Desde os primórdios, o Homo sapiens adquiriu, através do processo evolutivo, características distintivas que se destacaram em seu ecossistema. Dentre essas características, destacam-se a alta inteligência e a presença de polegares opositores, permitindo uma manipulação precisa de objetos.
Além disso, o Homo sapiens desenvolveu a habilidade de realizar corridas de longa distância sem interrupções, bem como a capacidade de arremessar projéteis com grande precisão e velocidade, transformando, assim, uma simples pedra em uma arma letal.
Foi por meio do uso do fogo que a humanidade adquiriu a capacidade de se expandir e se estabelecer em novas regiões.
Essa inovação desempenhou um papel fundamental ao permitir que os seres humanos deixassem a África e se adaptassem a ambientes mais frios, uma vez que o fogo fornecia calor e auxiliava na manutenção da temperatura corporal.
Além disso, o fogo era uma ferramenta defensiva que ajudava a afastar possíveis predadores. Além de suas funções primordiais, o uso do fogo também viabilizou a prática da culinária, tornando possível o cozimento dos alimentos.
Essa prática não apenas aumentava o teor calórico das refeições, mas também contribuía para a eliminação de germes presentes na carne crua, prevenindo infecções e promovendo a segurança alimentar.
A utilização do fogo controlado remonta a mais de um milhão de anos na África, representando o primeiro registro conhecido dessa prática.
Fora do continente africano, a evidência mais antiga de uso de fogo controlado foi encontrada no sítio arqueológico de Gesher Benot Ya’aqov, em Israel, com uma datação de aproximadamente 790.000 anos atrás.
No contexto europeu, estudos prévios sugeriam que o uso do fogo foi introduzido há cerca de 200.000 anos. Entretanto, recentes descobertas têm levantado a possibilidade de uma revisão nesse entendimento estabelecido.
Os estudiosos responsáveis por esta pesquisa empreenderam uma investigação no sítio arqueológico Valdocarros II, localizado na Espanha, cuja reputação é reconhecida por abrigar diversas relíquias de grande antiguidade, datadas de centenas de milhares de anos atrás.
Nesse contexto, os cientistas lograram encontrar evidências que não apenas indicavam a ocorrência de queimas intencionais, mas também apontavam para uma organização sistemática dessa prática, tendo em vista a disposição ordenada dos vestígios deixados pelos incêndios.
Essas descobertas suscitam uma importante questão: o que isso significa em termos de nossa compreensão?
De acordo com os resultados deste estudo, foi observado que os resquícios do incêndio estavam dispostos de maneira que cercavam uma área específica. Essa disposição sugere que o fogo pode ter sido utilizado com o intuito de afastar animais ou para o processo de cocção de alimentos.
No entanto, o aspecto de destaque deste estudo reside em sua metodologia. Ao contrário da abordagem comumente adotada, que consiste na análise de vestígios encontrados em antigas habitações, os pesquisadores exploraram o sítio arqueológico de forma diferenciada.
Através dessa abordagem inovadora, foram identificados indícios que corroboram a existência de fogo controlado pelos seres humanos, tais como fragmentos de carvão ou sinais de queima, que representam evidências diretas desse uso ancestral do fogo.
Este estudo, entretanto, adotou uma abordagem distinta, baseando-se na geoquímica, que consiste na investigação da Terra por meio da análise das substâncias químicas presentes em suas rochas e minerais.
Essa metodologia possibilitou a análise do sítio arqueológico por meio de estudos químicos, indo além da mera investigação dos remanescentes físicos.
Tal abordagem apresenta algumas vantagens notáveis. Em particular, algumas dessas evidências podem ter resistido ao passar do tempo de maneira mais duradoura, sobrevivendo ao processo de deterioração.
Isso implica que as informações químicas fornecidas pelas amostras podem oferecer uma visão mais abrangente e preservada dos eventos passados, em comparação com as análises convencionais que se limitam a estudar os vestígios físicos em si.
No entanto, são necessárias investigações adicionais para aprofundar o conhecimento sobre o tema. Através da análise das ferramentas descobertas nas proximidades dessas antigas lareiras, os cientistas podem obter insights sobre o modo como essas ferramentas foram utilizadas em relação ao fogo.
Essa análise detalhada pode contribuir para o fornecimento de informações mais abrangentes sobre períodos remotos da história humana.