Descoberto reservatório de água na Lua em contas de vidro de impacto, segundo estudo da equipe do rover chinês Chang’e.
Pequenas esferas de vidro dispersas pela superfície lunar podem abrigar uma quantidade significativa de água, o que poderia ser fundamental para garantir a sustentabilidade de missões espaciais tripuladas no futuro.
Apesar de nenhum ser humano ter pisado na Lua há mais de 50 anos, a próxima década promete ser repleta de novos desafios e conquistas, incluindo pousos tripulados e a construção de uma estação lunar em órbita. No entanto, a manutenção de uma presença humana permanente no satélite natural da Terra é um desafio que requer soluções criativas e sustentáveis. Nesse sentido, a coleta de água lunar pode ser fundamental para garantir a viabilidade dessas missões, mas onde exatamente encontrá-la?
Uma equipe de cientistas liderada pelo rover chinês Chang’e parece ter encontrado a resposta. De acordo com um novo estudo, há evidências de que água utilizável pode estar presente em toda a superfície da Lua, o que pode ser uma descoberta crucial para o sucesso das futuras expedições lunares.
Durante muito tempo, a Lua foi vista pelos cientistas como uma grande esfera de poeira e rochas sem vida. No entanto, com o avanço da tecnologia e a realização de missões robóticas, essa concepção mudou drasticamente. Afinal, a presença de gelo de água em crateras sombrias foi confirmada e evidências apontam para a sua evaporação quando exposta à luz solar.
"A missão Chang’e 5, que recentemente pousou na superfície lunar, trouxe ainda mais dados surpreendentes sobre esse satélite natural.
Em 2020, a missão Chang’e 5 se tornou um marco histórico para a China ao ser a primeira missão de retorno de amostras lunares realizada pelo país. Durante a missão, 3,7 libras (1,7 kg) de regolito lunar foram coletadas, sendo que parte dessas amostras foi retirada de um metro abaixo da superfície. Ao examinar essas amostras, os pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências identificaram pequenas contas de vidro, formadas por impactos de meteoritos.
A análise da composição química e da estrutura dessas contas de vidro revelou uma descoberta surpreendente: elas podem conter até 0,2% de água em massa. Esse resultado é de grande importância para futuras missões espaciais, pois significa que há uma quantidade significativa de água na Lua, ainda que aprisionada em pequenas esferas de vidro. Os cientistas estimam que entre 300 bilhões e 270 trilhões de quilos de água possam estar presentes nessas contas de vidro em todo o solo lunar. Essa quantidade seria suficiente para encher o lago Tahoe quase duas vezes, considerando o limite superior da estimativa.
Mas como essa água chega até a Lua? O ciclo lunar da água é bastante diferente do da Terra, onde a água cai do céu. No entanto, é mais semelhante do que se pensava anteriormente. O vento solar pode produzir uma “chuva” de prótons, ou núcleos de hidrogênio, que interagem com os minerais lunares e formam moléculas de água.
As contas de vidro de impacto presentes na superfície lunar atuam como uma esponja, absorvendo pequenas quantidades de água do vento solar e retendo-a como um reservatório distribuído. Parte dessa água evapora diariamente à medida que o vento solar continua a reabastecer o reservatório. Como a Lua foi atingida por inúmeros meteoritos ao longo dos anos, há vidro suficiente para manter o ciclo da água em andamento.
As partículas de vidro resultantes de impactos podem ser pequenas, mas são relativamente fáceis de separar do solo lunar. Futuras missões têm potencial para coletar água desse reservatório, o que significa menos massa para ser lançada da Terra. Além disso, esse mecanismo não é exclusivo da Lua. É possível que encontremos água presa em partículas de vidro resultantes de impactos em outros corpos celestes, aguardando para serem coletadas.